terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Tudo de bom pra todos!


2009 já está acabando, graças a Deus. Vou tirar uns dias pra descansar, dar uns mergulhos, pegar um bronze e esquecer este ano que termina. Prometo não demorar. Eu volto logo. E que 2010 seja uma verdadeira explosão de alegrias para todos nós. Até lá!


sábado, 26 de dezembro de 2009

Receita de última hora ou o bacalhau da Célia


Conheço gente que só de ouvir a palavra sogra se arrepia dos pés à cabeça, sente náuseas, muda o humor e o escambau. Eu não. Minha atual sogra, aquela lá do episódio da porta do banco que já postei aqui, é gente boa até dizer chega. Nunca se meteu na minha vida, sempre me tratou muito bem e apesar de termos morado sob o mesmo teto durante quase 7 anos, nunca tivemos um arranca-rabo sequer. Tudo bem que o apartamento era um verdadeiro latifúndio e a gente só se esbarrava na hora das refeições, mas mesmo assim, foram quase 7 anos de convívio pra lá de harmonioso. E, cá pra nós, quem é que nunca ouviu histórias de genros que detestam as sogras ou noras que sofrem nas mãos das mães de seus maridos?


Quem me conhece sabe que eu estou casado pela segunda vez e que a sogra a que me refiro é mãe da minha atual mulher, mas a minha ex-sogra, mãe da minha primeira mulher, também não era de todo ruim. Nunca moramos sob o mesmo teto, é verdade, e acho que se isso tivesse acontecido ou eu ou ela não estaríamos vivos para poder contar esta ou outra história qualquer. Até porque, tanto eu quanto ela somos geniosos, temperamentais e, por que não?, explosivos. Sorte que meu primeiro casamento não durou muito e o tempo fez com que só as boas lembranças ficassem guardadas na memória. Pelo menos na minha. Eram muitas piadas, muita animação, muita alegria, um certo escracho e as gargalhadas, tanto as minhas como as dela, que ecoam na minha cabeça até hoje. Fora os palavrões que aprendi com ela que, juntos, não caberiam neste post. Melhor assim.


Mas já que estou falando só das boas lembranças, esta semana que passou, fiquei na dúvida que tipo de bacalhau eu ia fazer para a ceia do Natal. O com batatas, cebolas e pimentões amarelos e vermelhos já faz parte da tradição e não pode faltar, só que eu queria uma outra receita, uma receita surpresa. Ano passado fiz um com purê e catupiry, que ficou sensacional, mas eu não ia repetir. Foi então que lembrei da Célia, minha ex-sogra, e do bacalhau que ela sempre fazia. Nunca mais esqueço da primeira vez que provei. Foi amor à primeira garfada. Daí que eu não pensei duas vezes e mandei um scrap pra ela via orkut solicitando a tal receita. Ela de pronto me respondeu e mandou a receita pelo meu filho, o número 1, que é seu neto. Como eu sou gente boa pra caramba vou socializar a receita com vocês. Afinal, daqui a poucos dias teremos a festa de Réveillon e quem sabe vocês não se animam a testar uma receita diferente? Eu chamo de "Bacalhau da ex-sogra", mas se vocês quiserem podem chamar de "Bacalhau da Célia" e fica tudo certo. Lá vai:

Ingredientes:

1/2 kg de bacalhau dessalgado e desfiado
1/2 kg de grão de bico (cozido e de molho de véspera)
1 lata de creme de leite com o soro
1 garrafa pequena de leite de côco
1 cebola grande ralada
3 dentes de alho
1 tablete de margarina
queijo ralado

Modo de Fazer:

Bata a cebola e o alho no processador e refogue numa panela funda com a margarina; coloque o bacalhau desfiado e mexa bem; jogue o grão de bico já cozido e escorrido e mexa bem; coloque o leite de côco e o creme de leite (nesta ordem) e espere levantar fervura; arrume tudo num pirex, polvilhe queijo ralado e leve ao forno para dar uma gratinada. Sirva com arroz branco. É fácil de fazer e fica divino. Esperem aí... divino não combina com ex-sogra, né? Então tá. Fica é delicioso mesmo e pronto!

Qualquer dia eu publico aqui a receita de camarão com catupiry que aprendi com ela. Só de lembrar me dá água na boca. Podem me cobrar.

domingo, 20 de dezembro de 2009

Retrospectiva 2009


2009 foi um ano estranho pra caramba. Pelo menos pra mim foi. Resolvi parar de fumar e realmente parei; sempre bebi pouco, mas por conta da Lei Seca bebi menos ainda; abri e fechei uma produtora. Comi demais, malhei de menos e passei boa parte do ano cansado de uns e outros; quase não vi meus amigos, mas fui a São Paulo visitar meu irmão; fiquei sem dinheiro, o que não é novidade, e tive a sensação de que trabalhei em vão; minhas entradas já viraram saídas e ganhei umas rugas de expressão que eu sei que nunca mais vão me abandonar; meu padrinho morreu de repente; o vice-presidente fez não sei quantas operações em sua luta contra um câncer; Dilma é candidata mas está doente; Michel Temer deve ser o vice e eu me pergunto se não devemos ter medo que ele assuma se, por um capricho do destino, a superministra bater as botas, numa reedição da chapa Tancredo x Sarney? Dá-lhe PMDB!

Na tal da COP-15, em Copenhague, o tempo não esquentou. Lá, com os termômetros marcando em média 15 graus negativos, as autoridades responsáveis pelo planeta não conseguiram chegar a um acordo para tentar conter o aquecimento global. Afinal, uns dois graus a mais lá pelo hemisfério norte até que não seria nada mau, eles devem ter pensado. Garanto que se o encontro tivesse acontecido em Bangu, em pleno verão carioca, os caras teriam chegado a um acordo. Por falar em acordo, a guerra no Oriente Médio continua firme e forte. Obama, que assumiu que não é o cara, parece ter assumido de vez seu lado bélico e continuou enviando tropas para o front. Mas não foi ele o Nobel da Paz deste ano? Esquisito esse 2009...

A crise veio e não foi só marolinha. Tudo bem que poderia ter sido muito pior e em alguns lugares do mundo foi mesmo, mas o desemprego aqui é grande, as boas oportunidades estão cada vez mais raras, a violência estancou de vez, a polícia foi derrubada em plena guerra urbana do Rio de Janeiro, o governador não quer saber de câmeras de vigilância nas viaturas da PM, o prefeito assumiu (ôps) que é xerife _ eu disse xerife! _ e estabeleceu o tal do choque de ordem. Lei Seca. Lei antifumo. Não pode isso. Não pode aquilo. Funk agora é patrimônio cultural. O crack está nas ruas e nas casas de classe média. O Vasco é campeão brasileiro da segunda divisão. Flamengo é hexa, mas há controvérsias. Fluminense se livra do rebaixamento num campeonato que vai ficar para a história. Enquanto os botafoguenses só encontraram o caminho do Engenhão no último jogo da rodada. Não é estranho?

A campanha eleitoral começou mais cedo. O espetáculo do crescimento ainda não deu o ar da graça. Serra não se decide. Aécio não quer ser vice. Marina surge como opção enquanto o Ciro continua destemperado. Dilma está nos palanques Brasil adentro. Lula passou mais de 80 dias fora do Brasil. Veio o Sarcozy com a Carla Bruni; veio o Ahmadinejad com suas polêmicas; Zelaya tirou uns meses de férias na nossa embaixada em Honduras; Chávez curtiu; Lula pelo visto também. Fidel ainda não morreu. Cesare Battisti continua por aqui. Não quer voltar pra Itália onde o Berlusconi perdeu dois dentes mas ganhou popularidade. A do Lula continua na casa dos 85%. A oposição parece que não sabe o que fazer. Nem eu.

Teremos Olimpíadas em 2016, Copa em 2014, mas talvez o mundo acabe em 2012. Antes disso eu pretendo ficar rico, viajar com minha mulher e meus três filhos, ajudar a quem for preciso, rir um bocado, ver bons filmes, curtir um pouco mais os meus pais, agradecer por estar vivo e escrever muitos textos aqui neste blog, que foi uma das coisas mais bacanas deste 2009. Pelo menos pra mim... ou será que você acha isso tudo que eu escrevo esquisito?

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

A rabanada do Natal e a melô do sexo anal


Natal sem rabanadas, pra mim, não é Natal. Ano passado, por incrível que pareça, esqueceram de fazer as danadas das rabanadas e o Natal quase desandou por completo. Tanto que quem tinha ficado de levar as rabanadas do ano passado sequer vai passar o Natal com a gente este ano. Isso pra vocês verem como se leva a sério esse papo de rabanadas lá em casa. São elas e os bolinhos de bacalhau, receita portuguesa legítima da avó da minha mulher, que não podem faltar. Ano passado não comi nem uma coisa nem outra, pois me atrasei e quando consegui chegar no tal Recreio dos Bandeirantes, os bolinhos já tinham acabado. Fiquei na vontade.


Mas o espírito natalino está aí e inspirado nele é que vou dar a receita das danadas das rabanadas. Nesta época parece que nossas lembranças ficam mais aguçadas e daí que eu não tive como não lembrar da minha avó paterna de pé na cozinha da casa de Pilares fritando rabanadas para uma das nossas festas de Natal. Naquele tempo a família era maior. Mais unida. A casa me parecia enorme. Minha bisa era viva e era ela o motivo para se reunir tios e primos de várias gerações. E as rabanadas eram deliciosas. Eu gostava _ e gosto até hoje _ quente, logo após a fritura. Ou então no dia seguinte, no café da manhã. Já estou aqui salivando e engordando só de lembrar. Por isso, se quiserem, anotem a receita. É de família.

Ingredientes:

1 pão de rabanada
1 litro de leite
1 lata de leite condensado
Raspas de limão
6 ovos batidos
Açúcar e canela que bastem
Óleo para fritar

Modo de fazer:

Ferva o leite com as raspas de limão. Depois de morno, junte o leite condensado e misture bem numa tigela. Corte o pão em fatias de uns 2 cm, umedeça-as no leite e passe cada lado nos ovos batidos. Frite as fatias de pão em óleo bem quente até ficarem douradas. Deixe escorrer o excesso de óleo e passe na mistura de açúcar com canela. Depois é so devorar! Engorda? Muito, mas e daí? É Natal, ora bolas!

