terça-feira, 29 de setembro de 2009

Tamboro no Festival do Rio 2009


Assisti Tamboro pela primeira vez há exatos 4 anos, num telão instalado na sala da casa do cineasta Paulo César Saraceni. Eu trabalhava na produção do Festival de Cinema de Paraty e, naquela manhã, assim que cheguei, Anna Maria, mulher de Saraceni, me pegou pelo braço, me levou até a sala, me fez sentar e disse que eu iria assistir a uma obra-prima. Eu respondi que tinha muita coisa pra fazer por conta do festival e que só poderia ficar ali no máximo uns 15 minutos. Ilusão minha. Sentei e só consegui me levantar do sofá depois do último frame do filme. Fiquei completamente hipnotizado, fascinado, emocionado com o que eu acabara de assistir. Arrependi-me profundamente de não ter aceitado o convite de ficar por lá na noite anterior, quando eles receberam o também cineasta Sérgio Bernardes para jantar e, de quebra, para uma sessão especial de Tamboro, filme que havia consumido mais de dez anos de sua vida e que só agora, final do 2005, ele estava terminando de finalizar. O filme, como o próprio Saraceni disse uma vez, é o que melhor retrata o Brasil desde Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade. E eu não esqueço as sensações que Tamboro me causou nem o impacto de ver o Brasil sob a ótica de um homem que sabia como ninguém revelar os segredos, as belezas e as mazelas do seu povo.
No dia seguinte foi a vez do Sérgio aparecer na casa do Saraceni no meio da tarde. Não tive como não reverenciá-lo e ele, naquele gesto humilde e já conhecido por todos de menino tímido, baixou a cabeça e levantou os olhos enormes, como que incrédulo pelo fato de eu ter gostado tanto assim do seu filme. A partir daquele momento ficamos amigos e eu tive o privilégio de conviver com ele e com todas as dificuldades que a vida lhe impôs, diga-se de passagem, durante alguns meses em sua produtora, a ACESA, no Recreio dos Bandeirantes, pra onde eu me despencava todos os dias, feliz da minha vida, para compartilhar sonhos, papos e imagens com aquele que eu considero um dos maiores gênios deste país.
Dono de uma inteligência única, Sérgio era grande em todos os sentidos. Todos os dias, ao chegar, fazia questão de me dar um abraço afetuoso e eu, que não sou pequenininho, sumia entre seus braços, como os filhos somem nos braços de seus pais. Sua generosidade era comovente e o carinho que tinha por sua família, por seus filhos e por seus amigos, deixava escapar uma enorme doçura que eu até hoje tenho como inspiração para muita coisa em minha vida. E em meio a tudo aquilo havia o tesouro que é Tamboro e a angústia de um filme a ser finalizado. Lembro que fiz contato com o pessoal da ANCINE para reorganizar a documentação do filme. Fui lá algumas vezes, sempre bem recebido por todos, e consegui acertar a vida de Tamboro pelo menos um pouquinho. Depois disso passei dois dias em sua casa, em Vargem Grande, formatando um projeto para que o filme pudesse ser finalizado por conta de um edital que nem me lembro mais qual é. Lembro, sim, que chovia muito e tínhamos de estar com o projeto pronto até determinada hora para que o levássemos até uma produtora no Humaitá. Era a chance de Tamboro finalmente sair das ilhas de edição. Corre daqui, ajeita o projeto dali e cada um no seu carro rumo à produtora. Chegamos a tempo, Sérgio, Rosa e eu. Conversamos com quem tínhamos que conversar e de resto era só aguardar. Mas não deu. Ainda não era a hora daquele filme nascer para todos. Sem exceção.
Em junho de 2006 fui fazer mais uma campanha política e me mudei de mala e cuia para São Paulo. Eu e Sérgio nos falávamos por telefone e eu queria porque queria que os marqueteiros da campanha que eu estava fazendo comprassem algumas imagens de arquivo da ACESA, algumas das imagens mais lindas que já tinha visto. Tentei, tentei e nada. Até porque, em campanha política, o que menos interessa é arte. Ou melhor, só o que interessa é a arte da guerra. E de guerra, meu querido Sérgio estava fora. Não era do seu feitio. Quando voltei da campanha em sampa emendei em outros trabalhos, mas a figura do Sérgio estava sempre presente na minha vida. Em março de 2007, meses antes dele partir, meu documentário "Histórias", sobre a oralidade, foi exibido no SESC e Sérgio foi meu convidado para participar de um debate após a exibição. O auditório não estava lotado, mas grande parte dos que ali estiveram foi para ouvir as boas histórias que ele tinha para contar. Na verdade muito pouco interessava o meu filme. E confesso que eu também estava mais interessado no que o Sérgio tinha pra dizer do que em qualquer outra coisa.
Foi a última vez que nos vimos. Foi a última vez que nos abraçamos. Até que numa manhã de julho, o susto ao receber o telefonema de um amigo me avisando da sua morte. Eu estava passando com meu carro em frente à Praça Paris, na Glória, quando recebi a ligação. Fiquei desnorteado, completamente sem rumo, pois na véspera havia combinado com o Rafa, um outro amigo e também fã do Sérgio, de visitá-lo ainda naquela semana em Vargem Grande. Pois eu fui visitá-lo naquele mesmo dia sem acreditar que nunca mais iria conversar ou sequer abraçar aquele meu grande amigo.
Hoje, passado tanto tempo, fico feliz em saber que Tamboro, o filme da sua vida, será exibido no Festival do Rio. Tamboro, que na língua do povo ingaricó, quer dizer "para todos, sem exceção" estará em cartaz dia 05/10, às 17h15, no Cine Odeon. Imperdível.
A foto que ilustra este post é uma das imagens do filme. Uma pequena amostra do que nos aguarda telões mundo afora.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

