quarta-feira, 3 de abril de 2013

Chá da tarde



Na falta de algo mais forte para entorpecer e com o preço do tomate nas alturas, do removedor Faísca mais caro que um litro de vinho, e o passe das domésticas valendo mais que o seu, o cara chega em casa e resolve fazer um chá de alecrim, atraído pelas maravilhas recentes que têm sido postadas na web sobre a tal erva inofensiva: alegria, relaxamento, melhora da pressão arterial, sangue mais fino,combate ao diabetes...

O chá tinha gosto de focaccia, aquele pão italiano achatado e furadinho (sem sal grosso e azeite, claro!), e dava pra encarar meio assim assim. Pô, se tem todos esses benefícios, qual o problema de beber uma focaccia?, ele pensava enquanto mandava o líquido quente goela adentro.

Bebeu tudinho, não sobrou nem uma gota na xícara, e ele ficou esperando o resultado. De cara, um arroto. Logo depois, outro. E mais outro. Opa, ele pensou, tá fazendo efeito digestivo! Não demorou muito e deu uma leve tonteira, uma embaçada na visão, um suor frio e o pavor de ter arriado demais a pressão. A coisa foi tão forte que o pobre não conseguiu sequer levantar do sofá, ficou ali apavorado, achando que ia infartar e coisa e tal. Pânico total. Teto preto. Vontade de gritar, de chorar, de chamar pela mãe, até que foi melhorando aos poucos.

Teve forças para levantar o pescoço e olhar pela varanda da sala a chuva que não parava de cair. O vira-latas aos seus pés o encarava como quem dizia: e aí, mané, deu onda? Esboçou um sorriso amarelo ao olhar pro cachorro, lembrando dos tempos em que era adolescente e experimentava uma coisa aqui e outra ali. Saiu do sofá ainda cambaleando e com a nítida impressão que tinha passado da idade pra encarar o que quer que fosse, até mesmo um inocente chazinho de alecrim.

Eu, hein... que onda?!