Pra terminar, vou postar um vídeo que garimpei no Youtube dia desses. É de um comercial que passava na minha infãncia nesta época de Natal e eu adorava. Mais tarde, por pura maldade, virou melô do sexo anal. Mas e daí? A verdade é que ouvi a música sábado no coral do colégio dos meus filhos menores e fiquei na maior nostalgia, pra variar. Espero que vocês gostem tanto quanto eu da música e do comercial e esqueçam o sexo anal, ok? No mais, Feliz Natal pra todos!



segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O futuro, o presente e as coisas que não fazem sentido


Depois de uma semana de intenso calor, o sábado amanheceu preguiçosamente chuvoso. Era dia de levar meu filho, o número dois, ao curso de desenho no Parque Lage e tudo o que eu não queria naquela manhã quase fria era ter de dirigir até o Jardim Botãnico. Mas, como pai e bom incentivador dos dotes artísticos da minha prole, lá fui eu. A mãe não quis nos acompanhar desta vez. Nem o filho número três. O número um ia encarar a prova do ENEM, finalmente. Ele escolheu fazer Direito. A namorada dele parece estar satisfeita _ com e sem trocadilhos, diga-se de passagem. Só me resta aguardar o resultado para saber se terei de morrer numa grana por mais 5 anos para arcar com as despesas de uma faculdade particular. Mas para isso eu já estou me preparando, mesmo que psicologicamente.

O trânsito estava tranquilo e chegamos, eu e número dois, com uns dez minutinhos de atraso apenas. Para minha surpresa a aula iria terminar a uma da tarde e não ao meio-dia, como eu havia pensado. Ligo pra Claudia e aviso que vamos nos atrasar para o almoço. Ligo pro Fred, meu amigo, pra saber se ele topa dar um pulo comigo na casa do Raul, ali perto, pra tomarmos um café e colocarmos o papo em dia. Ele não atende. Nem celular nem em casa. Na casa da Roberta, do Mino e do Gus, que é praticamente no quintal do Parque Lage, todos dormiam. Falei com Josephine. Em inglês. Ela entendeu tudo o que eu disse e eu também entendi tin tin por tin tin o que ela falou. Só não entendi por que acertei apenas 3 questões na prova de inglês do BNDES. Melhor deixar pra lá. Pensei em ligar para o Henrique, mas ele está sem carro e de certo que estaria enrolado com a Gabi. Afinal, era sábado. Raul estava em casa preparando uma carne para assar.

_ Vem pra cá agora, ele disse. A gente toma um café, completou.

Este ano já perdi a conta das vezes em que fui na casa do Raul. Sozinho ou com outros tantos amigos de mesma longa data, é sempre um programa agradável. Neste sábado não foi diferente. Ao sair do elevador a porta do apartamento já me esperava entreaberta. Lá dentro Raul estava terminando de postar no seu blog, www.puxadinhodoraulzinho.blogspot.com, do qual sou seguidor. Por sobre a mesa uma infinidade de livros que ele pretende ler até a data da prova do mestrado, talvez ano que vem. Também penso muito em fazer mestrado. Ele me diz que eu devo encarar. Mas ainda vou pensar mais um pouco. Preciso resolver outras coisas que são prioridade em minha vida.

Antes de passar o café e embalados num papo ótimo, ele me apresentou ao blog de um Ph.D. em comunicação digital e professor da ECA-USP, Luli Radfahrer (http://www.luli.com.br/), e que muito me impressionou. Numa linguagem simples e direta, Luli tece as mais variadas considerações a respeito de design, criatividade digital, tendências e inovação, temas que muito me atraem. Bastou eu citar um projeto que venho desenvolvendo com outro amigo, o Romano, e Raulzito mandou que eu prestasse atenção num vídeo que ele iria me mostrar e que está disponível no blog do Luli. Chamou minha atenção pela visão de futuro e tem mais a ver com design do que com mídias sociais ou qualquer outra coisa que me interesse no momento. Mas as ideias de futuro estão todas lá. Certas ou não. E quem não acompanhar o que está acontecendo agora pode dar adeus ao futuro, pois vai viver o resto de seus dias preso ao passado, ao obsoleto, ao raso e a tudo o que não faz mais sentido.








Depois do vídeo, o café na mesa da cozinha. Atrás de mim um canteiro cheio de brotos de manjericão perfumava levemente o ambiente e o vento fresco daquele final de manhã, regado a uma boa conversa e a certeza de ter bons amigos, me fizeram acreditar ainda mais no que eu quero para o meu futuro. Como diz Luli no seu blog, "o futuro é igual ao presente, tirado dele as coisas que não fazem sentido". E não é de hoje que eu tenho procurado me livrar do que não faz sentido em minha vida.

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

O futuro já começou... na vinheta de 1978!

Hoje li num jornal, acho que no O Globo, uma nota criticando a vinheta de final de ano da Rede Globo que está no ar há mais ou menos uma semana. Dizia que exploraram poucos artistas da casa desta vez e parece que o ritmo do hip hop também não andou agradando. Confesso que eu gostava mais das vinhetas antigas. Mas eu faço o tipo saudosista mesmo e talvez vocês não devam levar em consideração. Mas a verdade é que fui garimpar no Youtube e achei esta preciosidade que resolvi publicar aqui no meu blog. É do final do ano de 1978, o elenco da vênus platinada estava todo, ou quase todo, lá. Da saudosa Dina Sfat à desaparecida Lídia Brondi, gatinha e de biquíni; de Grande Otello a Miéle (ele sempre me lembrou o Minotauro por conta daquela cabeça tamanho família); o casal Tarcísio e Glória, claro, também estava lá. E sem botox, o que é mais bacana! Pra terminar, não deixem de reparar no estilão dos óculos do Chico Anísio. Figuraça! Vale lembrar que eu tinha 9 anos na época... de lá pra cá muitas águas já rolaram nestes 31 anos. Melhor nem lembrar, porque o que vale mesmo é ver esta vinheta outra vez!


segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu também sou filho do Brasil ou O próximo filme do Barretão


Estou há várias semanas ensaiando um texto sobre o filme "Lula, o filho do Brasil", que conta boa parte da vida do nosso Presidente da República. Pensei em escrever sobre o que este filme representaria em termos de campanha política, já que ano que vem teremos eleições e meu receio era de que este filme se transformasse numa espécie de panfleto. Depois pensei em escrever sobre as facilidades que um filme deste deve ter tido para conseguir patrocínio. Pensei também em escrever sobre as facilidades que ele teria na hora da distribuição. Cheguei a esboçar um discurso contra a construção de salas de cinema em cidades do interior do país em conjunto com um tal de Vale-Cultura lançado pelo governo federal. Mas não concluí. Até porque, muito já se falou e vem se falando desde que o filme foi lançado no Festival de Brasília, há pouco mais de 10 dias.
O que me fez mudar de opinião a respeito do que eu poderia vir a escrever foi a coluna do jornalista Arnaldo Bloch no Segundo Caderno do O Globo de sábado, dia 28/11. Praticamente sem pestanejar, fui fisgado por sua clareza de ideias e exatidão nas palavras do início ao fim do texto. Foi ao terminar de ler a coluna que eu pude parar, refletir e entender por que um filme sobre a vida de um presidente que eu ajudei a eleger estava me incomodando tanto. Na verdade não era o filme que me incomodava, mas sim, o que Lula representa hoje. O que me incomoda é no que se transformou aquele homem que nasceu no interior de Pernambuco, que foi para São Paulo com a mãe e os irmãos em busca de novas oportunidades, que virou líder sindicalista, que representou a vontade de milhares de brasileiros contra um sistema que se mostrava demasiadamente desumano, que foi eleito, reeleito e que hoje parece ter passado para o lado de lá sem sequer ter pertencido ou representado o lado de cá.
Mas o filme retrata justamente a fase em que Lula representava a utopia de um país mais justo, sem mensalões, sem propinas, sem negociatas, sem amarras políticas. Retrata nossos ideais mais românticos e mais éticos, quando ainda se podia acreditar que tudo seria diferente e não a decepção de se saber tudo farinha do mesmo saco, até porque o filme narra a história de Lula desde o seu nascimento até a morte de sua mãe, quando ele tinha 35 anos e estava preso pela ditadura militar em vigor no país. Dia 1 de janeiro o filme entra em cartaz. Com ou sem Vale-Cultura; com ou sem as sei lá quantas salas de cinema no interior do Brasil; panfletário ou não. O certo é que o filme deve ser assistido por milhares de brasileiros e, de acordo com os comentários de quem já teve a oportunidade de assisti-lo, levar às lágrimas também. De certo que vou engrossar o coro.
No mais, acabo de ver na TV o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM, partido da base oposicionista, que foi pego recebendo, junto com secretários do primeiro escalão de seu governo, dinheiro de propina, dizendo que fica até o fim de seu mandato. Ora bolas, por que não ficaria, não é mesmo? Aliás, está aí um bom roteiro para um próximo filme. Vai encarar, Barretão?

sábado, 14 de novembro de 2009

A primeira infância a gente nunca esquece

Tem três coisas que eu me lembro bem da minha primeira infância: a morte do Pixinguinha, um programa que eu adorava chamado "Banana Split e seus Amigos" e a música de abertura do Globinho Supercolorido. A morte do Pixinguinha vale um post só dele e prometo escrever em breve; já o Banana Split, segue um vídeo que acabei de pescar no Youtube, assim como a abertura do Globinho. O tema é de autoria do Marcos Valle. Tomara que os vídeos remetam todos vocês a boas lembranças. Eu estou aqui com meu filho do meio ao meu lado na maior nostalgia!




sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma mulher, muitas histórias e 3 rins


Conheci Tônia numa festa no Lapa Café, a mesma festa que já citei aqui dois ou três posts atrás. Estávamos sentados na mesma mesa sem saber o que pedir para comer, mas certos de que estávamos com fome. No cardápio um tal sanduíche de pizza margueritta que nada mais era do que um pão árabe recheado de muçarela (novas regras, não estranhem), tomates e manjericão. Ela gostou da ideia e embarcou no mesmo pedido que eu. Foi o bastante para iniciarmos um bate-papo descompromissado e carregado no bom humor, por vezes negro, mas sempre bom humor.

O calor estava no auge naquela noite e enquanto minha cerveja preta não chegava ela me contou que aos 18 anos resolveu morar no Senegal. Ficou por lá 3 anos suportando o calor e vivendo as mais exóticas experiências. O calor por lá era tanto _ no Senegal _ que era comum dormirem no chão enrolados em panos molhados. Loucura! Se bem que meu cachorro, o Bem, andou dormindo assim semana passada, eu disse a ela. Até porque, o calor aqui andou mesmo senegalês.

