segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Eu também sou filho do Brasil ou O próximo filme do Barretão


Estou há várias semanas ensaiando um texto sobre o filme "Lula, o filho do Brasil", que conta boa parte da vida do nosso Presidente da República. Pensei em escrever sobre o que este filme representaria em termos de campanha política, já que ano que vem teremos eleições e meu receio era de que este filme se transformasse numa espécie de panfleto. Depois pensei em escrever sobre as facilidades que um filme deste deve ter tido para conseguir patrocínio. Pensei também em escrever sobre as facilidades que ele teria na hora da distribuição. Cheguei a esboçar um discurso contra a construção de salas de cinema em cidades do interior do país em conjunto com um tal de Vale-Cultura lançado pelo governo federal. Mas não concluí. Até porque, muito já se falou e vem se falando desde que o filme foi lançado no Festival de Brasília, há pouco mais de 10 dias.
O que me fez mudar de opinião a respeito do que eu poderia vir a escrever foi a coluna do jornalista Arnaldo Bloch no Segundo Caderno do O Globo de sábado, dia 28/11. Praticamente sem pestanejar, fui fisgado por sua clareza de ideias e exatidão nas palavras do início ao fim do texto. Foi ao terminar de ler a coluna que eu pude parar, refletir e entender por que um filme sobre a vida de um presidente que eu ajudei a eleger estava me incomodando tanto. Na verdade não era o filme que me incomodava, mas sim, o que Lula representa hoje. O que me incomoda é no que se transformou aquele homem que nasceu no interior de Pernambuco, que foi para São Paulo com a mãe e os irmãos em busca de novas oportunidades, que virou líder sindicalista, que representou a vontade de milhares de brasileiros contra um sistema que se mostrava demasiadamente desumano, que foi eleito, reeleito e que hoje parece ter passado para o lado de lá sem sequer ter pertencido ou representado o lado de cá.
Mas o filme retrata justamente a fase em que Lula representava a utopia de um país mais justo, sem mensalões, sem propinas, sem negociatas, sem amarras políticas. Retrata nossos ideais mais românticos e mais éticos, quando ainda se podia acreditar que tudo seria diferente e não a decepção de se saber tudo farinha do mesmo saco, até porque o filme narra a história de Lula desde o seu nascimento até a morte de sua mãe, quando ele tinha 35 anos e estava preso pela ditadura militar em vigor no país. Dia 1 de janeiro o filme entra em cartaz. Com ou sem Vale-Cultura; com ou sem as sei lá quantas salas de cinema no interior do Brasil; panfletário ou não. O certo é que o filme deve ser assistido por milhares de brasileiros e, de acordo com os comentários de quem já teve a oportunidade de assisti-lo, levar às lágrimas também. De certo que vou engrossar o coro.
No mais, acabo de ver na TV o governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, do DEM, partido da base oposicionista, que foi pego recebendo, junto com secretários do primeiro escalão de seu governo, dinheiro de propina, dizendo que fica até o fim de seu mandato. Ora bolas, por que não ficaria, não é mesmo? Aliás, está aí um bom roteiro para um próximo filme. Vai encarar, Barretão?

sábado, 14 de novembro de 2009

A primeira infância a gente nunca esquece

Tem três coisas que eu me lembro bem da minha primeira infância: a morte do Pixinguinha, um programa que eu adorava chamado "Banana Split e seus Amigos" e a música de abertura do Globinho Supercolorido. A morte do Pixinguinha vale um post só dele e prometo escrever em breve; já o Banana Split, segue um vídeo que acabei de pescar no Youtube, assim como a abertura do Globinho. O tema é de autoria do Marcos Valle. Tomara que os vídeos remetam todos vocês a boas lembranças. Eu estou aqui com meu filho do meio ao meu lado na maior nostalgia!




sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Uma mulher, muitas histórias e 3 rins


Conheci Tônia numa festa no Lapa Café, a mesma festa que já citei aqui dois ou três posts atrás. Estávamos sentados na mesma mesa sem saber o que pedir para comer, mas certos de que estávamos com fome. No cardápio um tal sanduíche de pizza margueritta que nada mais era do que um pão árabe recheado de muçarela (novas regras, não estranhem), tomates e manjericão. Ela gostou da ideia e embarcou no mesmo pedido que eu. Foi o bastante para iniciarmos um bate-papo descompromissado e carregado no bom humor, por vezes negro, mas sempre bom humor.

