Nestes últimos dias eu tenho feito coisas que nunca havia feito antes na minha vida. Ainda não comentei com quase ninguém, mas semana passada fui contratado para trabalhar como repórter no Jornal do Commercio, um dos mais antigos do Rio de Janeiro. Talvez vocês não saibam, mas o fato é que eu me formei em jornalismo no começo da década de 90, há quase 20 anos. De lá pra cá dei muitas cabeçadas em dezenas de empregos, mas nunca havia pisado de verdade numa redação, só uma colaboração ou outra numa coluna aqui e outra ali. Nada mais. E não me pergunte o por quê. Não sei se conseguiria responder, mas tenho cá minhas desconfianças de que inconscientemente tentei me afastar da minha verdadeira vocação. Mas foi preciso amadurecer e assumir que o que eu mais gosto de fazer é mesmo escrever. Portanto, se a vida começa de verdade aos 40, eu acabo de nascer para a minha carreira. E o engraçado disso tudo é que nunca tive dúvidas na hora de escolher a minha profissão. Mas daí a entender as voltas que o mundo dá é uma outra história.
Mas como eu disse lá no começo deste post, tenho feito coisas nestes últimos dias que eu nunca havia feito antes. Trabalhar numa redação de um jornal diário é uma e a outra é andar de trem. Isso mesmo, andar de trem. Sempre morei no Méier e sempre convivi com os trilhos da linha férrea, porém nunca precisei ou quis andar de trem. E onde já se viu suburbano que nunca andou de trem? Já estava mais do que na hora de vencer este tabu. Meu pai já tinha me falado das vantagens do trem, como o fato de chegar mais rápido ao centro da cidade, não pegar engarrafamentos, não parar em centenas de pontos, fora o fato de ter vagões com ar condicionado. Mas confesso que não dei muita atenção ao que meu pai me dizia. Foi dia desses, conversando com um vizinho, advogado do BNDES, que prefere deixar seu carro na garagem e vai trabalhar de trem, que fui me dar conta do quanto eu estava sendo preconceituoso. Logo eu, que há uns posts atrás falei de preconceito!
Portanto resolvi encarar os trilhos e debutei num vagão de trem até a estação Central do Brasil no início da tarde de uma segunda-feira calorenta. Devo admitir que me enrolei um pouco, pois achava que era como no Metrô e precisava de bilhete. Mas não. Pelo menos na estação do Méier você paga e passa pela roleta, como se fosse a catraca de um ônibus qualquer. Devo admitir também que fiquei meio desorientado, sem saber de que lado embarcar, com medo de seguir viagem em direção contrária. Mas não. Bastou perguntar em qual plataforma era o embarque para a Central e estava tudo resolvido. O trem chegou rápido. Era o parador, com ar condicionado e vagões civilizadamente tranquilos, muito melhor que qualquer Metrô que a gente vê por aí. Ou por aqui pelo Rio de Janeiro, claro.
Em pouco mais de 20 minutos eu chegava à Central sem uma gota de suor sequer. Bastava apenas atravessar a rua e pegar um ônibus que me deixasse do outro lado do túnel, bem ali atrás da Rua Barão de Tefé. Ou seja, em meia hora eu estava dentro da redação pensando em como é bom experimentar coisas novas nas nossas vidas. E que estas coisas novas me ajudem a colocar minha vida nos trilhos, mesmo que estes trilhos sejam os da Central do Brasil!