Da África ela rumou para a Suécia, onde conheceu o Gabeira, que até então era apenas o Fernando. Teve um rolo com ele e ficaram amigos até hoje. Fernando, o nosso Gabeira, a ensinou a fazer café e ela o ensinou a fazer arroz integral e a ter uma alimentação mais saudável. O rolo foi apenas um rolo mesmo e não durou muito. Era 1978 ou 1979, ela não soube bem precisar, mas foi na época da Abertura, quando Gabeira, o Fernando, pode voltar ao Brasil e ela rumou para Paris, até porque ela não era asilada política e queria mais era curtir a Europa. Sempre gastando cerca de 10 dólares por dia, ela me disse. Na França ela ficou por mais 1 ano e 8 meses trabalhando com o que aparecesse pela frente. Só não vendi drogas e nem o meu corpinho, de resto fiz de tudo um pouco, afirmou.


Nossos sanduíches chegaram. Frios, diga-se de passagem. A Cerpa que ela havia pedido já estava no fim e ela pediu outra à graçonete. Eu perguntei se a garçonete havia esquecido da minha cerveja preta. Ela me respondeu com um sorriso amarelo e disse que estava indo buscar naquele instante. Tudo bem, nem estava quente e minha sede pouco importava. O papo estava interessante e, na boa, eu nem sou tão fã de cerveja assim. Se a cerveja não aparecesse na mesa dali a instantes eu ia pedir uma soda mesmo, já que o que eu queria era matar a sede. E só.

Tônia voltou ao Brasil no início dos anos 80. Todas aquelas datas me deixaram intrigado com uma coisa: que idade aquela mulher teria? Se na década de 70, quando eu era apenas uma criança, ela ensinou ao Gabeira, então Fernando, a fazer arroz integral, já tinha morado 3 anos no Senegal, depois Suécia, França, isso sem falar em Nova Iorque, onde viveu um tempo antes de ir para a África, que idade aquela mulher teria agora, meu Deus? Fiquei com aquilo na cabeça até que não me contive:

_ Estou intrigado. Que idade você tem?
_ 53, ela respondeu sem a menor cerimônia.

Eu fiquei com cara de paisagem, pois aquela mulher aparentava no máximo uns 40 anos, mas com todas aquelas histórias que ela disse ter vivido ela não poderia mesmo ter a idade que eu estava imaginando. Ela continou dizendo que nunca teve problemas em revelar a idade e que achava a maior frescura das mulheres quando fingem ou escondem a idade que têm. Tônia era daquelas que realmente tinham seus 53 anos bem vividos, com muitas histórias, experiências fantásticas. É produtora. Tinha acabo de produzir o Fashion Rocks e já estava iniciando, mais uma vez, a produção do Vivo Open Air, evento que reúne gente bacana e cinema ao ar livre no Jóquei do Rio de Janeiro. Fez também o Survivor, programa estilo No Limite, gravado na Amazônia há uns anos. Foi lá que conheceu o Rodrigo, meu amigo, e por conta disso acabamos nos conhecendo naquela noite quente em plena Lapa.

Passado algum tempo, depois de eu ter desistido da cerveja preta, ter bebido minha soda e me conformado com uns copos de Cerpa e atento a outras tantas histórias, ela abriu a bolsa e puxou uma caixinha, daquelas de guardar comprimidos. Tirou 3, dos grandes, e engoliu a seco. Mais uma vez minha curiosidade falou mais alto e perguntei o por quê de tanto remédio. Foi aí então que ela me contou uma das histórias mais bacanas que eu já ouvi até hoje. Começou dizendo que as mulheres da suas família morrem cedo. Sua mãe morreu aos 66 e ela achava que não duraria muito mais também não. O pai, se estivesse ali naquele bar com a gente, eu não diria que já tem mais de 70. Mas ela havia puxado à mãe e sua saúde era frágil.

Há cerca de 3 anos fez um transplante renal. Estava na fila fazia anos e na iminência de ter de encarar hemodiálise, o que para ela seria o mesmo que a morte. Exames e mais exames entre os parentes e nada. Nenhum deles era compatível para doação. Pra não deixar a depressão tomar conta, pegou uma grana que tinha de reserva e rumou para Paris. Ficou por lá mais dois meses antes de voltar ao Brasil para começar as sessões de hemodiálise. Desembarcou por aqui dias antes do seu aniversário de 50 anos. Os amigos resolveram fazer uma festa surpresa e no meio desta festa uma amiga vira-se para ela e diz: "o meu rim é teu". Ela pensou se tratar de papo de bêbado e não deu muita atenção ao que amiga dissera até que no dia seguinte a tal amiga telefonou e confirmou o que havia dito na noite anterior. Ela ia ganhar um rim.

Com toda a urgência necessária para um transplante, as duas correram aos exames. Em poucos dias o resultado: tudo certo, era compatível. O rim saudável da amiga era o melhor presente que ela poderia ganhar nesta vida. A operação foi um verdadeiro sucesso e hoje ela vive com 3 rins. Os dois originais de fábrica não servem pra nada, mas estão lá guardadinhos. Já o que ela ganhou de presente, filtra tudo direitinho e permite que ela seja essa mulher espontânea que eu conheci numa noite quente num bar da Lapa e que continua a contar suas histórias por aí. Antes de nos despedirmos ela me confidenciou que seu sonho é montar uma banca de mixirica, nossa famosa tangerina, na beira de uma estrada qualquer, já que para todo profissional liberal a aposentadoria não passa de um sonho. Afinal, ela já estava cansada desta vida de produzir isso ou aquilo e já estava ficando velha. Disse a ela que assim que eu ganhar na mega sena compro não apenas uma banquinha, mas um hortifruti pra ela tomar conta e viver feliz para sempre. Porque ela merece.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gaiola das Popozudas e outras preciosidades


Há quase dois anos eu estava em pleno processo de seleção para trabalhar no Sistema Globo de Rádio. A vaga era para produção de eventos e meu perfil parecia o ideal, de acordo com a pessoa que me indicou, e também, de acordo com as pessoas que me entrevistaram. Até porque, entre tantos outros candidatos, fui aprovado para a vaga e no primeiro dia últil de 2008 lá estava eu, na porta da Rádio, antes do horário combinado, ansioso para começar a trabalhar. Encontrei logo com aquela que seria minha chefe, que me pareceu gente boa, apesar da cara de poucos amigos. Alguma coisa fez com me identificasse com ela. Acho que o jeito fechadão, sério, meio frio até, o que pra mim era sinônimo de uma enorme timidez.
O certo é que ali começava meu martírio. Quem me conhece sabe que eu detesto funk, pagode, sertanejo ou qualquer outra coisa do gênero. Não que eu seja elitista, muito pelo contrário. Pelo menos eu não me vejo desta forma. Acho que eu sou pop pra caramba e minha juventude teve como trilha sonora Lulu Santos, Lobão, Metrô, Rádio Táxi, Kid Abelha, Léo Jaime, além dos clássicos da boa e velha MPB, claro. Tinha também Pink Floyd, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Smiths, REM, The Cure e, mais recentemente, Radiohead, Coldplay, Beirut, Fleet Foxes, Céu, Maria Gadu... mas Belo, Suíngue Simpatia, Só Pra Contrariar, isso nunca! Então, cair dentro de uma rádio popular, foi o mesmo que mergulhar num abismo, num poço sem fundo, onde por mais que eu me esforçasse não conseguia fazer com que aquele tipo de música e de estilo de vida se adequasse ao que eu considerava normal ou aceitável. Na verdade eu nunca entendi e não entendo até hoje como uma rádio, com tamanha audiência, se prestava àquele papel. No meu entender aquilo tudo, aquela estética e aquele modo de pensar o gosto popular era muito rasteiro e um enorme desrespeito com o que é cultura popular de verdade. Ou será que é certo um meio de comunicação tão poderoso como uma rádio nivelar tão baixo assim e subestimar o povo e o que é considerado do povo?
Naquele meu primeiro dia de trabalho fui levado para fazer um tour nas casas de shows que eram parceiras dos programas da rádio, a antiga 98 FM. Era Verônica Costa, a Mãe Loura do Funk pra cá, um tal de Denis DJ, que eu nunca tinha ouvido falar, pra lá, entre outras preciosidades. Naquela noite, numa espécie de batismo, fui parar numa casa de shows no comecinho da Via Dutra, em São João de Meriti, onde a cerveja custava R$ 1,00 e o som que ali tocava não valia nem um centavo. Minha função era ver se as promotoras rebolavam direitinho em cima do palco e se jogavam os brindes na hora certa. Naquele instante eu comecei a achar que a rádio não apenas subestimava a inteligência do povo, mas a minha também.
Um pouco antes do carnaval eu comecei a promover um pagode embaixo do viaduto de Pilares, bairro onde meus pais nasceram, se conheceram, namoraram e viveram até eu completar um ano de idade. Toda sexta-feira, por volta das 22h lá ia eu revisitar minhas origens mas, confesso, era difícil me reconhecer por lá. Fácil era reconhecer a malandragem que ronda a noite carioca e mais uma vez eu me perguntava o que uma rádio daquele porte fazia ali.
Veio carnaval e eu fui escolhido para tomar conta do Terreirão do Samba, em plena Praça Onze. Todas as ações da rádio naquele local eram de minha inteira responsabilidade, desde a colocação do material de merchandising à distribuição dos brindes e tudo mais o que envolvesse promoção. Confesso que no começo fiquei assustado. Era muita gente e muito calor todos os dias. Mas foi animado, pois apesar de eu não gostar nem um pouco do conteúdo do que a rádio tocava nem de nenhum show daqueles que passaram por aquele palco no Terreirão, o pessoal que trabalhava comigo, a equipe da rádio, era muito bacana. Estávamos todos no mesmo barco e talvez por isso mesmo o espírito de união e de amizade prevalescesse sobre todas as outras coisas. Pelo menos no meu entender. E justamente por este motivo aquele carnaval vai ficar para sempre gravado na minha memória.
Depois do carnaval, enfim um trabalho bacana: transmissão ao vivo, via Internet, do programa do Sidney Rezende, direto da Casa de Cultura Laura Alvim, em homenagem ao aniversário da cidade. Convidados como Moacyr Luz, Jaqueline do vôlei, Sérgio Besserman, Perfeito Fortuna, entre outros, além da dinâmica da equipe de jornalismo do Sistema Globo de Rádio, me estimularam a encarar todo aquele trabalho e o desafio de transmitir pela primeira vez um programa de rádio via web tal e qual um talk show, com direito à imagens no site da Rádio CBN. Um marco. Pelo menos pra mim.
Terminado o evento, volto eu pra minha vidinha de pagodes e bailes funks. O último e derradeiro pagode embaixo do viaduto foi com apresentação do cantor Belo. O cara ainda estava cumprindo pena (olha o nível aí) e antes mesmo do show começar fui procurado por uma oficial de justiça que queria proibir o show por conta de uma dívida do artista. Não pensei duas vezes e enrolei a oficial enquanto pude e liguei para o coordenador da rádio. O cara mandou que eu não desse atenção à autoridade e que não deixasse aquilo atrapalhar nada, pois aquele show seria muito lucrativo para a rádio. Bastou ela me dar ordem de prisão para eu liberar tudo, inclusive onde ficava o controle financeiro do evento. Porra, imagina eu ser preso num pagode debaixo de um viaduto por conta de um show de um cantor que eu detesto promovido por uma rádio que confundia o popular com o baixo nível? Em menos de uma hora o coordenador da rádio chegava ao local do evento. Eu estava lá acompanhado da minha cara de poucos amigos. A não ser pela tal da Gracianne, não vi a menor graça naquele show. Minha reputação junto à diretoria do SGR se já não era boa, depois do Belo ficou pior. Pra completar, na semana seguinte era a vez de um baile funk com dezenas de convidados do tipo "Gaiola das Popozudas" e "Tati e as Gulosas" numa casa de shows lá pra dentro de São Gonçalo. Era muita gente, muitos ânimos alterados, muito dinheiro rolando e bem no finalzinho, depois de fechado o borderô e o resultado de quanto tinha dado em dinheiro, estancou uma porrada no palco. Eu, que não tinha nada a ver com aquilo, já estava no meu carro, pronto pra ir embora. Foi meu último evento na rádio. Na semana seguinte eu fui demitido.
Hoje, quando ouço som invasivo dos bailes funk nos morros cariocas e fico sabendo que o funk, com todas aquelas letras educativas, foi considerado patrimônio popular, cada vez mais eu penso no por quê de uma rádio como aquela existir. Qual a função de uma rádio? O lucro fácil manipulado pelo que ela considera gosto popular? Ou informar, educar e investir no que de melhor há em termos de cultura? Prometo continuar pensando nisso.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O vazio, a dança, o Bem e outros bichos na minha cabeça.


