ele estava só. quando tudo aconteceu ele estava só. o amor, ele perdeu. a vida, ele deixou passar. o que estava bem ali ao lado, ele não viu. não viu ou não quis enxergar. preferiu partir. sozinho. aquela viagem seria só dele, dissera algumas vezes. embora soubesse que seria impossível esquecer tudo o que ficou. por mais que tentasse. tantos momentos felizes, outros nem tanto. carinhos, abraços, sopapos, crises. há muito ele já vivia em crise. desde criança. vai ver por isso ele não tinha a menor saudade da infância. pouco falava. ultimamente sequer saía de casa. já não encontrava mais os amigos. onde eles estavam, os amigos? ele estava tão sozinho.
das ruas ele fez um deserto. apagava as imagens de quem quer que passasse por ele. desviava o foco, perdia a atenção, avançava os sinais, cruzava as avenidas, parava em qualquer lugar, mas nunca, nunca descansava. perdeu o brilho, ele pensava. perdeu a graça, ele repetia. perdeu o sentido, ele sabia. e chovia e chovia e chovia. sem parar, ele dizia que nada mais o interessava, que nada mais servia, que nada mais ele queria. tudo terminava ali. não havia ninguém. no quarto, uma luz acesa. a cama vazia. os pés descalços sobre o chão gelado e o frio que percorria toda a espinha. o vento que batia as portas vinha da varanda. as janelas continuavam fechadas. um silêncio estranho que não existia.
uma, duas, três, quatro horas e nada. ninguém aparecia. não que estivesse esperando alguém pois este alguém não chegaria. ele sabia. ele não estava cansado mas seus olhos não se abriam. não percebia mais se era noite ou se era dia. trocou o fuso, já nem dormia. não enxergava mais, apenas via o resto do que sobrou dele mesmo. o que ele havia conseguido guardar do que fora um dia. só ele podia ver. de certo que não fazia a menor importância. ver para quê? se ele pudesse fazer alguma coisa, ele se multiplicaria. porque ser um só a vida inteira é desperdício, ele achava. bom mesmo é ser muitos e ao mesmo tempo não ser nada, acreditava.
leu todos os versos do drummond, decorou as músicas do vinícius, ouviu tom, caetano, baby, milton, john. escreveu nas paredes, rascunhou na própria pele, desenhou outro cenário, fez tudo o que podia e sabia. estava tudo diferente. mesmo assim as horas não passavam, quiçá os dias, os meses, o ano. um calendário inteiro a percorrer e ele ali, esperando, enquanto suportasse. dia a dia. sem cessar. num movimento interminável, incontrolável, involuntário. como respirar. e pulsar. acelerado e bem devagar. até parar. um dia.
neste dia ele estava sozinho.
das ruas ele fez um deserto. apagava as imagens de quem quer que passasse por ele. desviava o foco, perdia a atenção, avançava os sinais, cruzava as avenidas, parava em qualquer lugar, mas nunca, nunca descansava. perdeu o brilho, ele pensava. perdeu a graça, ele repetia. perdeu o sentido, ele sabia. e chovia e chovia e chovia. sem parar, ele dizia que nada mais o interessava, que nada mais servia, que nada mais ele queria. tudo terminava ali. não havia ninguém. no quarto, uma luz acesa. a cama vazia. os pés descalços sobre o chão gelado e o frio que percorria toda a espinha. o vento que batia as portas vinha da varanda. as janelas continuavam fechadas. um silêncio estranho que não existia.
uma, duas, três, quatro horas e nada. ninguém aparecia. não que estivesse esperando alguém pois este alguém não chegaria. ele sabia. ele não estava cansado mas seus olhos não se abriam. não percebia mais se era noite ou se era dia. trocou o fuso, já nem dormia. não enxergava mais, apenas via o resto do que sobrou dele mesmo. o que ele havia conseguido guardar do que fora um dia. só ele podia ver. de certo que não fazia a menor importância. ver para quê? se ele pudesse fazer alguma coisa, ele se multiplicaria. porque ser um só a vida inteira é desperdício, ele achava. bom mesmo é ser muitos e ao mesmo tempo não ser nada, acreditava.
leu todos os versos do drummond, decorou as músicas do vinícius, ouviu tom, caetano, baby, milton, john. escreveu nas paredes, rascunhou na própria pele, desenhou outro cenário, fez tudo o que podia e sabia. estava tudo diferente. mesmo assim as horas não passavam, quiçá os dias, os meses, o ano. um calendário inteiro a percorrer e ele ali, esperando, enquanto suportasse. dia a dia. sem cessar. num movimento interminável, incontrolável, involuntário. como respirar. e pulsar. acelerado e bem devagar. até parar. um dia.
neste dia ele estava sozinho.