segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Um velho lobo do mar


Há cerca de duas semanas estive em Jurujuba, Niterói, para bater um papo com Arduíno Colassanti a respeito de um projeto que minha produtora vai realizar. O dia estava lindo, de um céu azul cintilante, tal e qual a cor dos olhos daquele senhor já meio franzino e de gestos comedidos que eu tinha o prazer de encontrar. Para quem não está ligando o nome à pessoa, Arduíno ficou conhecido por ter atuado em vários filmes na época do Cinema Novo. O de maior sucesso foi "Como era gostoso meu francês", de 1970, dirigido por Nelson Pereira dos Santos, onde interpreta um aventureiro francês capturado por índios Tupinambás e que consegue escapar da morte graças a seus conhecimentos de artilharia.

Um dos responsáveis pela introdução da caça submarina no Brasil e famoso pelas ondas que surfava no Arpoador, Arduíno conta que foi parar no cinema por acaso. Convidado por um amigo para fazer um teste para um filme no início dos anos 60, ele só decidiu entrar no estúdio quando viu a quantidade de atrizes bonitas que também lutavam por um papel na história. De lá pra cá foram mais de 20 filmes e o reconhecimento de ter sido um dos atores mais bonitos do cinema brasileiro. Mas entre a sétima arte e o mergulho, Arduíno tem carinho especial pelo mergulho.

Este ano fez 32 anos que ele chegou a Jurujuba com uma única intenção: consertar a proa de uma embarcação que ele trazia depois de uma viagem ao Maranhão. Encantado com a beleza e a tranquilidade do lugar, na época ainda uma pequena comunidade de pescadores, resolveu ficar. Hoje, passados tantos anos, com as marcas que a idade e a exposição ao sol lhe deixaram na pele, Arduíno leva uma vida simples com a aposentadoria que recebe por conta de ter sido mergulhador durante anos. Trabalhou para a Petrobras e esteve envolvido na instalação das plataformas da Bacia de Campos, Macaé e outras tantas. Como um velho lobo do mar, Arduíno carrega em seu semblante a serenidade dos que encontraram um por quê nesta vida. O bate-papo com ele parece acontecer num ritmo diferente, como se o tempo naquela velha comunidade de pescadores fosse outro, onde os minutos se trasformam em horas e as horas ficam eternizadas nas frases ouvidas em frente ao mar, tendo os contornos da cidade do Rio de Janeiro como cenário ao fundo.

Entre um barco de pesca e outro que chega na praia carregado de peixes, as boas histórias que Arduíno contou. Ruy Castro já havia escrito num de seus livros, mas vale destacar que foi ele quem levou a atriz Brigite Bardot a Búzios, lá pelos idos de 1964. Naquele época Búzios era uma vila de pescadores, paradisíaca e desconhecida. Se hoje tem fama internacional, deve isso a ele. O mergulho foi e continua sendo a sua paixão, mas ele conta com a voz meio embargada que 26 amigos seus morreram por conta desta prática. Imagine só que há 40, 50 anos, mergulhar era um risco sem precedentes. Não se conhecia nada a respeito desta prática. Absolutamente nada. Nem equipamentos existiam. Era o fôlego e só. O resto era improviso. Arduíno e sua turma descobriram e foram aperfeiçoando tudo conforme iam mergulhando e se arriscando debaixo dágua. "Conseguia ficar por mais de 3 minutos debaixo dágua sem qualquer tipo de equipamento. Mas foi aos poucos que descobri que no fundo do mar é preciso muita concentração. Porque quanto mais você pensa, mais consome oxigênio", disse ele.

Quanto mais você pensa mais consome oxigênio... desde então acho que eu tenho consumido oxigênio em excesso, porque não consigo parar de pensar nesta frase que ouvi de um velho lobo do mar num dia de céu azul, numa Jurujuba escondida e quase abandonada bem na entrada da Baía de Guanabara.

Um comentário:

  1. agora que reparei que você é seguidor do seu próprio blog. tsc tsc.

    ps- o Jr e o Cláudio também falam que ficavam 3 minutos sem respirar. esse caboclo aí que era profissa ficava 3... hmmmm

    ResponderExcluir