Perdi a conta dos dias que não dou as caras aqui para escrever minhas bobagens. De vez em quando tenho dessas coisas. Desapareço. Ninguém me encontra. Nem eu. Parece que falta inspiração e a tela em branco do processador de word que praticamente carrego em mim é a última coisa que quero ver na minha frente. São dias em que somos _ eu e o tal processador _ como inimigos mortais, daqueles que um não pode esbarrar no outro. Isso é normal, eu já li por aí. Outro dia mesmo um cara que está lá no meu FB como meu amigo mas, aqui pra nós, nem é, revelou sofrer deste mesmo mal. E olha que o cara é talentoso, tem umas ideias ótimas, carisma, tio famoso e tal, mas sofre da mesma paranóia que eu e muitas vezes se vê impotente diante da obrigatoriedade de criar. Seja esta obrigatoriedade fruto de prazos estabelecidos mediante contratos profissionais ou não. Quantas vezes fui brifado com semanas de antecedência e o briefing lá, martelando na cabeça dias e dias e a danada da ideia só se concretizou praticamente em cima da hora? Criar é o maior estresse. E ter de criar é mais estressante ainda. Atualmente eu não tenho tido a obrigação de criar nada. E nem quero ter. Mandei tudo o que me estressava às favas e no meio disso percebi que eu posso ser muito mais criativo dando novos rumos à minha vida. Ando em busca da metamorfose. Pra ser mais exato estou no olho do furacão de uma. A primeira que não me deixa esquecer da lagarta que um dia eu fui ou que sequer deixarei de ser.
Estou em falta com uns amigos. O Romano é um deles. Temos um projeto valioso em mãos e não tenho encontrado tempo para me dedicar a ele da maneira como deveria. Falta ainda desenvolver pequenos detalhes, uns poucos ajustes mesmo, mas é coisa simples. Eu e ele sabemos disso. Mas por conta desta tal metamorfose resolvi encarar um curso todos os sábados deste mês de novembro. É um curso que se eu quiser realmente me dar bem no final preciso me dedicar bastante, inclusive _ e principalmente, eu diria _ durante os outros dias da semana. Daí que não tem me restado mais tempo para quase nada.
Para completar tem o Bem, um cachorro vira-latas bonitinho pra caramba que meus filhos ganharam mas que eu me apaixonei de cara. Domingo agora faz uma semana que ele chegou. Meu filho mais velho foi quem trouxe. Veio de Cabo Frio. As crianças estão em polvorosa desde então. É um tal de Bem pra cá e Bem pra lá que o pobre do cachorro, quando pode, escapa pra trás de um móvel ou pra um canto na varanda e dorme profundamente. Adora meu pé. Lambe meu dedão com uma categoria que eu vou te contar. Quando os dentes começarem a crescer pra valer é capaz de arrancar minha unha. Vou precisar ter cuidado. Por enquanto quase não come. Bom também que quase não caga. Terça-feira amanhecemos todos no veterinário. Tomou comprimido contra vermes e já está encarando tratamento contra uma otite leve. Ele não gosta nem um pouco quando a gente pinga o líquido dentro de seu ouvido. A gente não gosta nem um pouco de ter de limpar o cerume fedido com cotonetes. É manso até dizer chega. Veio com algumas pulgas que já foram devidamente expulsas. Ainda não latiu. Dorme sozinho na varanda numa boa. Só descobri isso depois de duas noites mal dormidas com ele dentro de casa. Odeio murrinha de cachorro. Hoje dei umas borrifadas de Bom Ar na sala e nos quartos antes de sair.
Fui na abertura do Festival Panorama de Dança ver o Ballet de Lorraine. Bacana. Mas sabe como é espetáculo de dança contemporânea, né? Como bem lembrou meu amigo Raul, é muita malha transparente, fragmentos de música e luz acesa para provocar e/ou constranger a plateia. Mas vale a pena conferir a programação. No site tem tudo, vai lá: http://www.panoramafestival.com/. Depois, uma festinha animada com o povo do festival no Lapa Café, outro lugar que também vale a pena conhecer. Misto de bar, boate e galeria de arte, serve várias marcas de cerveja. Bebi algumas e não paguei caro não. Voltei pra casa de táxi por conta da Lei Seca. Com quantas blitzes eu esbarrei? Nenhuma. No mais, tá um calor senegalês por aqui!

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Poesia é bom e eu gosto

Tem dias que acordo com umas palavras soando em minha mente. Aí eu sento e deixo as palavras soarem com mais clareza pra eu poder ouvi-las e escrevê-las. Quando mais novo usava meu caderno, hoje tenho este blog. O caderno ficava guardado até que um dia eu resolvesse mostrar a alguém o que havia nele. O blog, não. Aqui só não lê o que eu escrevo quem não quer.


Enquanto isso

Corre-me o tempo com a mesma doçura de quando eu era apenas uma criança.
Lava-me a chuva breve tal qual a tarde quente entre tantos outros campos.
Conta-me uma história, daquelas que nos fazem dormir em sonhos de menino.
Livra-me das amarras que me prendem aos encantos de nem saber por que partir.
Deixa-me ficar. Deixa... deixa...

Sinto-me dissolver em brumas leves até que ondas de otimismo invadem minha noite.
Fixo-me nos olhos da penumbra que aquece meu quarto enquanto a infância dorme ao lado.
Largo-me entre as palavras que me soam como o canto que assobia e eu via e ria. Eu cria.
Encanto-me ao ver que o passado já não mais habita em minha mente e eu sigo.

Enfrento-me. Despeço-me. Impeço-me. Desbravo-me.

Enquanto isso me encontro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O episódio da porta do banco


O que vou relatar agora é a mais pura verdade. Quando conto, alguns amigos pensam se tratar de piada, mas apesar da história ser protagonizada por uma portuguesa, juro de pé junto que aconteceu pra valer. Aliás, corro o sério risco de ser banido da família por conta de postar tal acontecimento no meu blog, mas já passei tempo demais contando esta história para apenas uns poucos e bons. Já chega. Tomei a firme decisão de escrevê-la e eternizá-la para que ela ganhe a dimensão devida. Afinal, é uma história e tanto.
Bom... já faz alguns anos e minha sogra chegou em casa depois de um exaustivo dia de trabalho. Encontrei com ela na cozinha e, com o bom humor que lhe é característico, começou a me contar a vergonha que havia passado naquela tarde chuvosa e friorenta de um atípico inverno carioca fora de hora. Como não resisto a um bom papo resolvi sentar, me servir de um suco e prestar mais atenção ao que ela começava a relatar.
Com o sotaque carregado de quem havia acabado de chegar da terrinha ela disparou a falar: "Hoje à tarde fui ao banco". Até aí nada demais, né?, eu pensei. Volta e meia também preciso ir ao banco e, confesso, detesto. Mas aquela ida ao banco da minha sogra tinha um quê especial pelo simples motivo dela nunca ter precisado resolver nada no banco pessoalmente. Ou ela resolve via telefone, via Internet ou alguém resolve por ela. O fato dela ter de ir ao banco era mesmo uma novidade. Ela continou dizendo que estava em frente ao banco por volta das 15h30, quinze minutos antes do combinado com o gerente. Ao entrar travou na porta giratória. É aí que a piada, digo, que a graça da história começa.
_ A senhora pode voltar e se posicionar atrás da linha amarela, por favor, disse o segurança.
_ Pois não, disse minha sogra, voltando-se para atrás da linha amarela.
_ Agora pode vir, disse o segurança. Obediente como ela só, minha sogra foi e travou mais uma vez. Sem que o segurança pedisse ela voltou para atrás da linha amarela e esperou que ele fizesse sinal para que ela andasse para frente. Feito isso, ela travou de novo, já bastante sem graça, meio tonta até e sem entender o por quê de não conseguir ultrapassar os limites da porta giratória.
_ A senhora tem chaves?, perguntou educadamente o segurança.
_ Não, não tenho chaves, respondeu minha sogra, muito séria, de cenho franzido.
_ Então, por favor, volte mais uma vez para atrás da linha amarela, repetiu o segurança. Minha sogra fez o que ele pedia, enquanto uma fila de clientes do banco começava a se formar atrás dela. Ao tentar entrar pela quarta vez a porta giratória travou de novo e mais uma vez o segurança:
_ Tem certeza que a senhora não tem chaves?, indagou ele, desta vez demonstrando certa impaciência. Só que a impaciência que o segurança demonstrou foi o bastante para despertar a ira lusitana da minha sogra que, de pronto, respondeu:
_ Não, não tenho chaves, meu nome é fulana de tal, da empresa tal, tenho uma reunião marcada com o gerente deste banco daqui a 15 minutos e nunca me disseram que eu precisava ter chaves para entrar no banco!
Um silêncio constrangedor tomou conta da entrada do agência do Banco do Brasil naquele momento e por alguns instantes todos se entreolharam até que o segurança resolveu liberar a entrada da minha sogra. Ela entrou, agradeceu e seguiu para a tal reunião sem olhar pra trás. O encontro com o gerente não durou mais que meia hora. Resolveu o que tinha para resolver e voltou ao escritório. Do banco ao escritório são no máximo uns 10 minutos a pé, tempo mais que suficiente para minha sogra ensaiar uma tremenda bronca no office-boy. Até porque, a culpa dela não saber que para entrar naquele banco precisava de chaves era dele, ora pois!
Ao chegar no escritório minha sogra não pestanejou e foi direto falar com o Rafael, o boy:
_ Como é que tu não me avisas que é preciso chaves para entrar no banco?
O pobre do Rafael arregalou os olhos sem entender nada e, na verdade, sequer teve tempo de entender, já que minha sogra disparou a narrar o acontecido. Foi o bastante para que todos no escritório caíssem na gargalhada e o caso da porta do banco virar piada de português. Ou de portuguesa, como queiram!

