domingo, 25 de dezembro de 2011

Depois que tudo termina

Há algo de único na vida.
Um caminho traçado,
um risco iminente,
o que se faz consciente,
com o que restou do passado,
e o que se quer do presente.


Há algo de lindo na vida.
Uma inquietude perene
feito a saudade que fica
de alguém que se vai para sempre,
ou de brindar aos que chegam,
porque tantos outros ainda estão por vir.


Há os que não querem partir,
há os que se sabem distantes,
os que se fazem ausentes
e desaparecem aos poucos.
Misturam-se na poeira do dia
indiferentemente.


Procuro.
Encontro.
Divido.
Multiplico.
Explico.
Explodo.

É tudo muito rápido na vida.
É como piscar os olhos
Ou estalar os dedos
E quando se vê, tudo escapa.
termina,
acaba,
finda.

Assim é a vida.

Não morro de medo da morte.
Mas quem sabe eu tenha sorte
e me faça imortal, posto que já fui imoral,
rei, réu, vítima, culpado,
testemunha da minha única história,
condenado de um só tribunal?

Há algo de mágico na vida.
Um movimento incessante,
uma amplitude interessante,
que nos inspira e nos renova
e nos recicla e nos refaz e reanima.
O recomeço depois que tudo termina.

Num instante.
Em poucos segundos,
questão de minutos,
horas,
meses,
anos.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Feliz Natal pra você e pra mim

Esta semana li no perfil de um pseudoamigo meu numas destas redes sociais a brilhante frase: "Natal é o momento em que todos são falsos consigo mesmos". Aquele surto de pseudointeligência me chamou a atenção. Confesso que volta e meia publico umas frases meio absurdas, na tentativa de também ser pseudointeligente, mas aquela, em especial, eu li, reli, li mais umas tantas vezes e não entendi muito bem o que ele quis dizer. Ou talvez tenha entendido tudo, sabe-se lá. A verdade é que eu, particularmente, gosto de Natal. Talvez porque ainda tenha filhos pequenos, e agora um neto, e enxergue neles muito do meu passado e das noites de Natal felizes que eu vivi na casa da minha avó Altair na minha mais remota infância, não sei. Só sei que gosto e pronto. Mas reconheço e respeito aqueles que não veem graça nesta data, talvez por considerá-la comercial demais, onde deixa-se de lado o verdadeiro significado do que é a noite de Natal e passa a valer apenas a figura caótica do bom velhinho derretendo dentro da fantasia e toda aquela correria pelos presentes e os shoppings lotados, as filas quilométricas dos supermercados, os preços absurdos e toda aquela gente se esbarrando nas ruas enquanto a juventude se bronzeia na praia lambuzada ao sol de 40 graus e as cariocas cada vez mais gostosas e quase nuas feito as índias de outrora e os marombeiros, os 'legalize', a playboyzada e a rapaziada reunida em cada esquina, sem camisa, um calor danado, o churrasco de final de ano, a cerveja no boteco, a caixinha dos porteiros, o bolão da mega-sena da virada, a saudade apertada daquele que você não encontra mais, a receita do pernil, um bom vinho, o bacalhau, as rabanadas, noite feliz.



Não.



Talvez seja melhor mesmo remoer aquela mágoa que existe entre os entes queridos da sua família e relembrar o incômodo daquele parente distante que só aparece nestas épocas e sempre com o mesmo assunto irritante. Pode ser o tal primo problemático, filho daquela sua tia histérica, viúva rica deslumbrada e que acabou de se mudar para uma mansão lá pelos lados da Barra e que o tempo todo não para de repetir que morre de medo de passar pela Linha Amarela depois das nove da noite e que sabe histórias terríveis de sequestros-relâmpagos com mulheres que dirigem sozinhas, ainda mais com o carro que ela tem agora, um importado coreano, tração nas quatro rodas, câmbio automático, computador de bordo, dvd e entrada usb, seu presente de Natal. Tem também toda aquela obrigação de estar sorrindo e desejando os melhores votos quando na verdade você acha aquilo tudo um saco e quer mais é que tudo se acabe pra você poder ficar sozinho, quieto no seu canto, sem falar nada e sem querer saber de mais ninguém.



Tudo bem.




Eu vou trabalhar neste Natal. Ano passado também trabalhei. Por incrível que pareça, não vou contrariado. Não é novidade para quase ninguém que eu detesto plantão, mas vida de jornalista é assim e eu já meio que me acostumei com toda esta urgência das notícias do dia a dia e de toda a agitação e tensão que é o trabalho numa redação de um grande jornal. O mundo realmente não para e as coisas acontecem a cada instante numa velocidade cada vez mais estonteante, on-line, on time, full time. Não é só porque é noite de Natal que vai ser diferente depois de um ano inteiro entre quedas de ministros, escândalos do governo Dilma, manifestações anticorrupção, faxinas, herança maldita, privatarias, o câncer do Lula, o do meu sogro, a morte da minha tia e também a do Sérgio Britto e do Joãosinho Trinta e da Cesária Évora todos no mesmo dia. Não. Pelo simples fato de ser noite de Natal estarei contente. E não estarei contente por obrigação, não carregarei o meu sorriso largo como um peso, um fardo, uma farsa, porque mesmo que alguma coisa me aborreça, que alguma eventualidade aconteça, vou sair do jornal a tempo de encontrar com algumas das pessoas que eu mais amo porque graças a Deus eu tenho amor para dar e vender e distribuir e semear assim mesmo sem pausa porque seja lá o que for é o que faz a minha vida ter mais sentido mesmo que tudo ao meu redor muitas vezes me diga não.