O calor estava no auge naquela noite e enquanto minha cerveja preta não chegava ela me contou que aos 18 anos resolveu morar no Senegal. Ficou por lá 3 anos suportando o calor e vivendo as mais exóticas experiências. O calor por lá era tanto _ no Senegal _ que era comum dormirem no chão enrolados em panos molhados. Loucura! Se bem que meu cachorro, o Bem, andou dormindo assim semana passada, eu disse a ela. Até porque, o calor aqui andou mesmo senegalês.

Da África ela rumou para a Suécia, onde conheceu o Gabeira, que até então era apenas o Fernando. Teve um rolo com ele e ficaram amigos até hoje. Fernando, o nosso Gabeira, a ensinou a fazer café e ela o ensinou a fazer arroz integral e a ter uma alimentação mais saudável. O rolo foi apenas um rolo mesmo e não durou muito. Era 1978 ou 1979, ela não soube bem precisar, mas foi na época da Abertura, quando Gabeira, o Fernando, pode voltar ao Brasil e ela rumou para Paris, até porque ela não era asilada política e queria mais era curtir a Europa. Sempre gastando cerca de 10 dólares por dia, ela me disse. Na França ela ficou por mais 1 ano e 8 meses trabalhando com o que aparecesse pela frente. Só não vendi drogas e nem o meu corpinho, de resto fiz de tudo um pouco, afirmou.


Nossos sanduíches chegaram. Frios, diga-se de passagem. A Cerpa que ela havia pedido já estava no fim e ela pediu outra à graçonete. Eu perguntei se a garçonete havia esquecido da minha cerveja preta. Ela me respondeu com um sorriso amarelo e disse que estava indo buscar naquele instante. Tudo bem, nem estava quente e minha sede pouco importava. O papo estava interessante e, na boa, eu nem sou tão fã de cerveja assim. Se a cerveja não aparecesse na mesa dali a instantes eu ia pedir uma soda mesmo, já que o que eu queria era matar a sede. E só.

Tônia voltou ao Brasil no início dos anos 80. Todas aquelas datas me deixaram intrigado com uma coisa: que idade aquela mulher teria? Se na década de 70, quando eu era apenas uma criança, ela ensinou ao Gabeira, então Fernando, a fazer arroz integral, já tinha morado 3 anos no Senegal, depois Suécia, França, isso sem falar em Nova Iorque, onde viveu um tempo antes de ir para a África, que idade aquela mulher teria agora, meu Deus? Fiquei com aquilo na cabeça até que não me contive:

_ Estou intrigado. Que idade você tem?
_ 53, ela respondeu sem a menor cerimônia.

Eu fiquei com cara de paisagem, pois aquela mulher aparentava no máximo uns 40 anos, mas com todas aquelas histórias que ela disse ter vivido ela não poderia mesmo ter a idade que eu estava imaginando. Ela continou dizendo que nunca teve problemas em revelar a idade e que achava a maior frescura das mulheres quando fingem ou escondem a idade que têm. Tônia era daquelas que realmente tinham seus 53 anos bem vividos, com muitas histórias, experiências fantásticas. É produtora. Tinha acabo de produzir o Fashion Rocks e já estava iniciando, mais uma vez, a produção do Vivo Open Air, evento que reúne gente bacana e cinema ao ar livre no Jóquei do Rio de Janeiro. Fez também o Survivor, programa estilo No Limite, gravado na Amazônia há uns anos. Foi lá que conheceu o Rodrigo, meu amigo, e por conta disso acabamos nos conhecendo naquela noite quente em plena Lapa.

Passado algum tempo, depois de eu ter desistido da cerveja preta, ter bebido minha soda e me conformado com uns copos de Cerpa e atento a outras tantas histórias, ela abriu a bolsa e puxou uma caixinha, daquelas de guardar comprimidos. Tirou 3, dos grandes, e engoliu a seco. Mais uma vez minha curiosidade falou mais alto e perguntei o por quê de tanto remédio. Foi aí então que ela me contou uma das histórias mais bacanas que eu já ouvi até hoje. Começou dizendo que as mulheres da suas família morrem cedo. Sua mãe morreu aos 66 e ela achava que não duraria muito mais também não. O pai, se estivesse ali naquele bar com a gente, eu não diria que já tem mais de 70. Mas ela havia puxado à mãe e sua saúde era frágil.

