quinta-feira, 16 de julho de 2009

Entornando o caldo


Não sei se vocês sabem, mas eu carrego nas costas cinco campanhas políticas. A primeira foi para a Prefeitura de Mogi das Cruzes, cidadezinha do Alto Tietê, em São Paulo, lá pelos idos de 2004. Depois, em 2006, elegi alguns deputados estaduais e federais, também em São Paulo, e voltei a tempo de me engajar no segundo turno pelo governo do estado do Rio, quando trabalhei para a candidata Denise Frossard. Perdi. Em 2008 comecei fazendo a campanha para a Prefeitura de São Gonçalo, mas logo fui arrebatado para Juiz de Fora, onde, junto com a equipe da Eurofort, elegemos o prefeito numa virada histórica. Durante quase todo o primeiro turno estivemos em terceiro lugar, mas com muita garra e determinação conseguimos levar as eleições para o segundo turno, transformando um candidato do PSDB, até então considerado de elite, no candidato mais popular das eleições, derrotando a candidata do PT, que carregava a fama de novidade, de renovação, de ética e tudo mais a que estamos acostumados a ouvir o PT se autointitular. Tudo artimanha do marketing político, podem acreditar.

Entre uma campanha e outra eu invento um documentário pra fazer, um festival de cinema pra produzir, uns curtas-metragens pra dirigir e outros tantos roteiros que um dia podem virar qualquer coisa. Do ano passado pra cá inventei de abrir uma produtora com mais 5 amigos, a Rastros Filmes - http://www.rastrosfilmes.com.br/ - e desde então tenho tentado emplacar algum projeto pra ver se entra alguma grana. Confesso que está difícil, ainda mais com 5 sócios, cada um pensando de uma maneira diferente e sempre com alguma opinião que pode mudar tudo ou empacar tudo de uma hora para outra. Isso cansa. Mas o pior é quando um dos sócios, no caso sócia, se acha a dona da razão e muitas vezes assume uma postura acima do bem e do mal, como se só o que ela pensa deveria prevalecer, só quem ela conhece é gente boa, só depois que ela dá a palavra final é que vale. Na verdade isso tem me dado a maior preguiça, expressão que aprendi com ela, aliás. Até porque eu, que muitas vezes não deixo transparecer de cara, mas também tenho cabelinho nas ventas, fico pra morrer e não tenho deixado as coisas passarem em branco, ou melhor, não tenho concordado com as decisões e as posturas da figura em questão. E é aí que o caldo entorna.

E o caldo entorna também quando abro a porta de casa e vejo estampadas nas primeiras páginas dos jornais O Globo e Folha de S.Paulo, os que assino, fotos do nosso presidente Lula praticamente nos braços - ou no colo, talvez - de Fernando Collor e Renan Calheiros, além das mais variadas desculpas em favor de Sarney ou de todos os acontecimentos que envergonham e maculam a imagem do Senado Federal. Quem me conhece sabe que eu já fui petista de carteirinha, daqueles que andava com uma estrela vermelha pendurada na mochila e discursava a favor do operário que sonhava em um dia chegar à presidência. O episódio do mensalão e as desculpas de Lula dizendo que não sabia de nada serviram para dissolver o sentimento de esperança que eu tinha em ver meu país ser comandado por um cabra do povo, com todo o discurso da moral e da ética, eleito pelo povo, que queria mais moral e mais ética e coisa e tal. Tenho amigos como o Raul, por exemplo, que ainda acreditam no Lula, e dizem que governar é assim mesmo e que quem está no poder tem de fazer suas concessões. Alto lá. Toda e qualquer concessão tem lá seu limite. Eu até concordo que a vida esteja um pouco melhor para os menos favorecidos. Basta viajarmos pelo interior do nosso Brasil para vermos as melhorias. Mas nem por isso posso achar que o bolsa isso ou bolsa aquilo seja o antídoto pra todo o mal brasileiro. Muito pelo contrário. Ou se dá o peixe ou se ensina a pescar, não é não? E eu não tenho visto ninguém por aí ensinando a pescar nada. E também não posso concordar com a arrogância e o ar de superioridade daquele que se considera o nosso líder.

Eu não gosto de ter líderes e também nunca tive um ídolo sequer. Sou daqueles que acredita em criação coletiva, em parcerias, em igualdade de expressão. Pode parecer utopia mas é de verdade. E quando esbarro com arrogância e falta de humildade fico com a maior preguiça. E isso vale tanto para presidentes como para sócios, sabe?

4 comentários:

  1. Pois é...há momentos em que, ou entornamos o caldo, ou ele acaba desandando...

    Jundas!

    Henrique

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  2. Cada um tem uma personalidade, mas sociedade em que um se acha chefe é dose. Ô Márcio, o que os outros sócios pensam dessa sócia? Ela é ariana?
    Bjs. (Daniela da Bowne)

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  3. Concessão é uma coisa, dar medalha de mérito para Severino Cavalcante é outra. Claro que o PMDB é importante para o governo, mas defender o Sarney é outra coisa. Precisa abraçar o Collor? Não bastava um aperto de mão sem sorriso?

    O Lula me dá preguiça.

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  4. Fala, Márcio!
    Olha, só prá dizer que acho que nem o Raul mais acredita no lula (com minúscula mesmo, maiúscula é prá quem merece).
    Minha estrelinha vermelha tá guardada, esperando dias melhores - o lula e esse partido que tá hoje no governo não é mais o PT, não...
    Abração e boa sorte,
    LC

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