É o amor que me faz ser verdadeiro e é o amor que eu celebro nas noites de Natal. Não sou um seguidor fiel, puro e casto de religião alguma mas tenho sim minhas crenças e minhas falhas e meus pecados, confesso. Não sou perfeito mas minha fé é inabalável. Tudo vai dar certo no final desde que haja amor, eu penso, e lembro que há dois mil e onze anos nascia um cara que conseguiu decodificar um pouco este sentimento que chamamos amor e até hoje aquilo que ele pregava, as palavras que ele dizia, aquela parte da verdade que ele trazia estão vivos embora algumas vezes o homem pareça não se dar conta e prefira se esconder na falsidade de sentimentos que nada têm de nobres e esquecem e magoam e ferem e matam o amor.



Nas noites de Natal eu não sou falso comigo mesmo, como dizia a tal frase do meu pseudoamigo. Nunca fui. Nas noites de Natal, como nas outras noites do ano, eu sou verdadeiro. Porque eu só quero amor.



Pra você e pra mim.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Diagnóstico

Tudo o que há em mim sangra.
Escorre.
Vaza.
Molha.

Dói o corte abrupto que eu mesmo abri em minha pele.
E me expus carne.
E nervos.
E ossos.

E só.

Eu me esvazio.
Eu me mostro.
Eu falo.
Eu rio.

Eu ainda choro o que não cicatriza da ferida aberta.
É o tipo do mal que não há remédio.
Doença sem cura.
Loucura.

Na certa.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Porque tudo se acaba

Se eu pudesse escrever sobre mim agora, no que penso e vivo exatamente neste momento, ou se eu tivesse o poder de me expressar como fazem os literatos, eu tudo contaria. Mas desconfio que não teria tamanha capacidade nem talento para fazer com que o que eu pense ou diga ou faça seja entendido por quem porventura lesse tal texto. Talvez eu viesse a ser mal interpretado e ficasse suscetível a análises e julgamentos rasos daqueles que acreditam que existe uma fórmula para viver e que a vida nada mais é que uma equação racional. Pode ser até que eles estejam certos, já que creem ser assim, mas eu não creio. Não que eu suponha que a vida para eles seja simples ou rasteira porque sei que não é. Ela pode até ser uma equação, porém irracional e no sentido literal da palavra, ou seja, desprovida de razão. Portanto, nem eu nem eles nem ninguém têm razão. E só o simples fato de eu perceber tamanha irracionalidade na vida me deixa cada vez mais preso à ideia de que não tenho amarras. Eu, longe de qualquer razão, sou livre.



Andei relendo Nietzsche e toda aquela soberba, toda aquela autoconfiança, todo aquele discurso existencialista fizeram com que eu me descobrisse ainda mais inteligente do que eu acreditava ser. Assim como o filófoso alemão, eu sei que sou um ser superior, que tenho dentro de mim todo um potencial infinito de transformação, de criação e de sabedoria. E quando digo que sou um ser superior, não é por falta de humildade ou qualquer coisa que o valha. É por uma simples constatação mesmo. E isso não me torna uma pessoa diferente de ninguém, não faz com que eu mude meus hábitos ou me considere num patamar acima de quem quer que seja. Não é isso. Mas é justamente por ter esta consciência que me diferencio. E me diferencio de mim mesmo, como se eu soubesse onde termina e onde começa aquele que é o outro em mim. Porque na verdade, a diferença maior é com aquele outro eu que eu era há poucos segundos e que eu sequer cheguei a conhecer muito bem. Nem ninguém.



Não sei quantos eu já fui e muito me assusta saber quanto tempo eu perdi tentando ser outros tantos que eu jamais seria. Assim como me assusta saber que mesmo sendo irracional e por este motivo, livre, a vida me impõe alguns limites. Logo eu, que tanto prezo o infinito das coisas, me vejo limitado a um só corpo, preso entre braços e pernas e movimentos lentos e por vezes até coreografados, ensaiados, meio que repetidos à exaustão. Porque mesmo que eu abra bem meus olhos e exercite todo o poder da minha visão, jamais enxergaria nitidamente o que a vida poderia me mostrar em sua plenitude. Daí que me sinto cego, impotente, fraco, humano demais. Mas se fecho meus olhos, aí sim, me enxergo de verdade. É quando vejo o que há de mais bonito e então encontro um amor sem limites, uma vontade sem tamanho, uma alegria imensa que supera a dor de me saber único e solto num ciclo ininterrupto mesmo que lá fora tudo se acabe.




Há um ser infinito dentro de mim.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Preferências

Gosto do sorriso largo daqueles que mostram o siso sem receio,
Dos que gargalham e se encontram imperfeitos por inteiro,
sem medo.
Distancio-me do que fere e reflete a alma cheia de espinhos
que afasta, repulsa, expulsa de mim a alegria
rouba-me dia a dia.
Inquieto, fico em silêncio durante a noite que revela minhas sombras
Até deixar-me sem pudor entre tantas dores
de amores.
Danço conforme a música que eu ouço do samba das meninas
E da falta que me consome o compasso em que tropeço
um gesto em falso.
Um corte que não cicatriza na ferida exposta que ainda sangra,
No talho profundo do que sinto de saudade do que falta
do vazio.
Do oco.
Do eco.
Do louco que reverbera em mim
E grita palavras de ordem desordenadas em frases sem destino,
Buscando o verbo solto entre conjugações perdidas.
Qual a forma mais bonita.
Sonoridade.
Plasticidade.
Estética perfeita
Do amor desfeito entre lençóis e o suor da carne que arde
Por quem queima a brasa dos que se iludem
e jamais esquecem.
E erram.
E não se escondem.
E se entregam com fé
Porque sabem que é preciso vestir a fantasia da vida
e sair por aí.
Despidos de si.