Há cerca de 3 anos fez um transplante renal. Estava na fila fazia anos e na iminência de ter de encarar hemodiálise, o que para ela seria o mesmo que a morte. Exames e mais exames entre os parentes e nada. Nenhum deles era compatível para doação. Pra não deixar a depressão tomar conta, pegou uma grana que tinha de reserva e rumou para Paris. Ficou por lá mais dois meses antes de voltar ao Brasil para começar as sessões de hemodiálise. Desembarcou por aqui dias antes do seu aniversário de 50 anos. Os amigos resolveram fazer uma festa surpresa e no meio desta festa uma amiga vira-se para ela e diz: "o meu rim é teu". Ela pensou se tratar de papo de bêbado e não deu muita atenção ao que amiga dissera até que no dia seguinte a tal amiga telefonou e confirmou o que havia dito na noite anterior. Ela ia ganhar um rim.

Com toda a urgência necessária para um transplante, as duas correram aos exames. Em poucos dias o resultado: tudo certo, era compatível. O rim saudável da amiga era o melhor presente que ela poderia ganhar nesta vida. A operação foi um verdadeiro sucesso e hoje ela vive com 3 rins. Os dois originais de fábrica não servem pra nada, mas estão lá guardadinhos. Já o que ela ganhou de presente, filtra tudo direitinho e permite que ela seja essa mulher espontânea que eu conheci numa noite quente num bar da Lapa e que continua a contar suas histórias por aí. Antes de nos despedirmos ela me confidenciou que seu sonho é montar uma banca de mixirica, nossa famosa tangerina, na beira de uma estrada qualquer, já que para todo profissional liberal a aposentadoria não passa de um sonho. Afinal, ela já estava cansada desta vida de produzir isso ou aquilo e já estava ficando velha. Disse a ela que assim que eu ganhar na mega sena compro não apenas uma banquinha, mas um hortifruti pra ela tomar conta e viver feliz para sempre. Porque ela merece.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Gaiola das Popozudas e outras preciosidades