De lá pra cá não me canso de contar esta história. Ou piada... ai, Jisuis!!

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tamboro no Festival do Rio 2009


Assisti Tamboro pela primeira vez há exatos 4 anos, num telão instalado na sala da casa do cineasta Paulo César Saraceni. Eu trabalhava na produção do Festival de Cinema de Paraty e, naquela manhã, assim que cheguei, Anna Maria, mulher de Saraceni, me pegou pelo braço, me levou até a sala, me fez sentar e disse que eu iria assistir a uma obra-prima. Eu respondi que tinha muita coisa pra fazer por conta do festival e que só poderia ficar ali no máximo uns 15 minutos. Ilusão minha. Sentei e só consegui me levantar do sofá depois do último frame do filme. Fiquei completamente hipnotizado, fascinado, emocionado com o que eu acabara de assistir. Arrependi-me profundamente de não ter aceitado o convite de ficar por lá na noite anterior, quando eles receberam o também cineasta Sérgio Bernardes para jantar e, de quebra, para uma sessão especial de Tamboro, filme que havia consumido mais de dez anos de sua vida e que só agora, final do 2005, ele estava terminando de finalizar. O filme, como o próprio Saraceni disse uma vez, é o que melhor retrata o Brasil desde Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. E eu não esqueço as sensações que Tamboro me causou nem o impacto de ver o Brasil sob a ótica de um homem que sabia como ninguém revelar os segredos, as belezas e as mazelas do seu povo.
No dia seguinte foi a vez do Sérgio aparecer na casa do Saraceni no meio da tarde. Não tive como não reverenciá-lo e ele, naquele gesto humilde e já conhecido por todos de menino tímido, baixou a cabeça e levantou os olhos enormes, como que incrédulo pelo fato de eu ter gostado tanto assim do seu filme. A partir daquele momento ficamos amigos e eu tive o privilégio de conviver com ele e com todas as dificuldades que a vida lhe impôs, diga-se de passagem, durante alguns meses em sua produtora, a ACESA, no Recreio dos Bandeirantes, pra onde eu me despencava todos os dias, feliz da minha vida, para compartilhar sonhos, papos e imagens com aquele que eu considero um dos maiores gênios deste país.
Dono de uma inteligência única, Sérgio era grande em todos os sentidos. Todos os dias, ao chegar, fazia questão de me dar um abraço afetuoso e eu, que não sou pequenininho, sumia entre seus braços, como os filhos somem nos braços de seus pais. Sua generosidade era comovente e o carinho que tinha por sua família, por seus filhos e por seus amigos, deixava escapar uma enorme doçura que eu até hoje tenho como inspiração para muita coisa em minha vida. E em meio a tudo aquilo havia o tesouro que é Tamboro e a angústia de um filme a ser finalizado. Lembro que fiz contato com o pessoal da ANCINE para reorganizar a documentação do filme. Fui lá algumas vezes, sempre bem recebido por todos, e consegui acertar a vida de Tamboro pelo menos um pouquinho. Depois disso passei dois dias em sua casa, em Vargem Grande, formatando um projeto para que o filme pudesse ser finalizado por conta de um edital que nem me lembro mais qual é. Lembro, sim, que chovia muito e tínhamos de estar com o projeto pronto até determinada hora para que o levássemos até uma produtora no Humaitá. Era a chance de Tamboro finalmente sair das ilhas de edição. Corre daqui, ajeita o projeto dali e cada um no seu carro rumo à produtora. Chegamos a tempo, Sérgio, Rosa e eu. Conversamos com quem tínhamos que conversar e de resto era só aguardar. Mas não deu. Ainda não era a hora daquele filme nascer para todos. Sem exceção.
Em junho de 2006 fui fazer mais uma campanha política e me mudei de mala e cuia para São Paulo. Eu e Sérgio nos falávamos por telefone e eu queria porque queria que os marqueteiros da campanha que eu estava fazendo comprassem algumas imagens de arquivo da ACESA, algumas das imagens mais lindas que já tinha visto. Tentei, tentei e nada. Até porque, em campanha política, o que menos interessa é arte. Ou melhor, só o que interessa é a arte da guerra. E de guerra, meu querido Sérgio estava fora. Não era do seu feitio. Quando voltei da campanha em sampa emendei em outros trabalhos, mas a figura do Sérgio estava sempre presente na minha vida. Em março de 2007, meses antes dele partir, meu documentário "Histórias", sobre a oralidade, foi exibido no SESC e Sérgio foi meu convidado para participar de um debate após a exibição. O auditório não estava lotado, mas grande parte dos que ali estiveram foi para ouvir as boas histórias que ele tinha para contar. Na verdade muito pouco interessava o meu filme. E confesso que eu também estava mais interessado no que o Sérgio tinha pra dizer do que em qualquer outra coisa.
Foi a última vez que nos vimos. Foi a última vez que nos abraçamos. Até que numa manhã de julho, o susto ao receber o telefonema de um amigo me avisando da sua morte. Eu estava passando com meu carro em frente à Praça Paris, na Glória, quando recebi a ligação. Fiquei desnorteado, completamente sem rumo, pois na véspera havia combinado com o Rafa, um outro amigo e também fã do Sérgio, de visitá-lo ainda naquela semana em Vargem Grande. Pois eu fui visitá-lo naquele mesmo dia sem acreditar que nunca mais iria conversar ou sequer abraçar aquele meu grande amigo.
Hoje, passado tanto tempo, fico feliz em saber que Tamboro, o filme da sua vida, será exibido no Festival do Rio. Tamboro, que na língua do povo ingaricó, quer dizer "para todos, sem exceção" estará em cartaz dia 05/10, às 17h15, no Cine Odeon. Imperdível.
A foto que ilustra este post é uma das imagens do filme. Uma pequena amostra do que nos aguarda telões mundo afora.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

I´m in love

Já que eu publiquei dois posts hoje, por que não mais um? Afinal, estou apaixonado por esta cantora que vem deixando uma legião de fãs por onde se apresenta. O nome dela? Maria Gadu, claro! A música? Ne me quitte pas, um clássico do repertório francês.

Ovirundum. Ou seria a avó da Vanusa?

Hoje cedo, entre uma legendagem e outra no friozinho da ilha de edição, meu amigo Paulo Siqueira me perguntou se eu sabia que o Hino Nacional tinha letra em sua introdução. Eu respondi que não, não sabia, e olha que no exército, no meu tempo de CPOR/RJ, tive de decorar os mais variados hinos, o que não era nenhum sacrifício pra mim. Considero o nosso Hino Nacional um dos mais bonitos de todos, mas nunca, nunquinha ouvi falar que havia letra em sua introdução, até que o Paulinho me apareceu com esta novidade. "Procura aí no Youtube", ele disse. "Tem uma vovózinha explicando tudo", afirmou. Fui lá. Vi. Revi. Gostei e resolvi publicar aqui no meu blog pra vocês verem também. Não sei se a vovózinha também andou tomando algum remédio ou se tem uma mente pra lá de criativa mesmo, mas que ela explica direitinho e convence com a história da letra desaparecida, isso convence.




segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Durma bem


Tenho andado com uma dor horrorosa na lombar. Acho que é por conta da minha cama. Na verdade, desde que casei com minha atual mulher, tive de mudar alguns hábitos e me adaptar a outros tantos. Assim como ela também teve. Afinal, vida a dois é isso mesmo. Ainda mais quando a gente quer viver feliz para sempre. Um cede de um lado; o outro vai e cede do outro. Acontece que eu cedi na questão colchão quando fomos comprar a cama para o apê novo. Achei que fosse me adaptar a um colchão mais macio do que de costume. Que nada!
Por conta disso, faz quase dois anos que tento mudar a minha posição na hora de dormir. Desde que me entendo eu durmo de bruços e sempre num colchão ortopédico, firme, quase uma tábua. Gosto também de dormir no chão, ainda mais se for verão. Lembro dos tempos de infância e de adolescência na casa dos primos e nas casas de praia onde passava boa parte das minhas férias. A hora de dormir era sempre um capítulo à parte e cada um dava um jeito de arrumar um canto. Fosse onde fosse. Eu curtia dormir no chão e me bastava um colchonete.
Já pensei em adotar esta prática em casa mas confesso que acho a maior sacanagem. Pagamos uma grana na cama, uma queen que tem espaço de sobra pra família acampar sobre ela, para termos conforto na hora de deitar. Não que ela não seja confortável. Pelo contrário. É ótima para assistir televisão, ler os jornais nas manhãs de domingo, tomar café na cama, namorar enrolado no edredon, suar, tirar o edredon, namorar mais um pouquinho, descansar... mas na hora de cair no sono e dormir a noite toda, de ótima ela não tem nada. Pelo menos pra mim, já que minha mulher sempre esteve acostumada a dormir em colchões deste tipo.
Talvez a saída, por ora, seja eu aceitar o rodízio imposto pelos meus filhos mais novos, especialmente o caçula, que disputa comigo um lugar ao lado da mãe dele todas as noites, além de disputar a mãe comigo em quase todos os momentos do dia. O do meio também disputa a atenção da mãe. E acho que ele sai perdendo, pois além de disputar comigo, tem o irmão mais novo e aí, já viu, né? O mais velho mora com a mãe, que é tudo pra ele. Os psicólogos dizem que é assim mesmo e eu, que sou pai de 3 homens, bem sei disso. Além do mais, sou filho, e conheço a fixação que temos por nossas mães. Até determinada idade, claro. Depois vira maluquice.
Que nem um primo do meu pai que dormia com a mãe até os 30 e poucos anos. Casou com uma mulher mais velha, óbvio, que o trata feito um filho e tal. Hoje ele beira os sessenta e acho que ainda não amadureceu. Mas isso não me diz repeito. O que me diz respeito é minha lombar e, como eu ia dizendo, acho que vou topar o rodízio de camas na hora de dormir. A cama do meu caçula é grande e o colchão é ortopédico. Já dormi lá algumas noites e foi ótimo pra minha coluna. Pude dormir de bruços numa boa.
Só não posso adotar isso como norma porque daqui a pouco meus filhos crescem, desaparecem de casa - o que também é normal - e ficamos eu e minha mulher, um em cada cama, sem saber como é dormir juntos de novo. Acho que vou começar a pensar em trocar de cama. Alguém aí quer comprar uma queen box seminova?

