sexta-feira, 26 de novembro de 2010

#rio40caos


Eu estava de plantão no domingo, quando começaram a surgir as notícias dos primeiros ataques do tráfico na cidade. Um carro da aeronáutica tinha sido alvejado na Linha Vermelha e mais dois carros de passeio, incendiados. Para quem chegou na redação achando que o domingo seria mais animado por conta do show do Paul McCartney em São Paulo, ledo engano. A simpatia do velho beatle e a emoção de ouvir aquelas canções eternizadas no coração de uma multidão de fãs foram atropelados violentamente por uma sucessão de notícias cada vez mais sérias. Da Zona Norte à Zona Sul, o clima na cidade outrora maravilhosa era tenso.

O barril de pólvora finalmente havia estourado.

A editoria RIO estava mais movimentada que de costume. Eu, recém-saído de uma eleição presidencial, quando raramente ia para casa antes de uma hora da manhã, não estava achando nada demais naquela agitação toda. Na verdade, eu estava até gostando. É muito ruim plantão aos domingos. Cada hora parece ter o dobro dos minutos. Quase nada acontece. Temos poucas matérias para publicar. O jornal de segunda-feira é pequeno. Um tédio só.

- Puta que pariu!, gritaram lá do fundo da redação.

Washington, jogador do Fluminense, não está numa boa fase. Perdeu um gol feito. Mas tão feito que até eu, que tenho uma relação conflituosa com a pelota, teria marcado aquele gol. Ramona, da ECONOMIA, tricolor fanática, não se conteve e a partir daquele momento parou de escrever e ficou de pé, em frente à TV. Completamente vidrada. Para ela, nada poderia ser mais importante do que aqueles vinte e dois homens em campo. Ela só relaxou quando o São Paulo começou a afrouxar. Com dois jogadores expulsos no time paulistano e com o futebol importado do Conca, o time carioca encostava a mão na taça. Mas não teve muitos motivos para comemorar.

- Arrastão na rua das Laranjeiras!

- Tiroteio na Avenida Brasil!

- Mais dois carros pegando fogo!

Aquelas notícias que não paravam de chegar tinham um apelo muito maior do que a briga pelo campeonato brasileiro. Infelizmente. Se as fotos do carro da aeronáutica cravejado de balas já tinham me deixado impressionado com o atrevimento daqueles marginais, aquela onda de terror começava a me estressar.

Naquela noite eu voltei correndo para casa.

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Confesso que não consigo me lembrar exatamente da cronologia dos fatos e do que aconteceu na segunda, na terça e na quarta-feira. A cada dia que se passava a ousadia dos traficantes revelava não ter limites e a população do Rio de Janeiro fez-se refém. Mesmo que a rotina ainda se fizesse presente, o cidadão carioca, o fluminense, aquele que por aqui é bem acolhido, seja ele de onde for, estava de sobreaviso. Alguma coisa muito ruim estava acontecendo na nossa cidade. E a transmissão era online. On time. Full time.


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Quinta-feira. 10h10. Claudia está atrasada para o trabalho. A faxineira não chegou ainda. A pia está cheia de louça. O balde cheio de roupas. As crianças não escovaram os dentes. Um quer pão, outro quer continuar dormindo.

- Acho que ela não vem, eu disse.

- Quem?

- A filha-da-puta da Andréa. Volta e meia ela faz isso. Não dá para confiar!

Claudia concordou comigo, mas no fundo sabia que eu não ia deixar a casa desarrumada.

Em questão de segundos ficamos só eu e o cachorro. Antes que ele cismasse de marcar território, vesti minha bermuda, escovei meus dentes, peguei a coleira e quando eu já ia saindo, dei de cara com a Andrea, a filha-da-puta, entrando pela porta da cozinha.

- Bom dia, Márcio. Claudia já foi? Tive de ir ao médico antes, ela disse com a cara-de-pau mais saudável do mundo.