Há quase dois anos eu estava em pleno processo de seleção para trabalhar no Sistema Globo de Rádio. A vaga era para produção de eventos e meu perfil parecia o ideal, de acordo com a pessoa que me indicou, e também, de acordo com as pessoas que me entrevistaram. Até porque, entre tantos outros candidatos, fui aprovado para a vaga e no primeiro dia últil de 2008 lá estava eu, na porta da Rádio, antes do horário combinado, ansioso para começar a trabalhar. Encontrei logo com aquela que seria minha chefe, que me pareceu gente boa, apesar da cara de poucos amigos. Alguma coisa fez com me identificasse com ela. Acho que o jeito fechadão, sério, meio frio até, o que pra mim era sinônimo de uma enorme timidez.
O certo é que ali começava meu martírio. Quem me conhece sabe que eu detesto funk, pagode, sertanejo ou qualquer outra coisa do gênero. Não que eu seja elitista, muito pelo contrário. Pelo menos eu não me vejo desta forma. Acho que eu sou pop pra caramba e minha juventude teve como trilha sonora Lulu Santos, Lobão, Metrô, Rádio Táxi, Kid Abelha, Léo Jaime, além dos clássicos da boa e velha MPB, claro. Tinha também Pink Floyd, Jimmy Hendrix, Janis Joplin, The Smiths, REM, The Cure e, mais recentemente, Radiohead, Coldplay, Beirut, Fleet Foxes, Céu, Maria Gadu... mas Belo, Suíngue Simpatia, Só Pra Contrariar, isso nunca! Então, cair dentro de uma rádio popular, foi o mesmo que mergulhar num abismo, num poço sem fundo, onde por mais que eu me esforçasse não conseguia fazer com que aquele tipo de música e de estilo de vida se adequasse ao que eu considerava normal ou aceitável. Na verdade eu nunca entendi e não entendo até hoje como uma rádio, com tamanha audiência, se prestava àquele papel. No meu entender aquilo tudo, aquela estética e aquele modo de pensar o gosto popular era muito rasteiro e um enorme desrespeito com o que é cultura popular de verdade. Ou será que é certo um meio de comunicação tão poderoso como uma rádio nivelar tão baixo assim e subestimar o povo e o que é considerado do povo?
Naquele meu primeiro dia de trabalho fui levado para fazer um tour nas casas de shows que eram parceiras dos programas da rádio, a antiga 98 FM. Era Verônica Costa, a Mãe Loura do Funk pra cá, um tal de Denis DJ, que eu nunca tinha ouvido falar, pra lá, entre outras preciosidades. Naquela noite, numa espécie de batismo, fui parar numa casa de shows no comecinho da Via Dutra, em São João de Meriti, onde a cerveja custava R$ 1,00 e o som que ali tocava não valia nem um centavo. Minha função era ver se as promotoras rebolavam direitinho em cima do palco e se jogavam os brindes na hora certa. Naquele instante eu comecei a achar que a rádio não apenas subestimava a inteligência do povo, mas a minha também.
Um pouco antes do carnaval eu comecei a promover um pagode embaixo do viaduto de Pilares, bairro onde meus pais nasceram, se conheceram, namoraram e viveram até eu completar um ano de idade. Toda sexta-feira, por volta das 22h lá ia eu revisitar minhas origens mas, confesso, era difícil me reconhecer por lá. Fácil era reconhecer a malandragem que ronda a noite carioca e mais uma vez eu me perguntava o que uma rádio daquele porte fazia ali.
Veio carnaval e eu fui escolhido para tomar conta do Terreirão do Samba, em plena Praça Onze. Todas as ações da rádio naquele local eram de minha inteira responsabilidade, desde a colocação do material de merchandising à distribuição dos brindes e tudo mais o que envolvesse promoção. Confesso que no começo fiquei assustado. Era muita gente e muito calor todos os dias. Mas foi animado, pois apesar de eu não gostar nem um pouco do conteúdo do que a rádio tocava nem de nenhum show daqueles que passaram por aquele palco no Terreirão, o pessoal que trabalhava comigo, a equipe da rádio, era muito bacana. Estávamos todos no mesmo barco e talvez por isso mesmo o espírito de união e de amizade prevalescesse sobre todas as outras coisas. Pelo menos no meu entender. E justamente por este motivo aquele carnaval vai ficar para sempre gravado na minha memória.
Depois do carnaval, enfim um trabalho bacana: transmissão ao vivo, via Internet, do programa do Sidney Rezende, direto da Casa de Cultura Laura Alvim, em homenagem ao aniversário da cidade. Convidados como Moacyr Luz, Jaqueline do vôlei, Sérgio Besserman, Perfeito Fortuna, entre outros, além da dinâmica da equipe de jornalismo do Sistema Globo de Rádio, me estimularam a encarar todo aquele trabalho e o desafio de transmitir pela primeira vez um programa de rádio via web tal e qual um talk show, com direito à imagens no site da Rádio CBN. Um marco. Pelo menos pra mim.
Terminado o evento, volto eu pra minha vidinha de pagodes e bailes funks. O último e derradeiro pagode embaixo do viaduto foi com apresentação do cantor Belo. O cara ainda estava cumprindo pena (olha o nível aí) e antes mesmo do show começar fui procurado por uma oficial de justiça que queria proibir o show por conta de uma dívida do artista. Não pensei duas vezes e enrolei a oficial enquanto pude e liguei para o coordenador da rádio. O cara mandou que eu não desse atenção à autoridade e que não deixasse aquilo atrapalhar nada, pois aquele show seria muito lucrativo para a rádio. Bastou ela me dar ordem de prisão para eu liberar tudo, inclusive onde ficava o controle financeiro do evento. Porra, imagina eu ser preso num pagode debaixo de um viaduto por conta de um show de um cantor que eu detesto promovido por uma rádio que confundia o popular com o baixo nível? Em menos de uma hora o coordenador da rádio chegava ao local do evento. Eu estava lá acompanhado da minha cara de poucos amigos. A não ser pela tal da Gracianne, não vi a menor graça naquele show. Minha reputação junto à diretoria do SGR se já não era boa, depois do Belo ficou pior. Pra completar, na semana seguinte era a vez de um baile funk com dezenas de convidados do tipo "Gaiola das Popozudas" e "Tati e as Gulosas" numa casa de shows lá pra dentro de São Gonçalo. Era muita gente, muitos ânimos alterados, muito dinheiro rolando e bem no finalzinho, depois de fechado o borderô e o resultado de quanto tinha dado em dinheiro, estancou uma porrada no palco. Eu, que não tinha nada a ver com aquilo, já estava no meu carro, pronto pra ir embora. Foi meu último evento na rádio. Na semana seguinte eu fui demitido.
Hoje, quando ouço som invasivo dos bailes funk nos morros cariocas e fico sabendo que o funk, com todas aquelas letras educativas, foi considerado patrimônio popular, cada vez mais eu penso no por quê de uma rádio como aquela existir. Qual a função de uma rádio? O lucro fácil manipulado pelo que ela considera gosto popular? Ou informar, educar e investir no que de melhor há em termos de cultura? Prometo continuar pensando nisso.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

O vazio, a dança, o Bem e outros bichos na minha cabeça.