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um velho lobo do mar


Há cerca de duas semanas estive em Jurujuba, Niterói, para bater um papo com Arduíno Colassanti a respeito de um projeto que minha produtora vai realizar. O dia estava lindo, de um céu azul cintilante, tal e qual a cor dos olhos daquele senhor já meio franzino e de gestos comedidos que eu tinha o prazer de encontrar. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Arduíno ficou conhecido por ter atuado em vários filmes na época do Cinema Novo. O de maior sucesso foi "Como era gostoso meu francês", de 1970, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, onde interpreta um aventureiro francês capturado por índios Tupinambás e que consegue escapar da morte graças a seus conhecimentos de artilharia.

Um dos responsáveis pela introdução da caça submarina no Brasil e famoso pelas ondas que surfava no Arpoador, Arduíno conta que foi parar no cinema por acaso. Convidado por um amigo para fazer um teste para um filme no início dos anos 60, ele só decidiu entrar no estúdio quando viu a quantidade de atrizes bonitas que também lutavam por um papel na história. De lá pra cá foram mais de 20 filmes e o reconhecimento de ter sido um dos atores mais bonitos do cinema brasileiro. Mas entre a sétima arte e o mergulho, Arduíno tem carinho especial pelo mergulho.

Este ano fez 32 anos que ele chegou a Jurujuba com uma única intenção: consertar a proa de uma embarcação que ele trazia depois de uma viagem ao Maranhão. Encantado com a beleza e a tranquilidade do lugar, na época ainda uma pequena comunidade de pescadores, resolveu ficar. Hoje, passados tantos anos, com as marcas que a idade e a exposição ao sol lhe deixaram na pele, Arduíno leva uma vida simples com a aposentadoria que recebe por conta de ter sido mergulhador durante anos. Trabalhou para a Petrobras e esteve envolvido na instalação das plataformas da Bacia de Campos, Macaé e outras tantas. Como um velho lobo do mar, Arduíno carrega em seu semblante a serenidade dos que encontraram um por quê nesta vida. O bate-papo com ele parece acontecer num ritmo diferente, como se o tempo naquela velha comunidade de pescadores fosse outro, onde os minutos se trasformam em horas e as horas ficam eternizadas nas frases ouvidas em frente ao mar, tendo os contornos da cidade do Rio de Janeiro como cenário ao fundo.

Entre um barco de pesca e outro que chega na praia carregado de peixes, as boas histórias que Arduíno contou. Ruy Castro já havia escrito num de seus livros, mas vale destacar que foi ele quem levou a atriz Brigite Bardot a Búzios, lá pelos idos de 1964. Naquele época Búzios era uma vila de pescadores, paradisíaca e desconhecida. Se hoje tem fama internacional, deve isso a ele. O mergulho foi e continua sendo a sua paixão, mas ele conta com a voz meio embargada que 26 amigos seus morreram por conta desta prática. Imagine só que há 40, 50 anos, mergulhar era um risco sem precedentes. Não se conhecia nada a respeito desta prática. Absolutamente nada. Nem equipamentos existiam. Era o fôlego e só. O resto era improviso. Arduíno e sua turma descobriram e foram aperfeiçoando tudo conforme iam mergulhando e se arriscando debaixo dágua. "Conseguia ficar por mais de 3 minutos debaixo dágua sem qualquer tipo de equipamento. Mas foi aos poucos que descobri que no fundo do mar é preciso muita concentração. Porque quanto mais você pensa, mais consome oxigênio", disse ele.

Quanto mais você pensa mais consome oxigênio... desde então acho que eu tenho consumido oxigênio em excesso, porque não consigo parar de pensar nesta frase que ouvi de um velho lobo do mar num dia de céu azul, numa Jurujuba escondida e quase abandonada bem na entrada da Baía de Guanabara.

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Parto sem dor


Tem gente que chora à toa e eu faço bem este tipinho chorão. Tenho pra mim que é de família, pois minha avó Altair era um poço de lágrimas, isso sem falar da minha tia Mercedes, ou tia Nêga para os mais íntimos, que chorava à simples menção da palavra "antigamente". Parecia piada, e nós, os sobrinhos-netos, por pura sacanagem, fazíamos questão de chegar perto dela e, como quem não queria nada, soltávamos um "e antigamente, tia?". Ela começava a falar e logo enrolava a língua, os olhos ficavam cheios dágua e danava a soluçar. Vai entender, né?
Minha mãe não é e nem nunca foi chorona. Só a vejo chorar quando morre alguém querido e olhe lá. Não que minha mãe seja durona. Longe disso. É das pessoas com o coração mais mole que eu já conheci, daquelas que os com caráter duvidoso adoram passar a perna. Só não é chorona. Quando pequeno lembro dela chorando junto comigo e com meu irmão por conta de um filme triste até dizer chega chamado "Imitação da vida", com a Lana Turner, uma atriz que muitos de vocês nem devem saber de quem se trata. A história? Um dramalhão da década de 50, creio, onde a filha da empregada rejeitava a mãe de todas as maneiras e só se dava conta do amor que sentia por ela no dia em que volta pra casa e encontra a pobre da mãe num caixão, sendo velada. Um horror.
A outra vez que eu lembro de ter visto minha mãe chorar foi no último capítulo da primeira versão de "Pecado Capital" (olha eu aqui entregando minha idade!), novela da Janete Clair, quando o personagem de Francisco Cuoco, Carlão, era assassinado a tiros com uma mala de dinheiro nas mãos. Era o Paulinho da Viola cantando o tema da novela na TV e minha mãe aos prantos na sala. Se não estou enganado meu irmão também chorou. E muito. Já eu não me lembro se chorei. Tenho quase certeza que não.
Resolvi escrever sobre choros e minha mãe porque esta semana estive com uma amiga que teve sua primeira filha ano passado, de parto normal, e ao relatar o parto disse que teve a impressão de ter chorado horrores, de ter gritado um outro tanto, "porque parto normal não é mole não", disse ela. Mas meses mais tarde, ao tomar coragem para ver o vídeo que o marido fez dela parindo, pode constatar que não gritou tanto assim e que o choro mais parecia manha. Esta minha amiga é grandalhona, um mulherão de 1,86m, cadeiruda e engraçada até dizer chega. Disse que se apaixonou pelo anestesista quando, ao final do parto e para aliviar as contrações, ele aplicou nela uma dose de relaxante para que ela tivesse forças para expulsar o bebê sem morrer de dor. Foi o bastante para que ela caísse de amores pelo doutor. Ela disse que os olhos ficaram vidrados no anestesista, tipo amor à primeira vista. "Ou primeira agulhada", eu completei. E tudo com o consentimento do maridão, óbvio.
Foi aí então que eu lembrei da minha mãe, que ficou famosa no Hospital da Polícia Militar em junho de 1971, quando deu à luz meu irmão. Marcelo nasceu com quase 5 quilos, um bebê enorme, ainda mais que saiu da barriga da minha mãe, uma mulher de 1,52m e de quadris estreitos. Ele teve de ser tirado a fórceps, uma espécie de gancho de ferro que enfiavam nas mulheres quando os bebês custavam a sair. Reza a lenda que minha mãe não deu um ai sequer. Nem mesmo quando a enfermeira, uma mulatona gorda, subiu em sua barriga para forçar a saída do meu irmão. Minha mãe, que desde aquela época já devia ser dona de uma fé sem tamanho, conta que fazia força enquanto mordia um pedaço de pano. E só. Ela diz que o meu parto foi mais tranquilo, que eu era um pouco menor que meu irmão e que eu não precisei de fórceps. Saí numa boa. O certo é que tanto num parto quanto no outro ela não fez escândalos, não gritou, não chorou e nem reclamou de nada. Pensavam até que ela tivesse feito curso de parto sem dor. "Que nada!", diz ela, toda orgulhosa. O certo também é que no decorrer desses 40 anos de convívio com a dona Lígia, a minha mãe, nunca ouvi ela reclamar de quase nada. E nem chorar. Não que não tivesse motivos. Mas melhor nem comentar porque daí quem vai começar a chorar sou eu. Até porque minha mãe é forte pra caramba.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Barriguinha cool


Acabei de ler uma notícia no portal do G1 que me deixou mais tranquilo. Na verdade fiquei muito mais aliviado e relaxado, afinal a notícia era a respeito da próxima tendência do verão americano que, de acordo com a coluna assinada pelo editor de moda Guy Trebay, do The New York Times, além de usar bermudas na altura do joelho e camisetas com gola V, quem quiser ser cool vai ter de cultivar uma pancinha. Ou seja, a barriga de tanquinho está mais fora de moda do que nunca. Pra ficar antenado com a moda, só mesmo sendo barrigudo. Ponto pra mim.

De acordo com Guy, "sustentar uma barriguinha é um privilégio masculino antigo, que significa prosperidade em muitas culturas e também representa uma libertação da ansiedade com a imagem do corpo, ansiedade esta que persegue as mulheres desde Eva". Devo admitir que nunca me senti obrigado a exibir um abdômen de tanquinho, mas se eu for analisar mais criteriosamente, com o tanto de tempo que eu perco (?) na academia, acho que no fundo eu sempre alimentei o sonho de virar uma espécie de He-Man do subúrbio.

Mas agora chega. A partir de hoje vou ter o maior orgulho de exibir minha barriga saliente o suficiente para se destacar naquela camiseta de malha bem folgada e provar pra todo mundo que eu não tô nem aí pra esta ditadura metrosexual e fútil que monta sua patrulha nas praias cariocas. Pra melhorar, só falta agora um outro editor qualquer anunciar por aí que os peludos também estão na moda. Vai ser a glória do ursão aqui!

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Para São Judas Tadeu nada é impossível!