- Quer um Targifor? Pela quantidade de louça e de roupa, você é capaz de precisar, ironizei.

- Não. Sou alérgica.
(E debochada, eu pensei.)

11h10. Obrigações matinais com o cão em dia. Calor. O sol resolveu aparecer em meio ao caos. De sunga e com Ó debaixo do braço, vou para a piscina. Uma ducha para aliviar o suor. Uma pausa no noticiário. Uma boa dose de vitamina D. Outras tantas braçadas de uma borda a outra e a certeza de que preciso voltar a me exercitar urgentemente.

13h30. Na Globo News, imagens do caveirão do Bope tentando furar umas barreiras na Vila Cruzeiro. Um caminhão atravessado numa viela impede a passagem dos policiais. Focos de incêndio se espalham pela comunidade. Nas lajes, moradores acenam com panos brancos pedindo paz. Mais de 200 soldados do tráfico cruzam o alto de um morro numa rota de fuga que, não se sabe bem como, os homens do Bope não conseguiram evitar. Apenas um tiro acerta a perna de um dos bandidos. A cidade para para ver.

#rio40caos.

15h45. Rua de Santana. Padaria perto do jornal lotada. Todos ligados na TV, feito final de copa do mundo ou algo parecido. Na redação, o clima é enlouquecedor. Se normalmente já fala-se muito na redação, naquela tarde em especial, o falatório era geral e a certeza era uma só: o Rio de Janeiro estava em guerra.

Se o Palocci ia para a Casa Civil ou o Paulo Bernardo para a Secretaria-Geral da Presidência, pouco importava. Se o Sílvio Santos vai falir, se as ações da Petrobras vão cair ou se a Anac está preocupada com o caos aéreo no final do ano, isso também pouco importava. O Fluminense? Não se ouviu falar mais dele. O que importava era o clima de violência desenfreada que os cariocas estavam vivenciando e a busca frenética pela melhor cobertura jornalística. Mais nada.

Por mais cansativo e tenso que pudesse ser, foi bonito ver aquele mutirão de jornalistas comprometidos com o ofício de informar. Todos, de todas as editorias, deram sua contribuição naquele momento. Histórico, eu diria.

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Em meio a tudo isso, Gus, um amigo meu, publicou numa destas redes sociais que o coronel Nascimento, do filme Tropa de Elite 2, é uma mentira, que ele não existe e que nós, a população da cidade, deveríamos ir para as ruas exigir do Estado que ele faça o seu papel. Eu nunca tive ídolos na minha vida. Nem unzinho sequer. Mas cheguei a pensar que o (tenente-) coronel Nascimento pudesse mesmo se tornar uma espécie de heroi nacional, pois o discurso daquele personagem inserido na história daquele filme tão real é o discurso que trazemos engasgados há décadas. A famosa cena da surra no político corrupto é a catarse de um desejo coletivo.

Não sei se vale a pena ir para as ruas e dar uma surra em cada político que encontrarmos pela frente. Pelo menos por ora não. Pensei num abaixo-assinado pela PAZ, nos mesmo moldes do que fizemos com o Ficha Limpa, mas neste caso teria o mesmo efeito de abraçar uma lagoa.

Enquanto eu penso no que fazer, exército, polícia federal e polícia militar cercam o Complexo do Alemão com um efetivo de quase mil homens para combater não se sabe bem ao certo quantos traficantes. São cerca de 400 mil moradores naquela região. Todos, sem exceção, vítimas do descaso.

Assim como eu e você.

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Ele voltou!

Foram mais de 3 semanas sem computador. Nem sei como consegui sobreviver. Mas ele voltou, e eu também, com a corda toda. Me aguardem!!

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Em manutenção

Acho que devo uma explicação aos meus fiéis (!!) seguidores por conta da ausência de textos nestas últimas semanas. Além da falta de tempo, meu notebook e meu PC resolveram tirar umas férias e... pifaram. Portanto, dependendo do orçamento, volto a escrever por aqui em breve.