Perdi a conta dos dias que não dou as caras aqui para escrever minhas bobagens. De vez em quando tenho dessas coisas. Desapareço. Ninguém me encontra. Nem eu. Parece que falta inspiração e a tela em branco do processador de word que praticamente carrego em mim é a última coisa que quero ver na minha frente. São dias em que somos _ eu e o tal processador _ como inimigos mortais, daqueles que um não pode esbarrar no outro. Isso é normal, eu já li por aí. Outro dia mesmo um cara que está lá no meu FB como meu amigo mas, aqui pra nós, nem é, revelou sofrer deste mesmo mal. E olha que o cara é talentoso, tem umas ideias ótimas, carisma, tio famoso e tal, mas sofre da mesma paranóia que eu e muitas vezes se vê impotente diante da obrigatoriedade de criar. Seja esta obrigatoriedade fruto de prazos estabelecidos mediante contratos profissionais ou não. Quantas vezes fui brifado com semanas de antecedência e o briefing lá, martelando na cabeça dias e dias e a danada da ideia só se concretizou praticamente em cima da hora? Criar é o maior estresse. E ter de criar é mais estressante ainda. Atualmente eu não tenho tido a obrigação de criar nada. E nem quero ter. Mandei tudo o que me estressava às favas e no meio disso percebi que eu posso ser muito mais criativo dando novos rumos à minha vida. Ando em busca da metamorfose. Pra ser mais exato estou no olho do furacão de uma. A primeira que não me deixa esquecer da lagarta que um dia eu fui ou que sequer deixarei de ser.
Estou em falta com uns amigos. O Romano é um deles. Temos um projeto valioso em mãos e não tenho encontrado tempo para me dedicar a ele da maneira como deveria. Falta ainda desenvolver pequenos detalhes, uns poucos ajustes mesmo, mas é coisa simples. Eu e ele sabemos disso. Mas por conta desta tal metamorfose resolvi encarar um curso todos os sábados deste mês de novembro. É um curso que se eu quiser realmente me dar bem no final preciso me dedicar bastante, inclusive _ e principalmente, eu diria _ durante os outros dias da semana. Daí que não tem me restado mais tempo para quase nada.
Para completar tem o Bem, um cachorro vira-latas bonitinho pra caramba que meus filhos ganharam mas que eu me apaixonei de cara. Domingo agora faz uma semana que ele chegou. Meu filho mais velho foi quem trouxe. Veio de Cabo Frio. As crianças estão em polvorosa desde então. É um tal de Bem pra cá e Bem pra lá que o pobre do cachorro, quando pode, escapa pra trás de um móvel ou pra um canto na varanda e dorme profundamente. Adora meu pé. Lambe meu dedão com uma categoria que eu vou te contar. Quando os dentes começarem a crescer pra valer é capaz de arrancar minha unha. Vou precisar ter cuidado. Por enquanto quase não come. Bom também que quase não caga. Terça-feira amanhecemos todos no veterinário. Tomou comprimido contra vermes e já está encarando tratamento contra uma otite leve. Ele não gosta nem um pouco quando a gente pinga o líquido dentro de seu ouvido. A gente não gosta nem um pouco de ter de limpar o cerume fedido com cotonetes. É manso até dizer chega. Veio com algumas pulgas que já foram devidamente expulsas. Ainda não latiu. Dorme sozinho na varanda numa boa. Só descobri isso depois de duas noites mal dormidas com ele dentro de casa. Odeio murrinha de cachorro. Hoje dei umas borrifadas de Bom Ar na sala e nos quartos antes de sair.
Fui na abertura do Festival Panorama de Dança ver o Ballet de Lorraine. Bacana. Mas sabe como é espetáculo de dança contemporânea, né? Como bem lembrou meu amigo Raul, é muita malha transparente, fragmentos de música e luz acesa para provocar e/ou constranger a plateia. Mas vale a pena conferir a programação. No site tem tudo, vai lá: http://www.panoramafestival.com/. Depois, uma festinha animada com o povo do festival no Lapa Café, outro lugar que também vale a pena conhecer. Misto de bar, boate e galeria de arte, serve várias marcas de cerveja. Bebi algumas e não paguei caro não. Voltei pra casa de táxi por conta da Lei Seca. Com quantas blitzes eu esbarrei? Nenhuma. No mais, tá um calor senegalês por aqui!