Duvido muito que o Lula consiga eleger sua candidata, Dilma Roussef, à Presidência da República. Se eu já estava achando difícil antes, pelo fato dela ser uma completa desconhecida da população e pelo seu jeitão de poucos amigos, hoje, com o carimbo da mentira sujando sua imagem, começo a desconfiar que ela não vença nem mesmo eleição para síndica de condomínio lá pelas bandas de Porto Alegre. Se o todo-poderoso tem um plano B eu não sei nem ninguém ainda sabe, mas um nome forte seria o de Patrus Ananias, ministro do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, e que tem no Bolsa Família sua maior plataforma política. Patrus é de Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do Brasil e conta até mesmo com o respeito e a admiração do governador Aécio Neves, um nome forte da oposição. Mas isso tudo é só suposição. Minha e de mais alguns companheiros com quem estive reunido durante o final da manhã de hoje discutindo temas para um programa que vamos colocar no ar em setembro. O certo mesmo é que estou bem esperançoso com a candidatura de Marina Silva, que chegou em boa hora para agitar ainda mais a sucessão presidencial, isso sim, e também não descarto a possibilidade de votar num candidato de um bloco oposicionista que reúna os ideais de um país mais justo e sem tantos discursos com viés populistas e demagogos. Difícil? Muito. Impossível? Prefiro acreditar que não.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Entre músicas, gravuras e poesias


"As luzes do quarto continuavam acesas enquanto as palavras se despiam. Nuas. Sobre a cama, uma faixa de seda estendida. Entre as mãos, um cheiro suave impregnava tudo. Ao redor. De mim, a delicadeza que nunca encontrei. Nunca. Sequer. Jamais procurei algo assim. Ao redor de mim.
Nem sei onde ficava aquele quarto. Como um quadro torto na parede que eu cismei de ajeitar e nunca mais voltei a perceber. Como a sombra acompanhando tudo eu me encontrava ali. De pé. À espreita, a espiar, sem entender. Bastava ver para querer saber como é que é.
Ela permanecia intacta como se nada ou ninguém pudesse interferir. Ferir como só as mulheres sabem. Sonhar como só os mais ingênuos fazem. Deitar e rolar e sentir que é só deixar e ser feliz. Como da primeira vez eu também me permiti o doce gosto do mel da vida. E para não perder nenhum detalhe foi que eu deixei as luzes do quarto bem acesas.

Até que ela resolvesse apagá-las. Mas eu continuaria ali."

A ilustração deste post é uma gravura de Ray Caesar.
Não conhecia o cara. Conheci através de um blog (http://www.voubuscarocarrasco.blogspot.com/) do qual virei seguidor.
Foi a música do site (http://www.raycaesar.com/) que me inspirou a escrever o que acabo de postar. E, confesso, estava com saudades de experimentar poesias e de escrever no meu blog. Há mais de uma semana não vinha aqui.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Mora na filosofia


Do pouco que eu conheço de filosofia confesso que tenho uma certa implicância com Aristóteles, que foi discípulo de Platão que, por sua vez, foi discípulo de Sócrates. Sei muito bem da importância dos 3, que até hoje influenciam nosso modo de pensar. Principalmente cá pelas bandas do Ocidente. Mas se hoje o conhecimento humano é este conjunto de múltiplas disciplinas, estudadas cada uma por um tipo de especialista, muito se deve a Aristóteles e à sua mania de sair por aí denominando tudo. Numa boa, o cara deve ter sido um dos primeiros a sofrer de TOC - transtorno obsessivo compulsivo.
Lembrei disso no domingo ao final da tarde, na casa do Raul, conversando com Fred e Rodrigo, outros dois amigos, acompanhados de um delicioso doce de banana feito na hora. Por mim, claro. O Rodrigo falava sobre as muitas e já conhecidas manias de seu pai, entre tantas, a de ter tudo organizado no porta-luvas do carro. Não importava se era na Variant azul 1972 ou no Del Rey da década de 90, a gente encontrava desde uma simples lixa de unha - é, o pai do Rodrigo tinha uma coleção de lixas de unha e não me perguntem o por quê - até caixa de ferramentas e sacos de vômito. Tudo devidamente embalado e milimetricamente guardado. E não estou exagerando. Parece que agora, depois de uma certa idade, a coisa piorou. E mais: Rodrigo já se deu conta que também sofre do mesmo mal. "Isso a gente já sabia", retruca Raul.
Aí eu comecei a pensar nas figuras que já cruzaram meu caminho e que, de certo, sofrem de TOC. Ângela, uma amiga da minha mãe, e sua insuportável mania de limpeza; um filho de uma prima e sua paranóia em lavar as mãos o tempo todo; o rei Roberto Carlos e sua infinidade de esquisitices; a ex-secretária da produtora onde minha cunhada Cris trabalhava e seu excesso de preocupação com as agendas de todos os funcionários; uma vizinha do prédio em que eu morava quando solteiro e sua curiosidade interminável pela vida dos outros; uma ex-professora de inglês e sua cobrança absurda por um sotaque perfeitamente britânico; e por aí vai.
Interessante é que num primeiro momento a gente pode até nem se dar conta e mesmo achar engraçadas as manias de um ou de outro, mas depois, com um convívio mais estreito, o que era engraçado fica chato pra caramba. Imagina ter uma pessoa o tempo todo pegando no seu pé por conta de uma poeirinha de nada em cima do móvel ou a irritação de ter ao seu lado uma criança querendo lavar as mãos sem parar? Aí eu paro e penso se também não sofro deste tal de TOC. Se bem que acabo de lembrar da desordem do meu armário e da bagunça das minhas gavetas e não. Definitivamente eu não sofro deste mal. Já o Aristóteles...

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Usando máscaras


Uma das minhas duas sócias é atriz. Na verdade as duas são, só que a outra é mais chegada numa direção do que em qualquer outra coisa. A que se assume atriz 24 horas por dia chegou dia desses com um visual diferente, cabelos cortados e com a tal da escova progressiva que vai lhe garantir cabelos lisos por alguns meses. Ficou ruim não. Bacana até. Mas o mais impressionante foi a mudança de comportamento e mesmo no jeito de se vestir. Eu disse que ela parecia outra mulher e que me fazia lembrar a minha avó materna nas fotos dos anos 20 com aquele cabelinho curtinho alisado. Ela me disse que necessita encarnar personagens diferentes. Sempre. Caso contrário sua vida perde todo o sentido.


Foi aí então que me fez pensar mais uma vez em tudo aquilo que tenho pensado nesses últimos meses. Por que será que a gente precisa estar sempre representando um personagem? Por que será que não nos basta sermos nós mesmos? Por que é tão difícil não usarmos máscaras? Que raio de realidade é esta que resolvemos criar para nós mesmos? Isso tudo dá um nó na minha cabeça, confesso. Ainda mais agora que resolvi atender aos apelos dos mais chegados e estou lendo um livro de autoajuda chamado "Um novo mundo - Despertar de uma nova consciência", de um tal de Eckhart Tolle. O livro é bom pra quem anda numa fase péssima feito eu, quando nada - ou quase nada - parece dar certo; quando os quarenta anos se transformam numa pequena crise; quando as oportunidades parecem sumir; quando o mundo parece ruir; quando tudo está uma merda.


É aí que eu paro e penso qual foi o personagem que encarnei todos estes anos. Ou se não encarnei personagem algum, começo a achar que deveria ter encarnado. Até porque eu vejo que estou sempre rodeado de gente que encarna um personagem atrás do outro e está sempre bem, com suas vidinhas caminhando como elas devem caminhar. Lembro que uma vez uma astróloga, Cristina Tolentino, ao ler meu mapa astral há quase 20 anos, me disse que eu deveria aprender a usar máscaras vez ou outra. Eu achei aquilo esquisito pra caramba, mas com o tempo fui entendendo o que ela quis me dizer. Só não sei se nestes 20 anos que se passaram eu aprendi a usar as tais máscaras. Acho que não. Ou então o personagem que interpreto se faz de cego e banca o bonzinho, o bobo da corte. E eu odeio gente boazinha demais. Na verdade tenho odiado cada vez mais esse tipinho. Será que é isso que tem me deixado insatisfeito comigo mesmo? O fato de descobrir agora, aos 40 anos, que vivi este tempo todo fazendo o papel do bonzinho?

- Senhor diretor, me arruma outro personagem pra eu interpretar nesta história, por favor!


- Que outro personagem? Acho melhor mudar de história, meu camarada!


Corta.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Entornando o caldo


Não sei se vocês sabem, mas eu carrego nas costas cinco campanhas políticas. A primeira foi para a Prefeitura de Mogi das Cruzes, cidadezinha do Alto Tietê, em São Paulo, lá pelos idos de 2004. Depois, em 2006, elegi alguns deputados estaduais e federais, também em São Paulo, e voltei a tempo de me engajar no segundo turno pelo governo do estado do Rio, quando trabalhei para a candidata Denise Frossard. Perdi. Em 2008 comecei fazendo a campanha para a Prefeitura de São Gonçalo, mas logo fui arrebatado para Juiz de Fora, onde, junto com a equipe da Eurofort, elegemos o prefeito numa virada histórica. Durante quase todo o primeiro turno estivemos em terceiro lugar, mas com muita garra e determinação conseguimos levar as eleições para o segundo turno, transformando um candidato do PSDB, até então considerado de elite, no candidato mais popular das eleições, derrotando a candidata do PT, que carregava a fama de novidade, de renovação, de ética e tudo mais a que estamos acostumados a ouvir o PT se autointitular. Tudo artimanha do marketing político, podem acreditar.

Entre uma campanha e outra eu invento um documentário pra fazer, um festival de cinema pra produzir, uns curtas-metragens pra dirigir e outros tantos roteiros que um dia podem virar qualquer coisa. Do ano passado pra cá inventei de abrir uma produtora com mais 5 amigos, a Rastros Filmes - http://www.rastrosfilmes.com.br/ - e desde então tenho tentado emplacar algum projeto pra ver se entra alguma grana. Confesso que está difícil, ainda mais com 5 sócios, cada um pensando de uma maneira diferente e sempre com alguma opinião que pode mudar tudo ou empacar tudo de uma hora para outra. Isso cansa. Mas o pior é quando um dos sócios, no caso sócia, se acha a dona da razão e muitas vezes assume uma postura acima do bem e do mal, como se só o que ela pensa deveria prevalecer, só quem ela conhece é gente boa, só depois que ela dá a palavra final é que vale. Na verdade isso tem me dado a maior preguiça, expressão que aprendi com ela, aliás. Até porque eu, que muitas vezes não deixo transparecer de cara, mas também tenho cabelinho nas ventas, fico pra morrer e não tenho deixado as coisas passarem em branco, ou melhor, não tenho concordado com as decisões e as posturas da figura em questão. E é aí que o caldo entorna.