I´m in love

Já que eu publiquei dois posts hoje, por que não mais um? Afinal, estou apaixonado por esta cantora que vem deixando uma legião de fãs por onde se apresenta. O nome dela? Maria Gadu, claro! A música? Ne me quitte pas, um clássico do repertório francês.

Ovirundum. Ou seria a avó da Vanusa?

Hoje cedo, entre uma legendagem e outra no friozinho da ilha de edição, meu amigo Paulo Siqueira me perguntou se eu sabia que o Hino Nacional tinha letra em sua introdução. Eu respondi que não, não sabia, e olha que no exército, no meu tempo de CPOR/RJ, tive de decorar os mais variados hinos, o que não era nenhum sacrifício pra mim. Considero o nosso Hino Nacional um dos mais bonitos de todos, mas nunca, nunquinha ouvi falar que havia letra em sua introdução, até que o Paulinho me apareceu com esta novidade. "Procura aí no Youtube", ele disse. "Tem uma vovózinha explicando tudo", afirmou. Fui lá. Vi. Revi. Gostei e resolvi publicar aqui no meu blog pra vocês verem também. Não sei se a vovózinha também andou tomando algum remédio ou se tem uma mente pra lá de criativa mesmo, mas que ela explica direitinho e convence com a história da letra desaparecida, isso convence.




segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Durma bem


Tenho andado com uma dor horrorosa na lombar. Acho que é por conta da minha cama. Na verdade, desde que casei com minha atual mulher, tive de mudar alguns hábitos e me adaptar a outros tantos. Assim como ela também teve. Afinal, vida a dois é isso mesmo. Ainda mais quando a gente quer viver feliz para sempre. Um cede de um lado; o outro vai e cede do outro. Acontece que eu cedi na questão colchão quando fomos comprar a cama para o apê novo. Achei que fosse me adaptar a um colchão mais macio do que de costume. Que nada!
Por conta disso, faz quase dois anos que tento mudar a minha posição na hora de dormir. Desde que me entendo eu durmo de bruços e sempre num colchão ortopédico, firme, quase uma tábua. Gosto também de dormir no chão, ainda mais se for verão. Lembro dos tempos de infância e de adolescência na casa dos primos e nas casas de praia onde passava boa parte das minhas férias. A hora de dormir era sempre um capítulo à parte e cada um dava um jeito de arrumar um canto. Fosse onde fosse. Eu curtia dormir no chão e me bastava um colchonete.
Já pensei em adotar esta prática em casa mas confesso que acho a maior sacanagem. Pagamos uma grana na cama, uma queen que tem espaço de sobra pra família acampar sobre ela, para termos conforto na hora de deitar. Não que ela não seja confortável. Pelo contrário. É ótima para assistir televisão, ler os jornais nas manhãs de domingo, tomar café na cama, namorar enrolado no edredon, suar, tirar o edredon, namorar mais um pouquinho, descansar... mas na hora de cair no sono e dormir a noite toda, de ótima ela não tem nada. Pelo menos pra mim, já que minha mulher sempre esteve acostumada a dormir em colchões deste tipo.
Talvez a saída, por ora, seja eu aceitar o rodízio imposto pelos meus filhos mais novos, especialmente o caçula, que disputa comigo um lugar ao lado da mãe dele todas as noites, além de disputar a mãe comigo em quase todos os momentos do dia. O do meio também disputa a atenção da mãe. E acho que ele sai perdendo, pois além de disputar comigo, tem o irmão mais novo e aí, já viu, né? O mais velho mora com a mãe, que é tudo pra ele. Os psicólogos dizem que é assim mesmo e eu, que sou pai de 3 homens, bem sei disso. Além do mais, sou filho, e conheço a fixação que temos por nossas mães. Até determinada idade, claro. Depois vira maluquice.
Que nem um primo do meu pai que dormia com a mãe até os 30 e poucos anos. Casou com uma mulher mais velha, óbvio, que o trata feito um filho e tal. Hoje ele beira os sessenta e acho que ainda não amadureceu. Mas isso não me diz repeito. O que me diz respeito é minha lombar e, como eu ia dizendo, acho que vou topar o rodízio de camas na hora de dormir. A cama do meu caçula é grande e o colchão é ortopédico. Já dormi lá algumas noites e foi ótimo pra minha coluna. Pude dormir de bruços numa boa.
Só não posso adotar isso como norma porque daqui a pouco meus filhos crescem, desaparecem de casa - o que também é normal - e ficamos eu e minha mulher, um em cada cama, sem saber como é dormir juntos de novo. Acho que vou começar a pensar em trocar de cama. Alguém aí quer comprar uma queen box seminova?