Na noite passada ouvi passos apressados bem debaixo da minha janela. Tentei correr pra ver quem era, mas nem sombra restava. Só o vento trazendo a frente fria e arrastando as folhas das árvores no asfalto, feito coreografia de um balé qualquer. No céu, as nuvens fechando o tempo, e dentro daquelas casas só o vazio.
Cerrei as cortinas, tevê ligada na sala, um ator canastrão em cena dizia que o seu maior medo era nunca mais encontrar aqueles que ele amava. Perdi a conta já do tempo que eu não encontro os meus, respondi pra mim mesmo, sem muita paciência para dramas e tentando manter a esperança de que tudo vai dar certo, como aprendi com a minha mãe.
Lembro que eu sentia saudades do mar, água salgada na minha pele, meus pés na areia e do meu corpo flutuar até ser arrastado para muito além da arrebentação. Era quando me faltava o ar no peito carente dos abraços demorados, de poder tocar e sentir o outro bem ali junto a mim, o hálito quente, olho no olho e aquela vontade de estar perto de alguém que me ame de verdade.
Eu me viro bem sozinho, hoje eu sei.