E o caldo entorna também quando abro a porta de casa e vejo estampadas nas primeiras páginas dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo, os que assino, fotos do nosso presidente Lula praticamente nos braços - ou no colo, talvez - de Fernando Collor e Renan Calheiros, além das mais variadas desculpas em favor de Sarney ou de todos os acontecimentos que envergonham e maculam a imagem do Senado Federal. Quem me conhece sabe que eu já fui petista de carteirinha, daqueles que andava com uma estrela vermelha pendurada na mochila e discursava a favor do operário que sonhava em um dia chegar à presidência. O episódio do mensalão e as desculpas de Lula dizendo que não sabia de nada serviram para dissolver o sentimento de esperança que eu tinha em ver meu país ser comandado por um cabra do povo, com todo o discurso da moral e da ética, eleito pelo povo, que queria mais moral e mais ética e coisa e tal. Tenho amigos como o Raul, por exemplo, que ainda acreditam no Lula, e dizem que governar é assim mesmo e que quem está no poder tem de fazer suas concessões. Alto lá. Toda e qualquer concessão tem lá seu limite. Eu até concordo que a vida esteja um pouco melhor para os menos favorecidos. Basta viajarmos pelo interior do nosso Brasil para vermos as melhorias. Mas nem por isso posso achar que o bolsa isso ou bolsa aquilo seja o antídoto pra todo o mal brasileiro. Muito pelo contrário. Ou se dá o peixe ou se ensina a pescar, não é não? E eu não tenho visto ninguém por aí ensinando a pescar nada. E também não posso concordar com a arrogância e o ar de superioridade daquele que se considera o nosso líder.

Eu não gosto de ter líderes e também nunca tive um ídolo sequer. Sou daqueles que acredita em criação coletiva, em parcerias, em igualdade de expressão. Pode parecer utopia mas é de verdade. E quando esbarro com arrogância e falta de humildade fico com a maior preguiça. E isso vale tanto para presidentes como para sócios, sabe?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

O caldo é verde


Fui num casamento sexta-feira e encontrei com a Lena, uma prima da minha mulher, que disse que sempre lê meu blog. Eu acredito. Até porque, ela engrossa o coro dos meus 20 seguidores. Papo vai, papo vem, ela aproveitou para reclamar que no meu blog, cujo título é "Eu sei cozinhar", o que menos tem é receita. Respondi que logo no primeiro post eu deixava claro que não tinha a intenção de ser nenhum José Hugo Celidônio ou de me transformar num chef de cozinha de renome internacional. Longe disso. Eu só queria um espaço para poder publicar minhas histórias e o nome do blog é só pelo simples fato de eu saber cozinhar. E ponto.

Mas já que a Lena perguntou pelas receitas _ umas outras tantas pessoas também têm perguntado_, vou aproveitar a frente fria que baixou na cidade pra publicar uma receita fácil pacas pra esquentar a temperatura. Ou o clima, se for o caso. Trata-se de um caldo verde. Confesso que até pouco tempo atrás eu achava que fazer caldo verde dava o maior trabalho. Que nada! Coisa simples, rápida de se fazer e que fica uma delícia.

Ingredientes:

1 molho de couve manteiga
4 batatas grandes
1 cebola grande
2 dentes de alho
1 paio cortado em fatias finas
Azeite
Sal e pimenta a gosto

Modo de Fazer

Descasque as batatas, a cebola e os dentes de alho. Coloque numa panela, cubra com água e leve ao fogo com um fio de azeite. Enquanto isso, fatie a couve bem fininha e reserve. Quando a batata estiver cozida (espete com um garfo) desligue o fogo. Espere esfriar uns cinco minutinhos e bata tudo no liquidificador. Depois de batido, volte o creme de batatas para a panela e junte a couve e o paio fatiados. Deixe ferver por mais 10 minutos e mande ver. Se não se ligar com esse papo de calorias, acompanhe com umas torradinhas. Esta receita rende umas 6 porções.

Se quiser variar, ao invés de couve você pode colocar alho poró ou agrião ou aspargos ou mais o que a sua imaginação mandar. Neste caso, dispense o paio. Ou não.

Bom apetite.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ninguém é o que é ou O fantasma de Eva Klabin


"Ninguém é o que é, todo mundo está só sendo alguma coisa" foi o que ouvi de um amigo meu ontem à tarde. Ele se referia às pessoas que conheceu durante os seis meses em que morou em Londres, onde a febre de ter de fazer dinheiro é a doença que afasta cada um de seu cada um. Ele me contou também que conheceu muita gente com talento para ser muita coisa, mas que para sobreviver faziam mesmo era qualquer coisa. Afinal, estavam em Londres e Londres não é qualquer lugar do mundo. É a terra das princesas e rainhas, do príncipe e sua amante, de Beatles e Rolling Stones, do Radiohead e mais o que nossa mente considerar alternativo ou de vanguarda. Eu tenho a maior vontade de conhecer Londres.


Este meu amigo me disse ainda que passar uma temporada em Londres é como passar pelo purgatório e que se você sobrevive àquela selva sua vida nunca mais será a mesma depois. É como um estágio, ele disse. Um estágio que eu nunca vou fazer, diga-se de passagem, pois se é pra passar por purgatório, que pelo menos eu esteja perto daqueles que amo, falando a língua que eu domino, pisando em terras que eu conheço. Cada vez mais eu tenho certeza de que não vim parar nesta vida pra resolver minhas questões longe de tudo aquilo que tenho como referência. E aqui não há um tom de crítica a quem escolhe ou se vê obrigado a escolher viver num outro país. Acho que se eu não tivesse me casado tão cedo também encararia uma aventura destas. Hoje, aos 40 anos e com 3 filhos, não mais. Quero, sim, conhecer Londres, visitar a Tate Modern, os pubs, passear em Candem Town e procurar saber se é verdade que o Reino é unido. E só. Até porque, em termos de vanguarda e produção artística, hoje em dia vejo mais Berlim como pólo cultural do que qualquer outra cidade da Europa. E este meu amigo também.

Por falar em vanguarda e produção artística, semana passada estive num evento no Cine Glória chamado Capacete, que a cada 15 dias reúne alguns artistas plásticos para conversarem a respeito de suas produções e de seus processos criativos. O convidado da noite era o artista plástico Ernesto Neto, de quem eu já conhecia alguma coisa, porém nunca tinha participado de um papo cara a cara com ele. Figuraça, completamente descabelado e amarrotado, Ernesto é daqueles que tem muito o que falar e a plateia fica completamente hipnotizada por ele. Quem estava presente pode ver slides com suas obras e ouvir como aquilo tudo ia surgindo, desde os materiais usados até ao que tinha dado errado. Além da generosidade, que em muito me fez lembrar do meu querido e saudoso amigo Sérgio Bernardes, o bom humor também é peça fundamental na vida do artista. Prova disso foi a história de sua instalação na Fundação Eva Klabin, há 5 ou 6 anos, quando cobriu de lençóis brancos todas as obras de arte existentes na casa por "achar aquilo tudo lá muito careta" e teve a certeza de que o fantasma de Eva Klabin existe e vive nos cômodos da Fundação. Isso porque os seguranças de lá falam dela como se ela estivesse viva, talvez com medo de que ela puxe os pés deles durante os cochilos noturnos.

E enquanto eles cochilam eu continuo querendo ser o que eu sou e não apenas qualquer coisa.
A foto que ilustra este post não é de nenhum fantasma, mas de Eva Klabin ainda jovem. A Fundação que leva seu nome foi criada em 1990, um ano antes do seu falecimento, fica no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Lagoa. Maiores informações no site www.evaklabin.org.br.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Rock with you, Michael!


Juro que eu não queria me ver obrigado a escrever e nem incomodar vocês com mais um texto em menos de uma semana, mas o Michael Jackson morreu. Todos os jornais do mundo, pelo menos os do mundo que eu conheço, estamparam em suas manchetes a notícia da morte do astro pop. Não, eu nunca fui um fã ardoroso do cara e pra dizer a verdade, achava ele esquisito pra caramba. Achava ridículas aquelas roupas cheias de brilho à la Cauby Peixoto, aquelas calças pretas de pregas meio Mickey Mouse, aquele sapatinho com a meia branca, a luvinha, o chapéu, as dancinhas, o vitiligo, a brancura, aquela cara de Latoya, as crianças, a loucura, a doença. Um mito. Um astro. Um gênio.
Eu lembro do Michael Jackson em duas fases da minha vida. A primeira eu era mesmo muito moleque e ouvia uns discos da Motown numa vitrolinha portátil na casa da minha prima Mônica. Lembro que era um som cheio de suíngue, diferente de um tal de Morris Albert que eu era obrigado a ouvir na mesma época, só que na casa da minha madrinha. Mas esta é outra história e aposto que ninguém aqui vai querer saber quem é esse tal de Morris Albert. Ou vai? Os Jackson 5 eram muito melhores, podem ter certeza, e aquele garotinho de cabelo black power me chamava a atenção. Entre todos os irmãos era o mais carismático. Chamou a atenção do mundo todo. Do sistema, inclusive. Mas eu era muito criança.
Anos mais tarde ele rapareceu com seus megassucessos e com seus megaproblemas. Eu já era adolescente e ele devia ter uns vinte e poucos. Ainda era negro. Nariz largo e cabelos enrolados. Usava um terno até que maneiro e se não me engano foi quando veio com Rock with you e Don´t stop till get enough. Ouvi e dancei muito aquele som. Depois Beat it foi outra que curti. Billie Jean eu achava um saco e com Thriller ele me fez prestar mais atenção nos seus clipes. E só.
Toda aquela transformação, toda aquela excentricidade, todas aquelas cirurgias plásticas, as máscaras, as varandas dos hotéis, Neverland, o infantilismo, as dívidas, os processos, os escândalos. E no meio disso tudo Elisabeth Taylor. Achava aquilo muito chato.
Mas não posso negar a genialidade e a importância de Michael Jackson para o mundo da música e para o showbusiness. Hoje li num artigo do jornal A Folha de S.Paulo assinado pelo cantor Paulo Ricardo - ele mesmo - que dizia que Michael morria à medida que perdia sua cor. Tal e qual um fax. Achei bastante interessante. O ex-RPM afirmava que o que o cantor fez depois de Thriller, considerada sua obra-prima, deixou a desejar e ele não resistiu às impiedosas comparações. Talvez Paulo Ricardo tenha autonomia para falar sobre isso. Talvez ele até devesse escrever um livro de auto-ajuda baseado em sua experiência como um astro da música pop. De qualquer maneira agora Inês é morta. E Michal Jackson também.

Rock with you pra mim é um clássico. Volta e meia ponho pra tocar. É daquelas músicas que se Deus, na hora da minha partida, me der a opção de levar um play list, vai comigo.