quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Delírios (ou um breve texto sobre mim)

Leio poesias delirantes em cartas postas sobre a mesa. Minha vida, feito rima, metricamente em versos exposta, me deixando nu entre tantos eus, num constante desalinho. Hoje voltou a chover em boa parte de mim e toda aquela água caindo do céu da minha boca anunciava as boas novas que nunca me esqueci. Ainda sai de meus poros um cheiro bom de terra molhada. Sob meus pés, o barro vermelho, úmido, quente, útero, e daqui a pouco tudo verdinho outra vez. Esperança. Lembro dos tempos em que eu era só uma criança, os olhos de minha avó me servindo de guia, estradas abertas, tantos caminhos e um outro eu ali, sozinho. O menino que um dia fui, o homem que eu não sei se sou. Quantos de mim revelados nessas estrofes? Ninguém sabe e nem nunca vai saber.

O todo é um pronome indefinido.