Para quem teve a oportunidade de viajar, o feriado da Semana Santa este ano não poderia ter sido melhor. O sol e o calor civilizado de outono abençoaram ainda mais o significado daqueles dias. Este ano não viajei, não fui à igreja e nem acompanhei a procissão, como é de costume. Na sexta-feira da Paixão eu estava de plantão no jornal e com a missão de preparar o peixe para o almoço da família. No dia anterior, além de ter sido aniversário do meu filho mais velho e chá de bebê do meu neto, eu, Claudia e Rosa, amiga de longa data, emendamos a noite num show e depois numa outra festa. Dançamos e nos divertimos até as três da manhã, coisa que não fazíamos há anos. Resultado: acordei tarde e perdi a hora da missa.
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Eu já contei aqui que plantão é uma coisa pra lá de horrorosa que acontece na vida de todo jornalista uma vez por mês, não é? Plantão em pleno feriado consegue ser pior ainda, acredite. Por sorte, este meu plantão na Semana Santa foi tranquilo. Sem terremotos e tsunamis no Japão, sem guerra do tráfico, sem visita de presidente norteamericano, sem enchentes ou deslizamentos. Tudo correu na santa paz. A notícia que mais me mobilizou foi a de que Rosinha Garotinho, prefeita de Campos, cidade de meus avós maternos, teria sido expulsa do PMDB. Mas o que me chamou a atenção não foi o fato de ela ter sido expulsa do partido, mas sim porque a expulsão havia ocorrido há três dias e ninguém, até então, noticiara. Teria Rosinha Garotinho perdido a importância para a política nacional?
Fica aqui a pergunta.
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Segunda-feira pós-feriado. O céu está nublado, as horas se arrastam no jornal, nada acontece em Brasília, não sabemos nem se teremos manchete e eu crente que vou sair no meu horário habitual. Afinal, é segunda-feira, a capital federal está um marasmo que só, nossos políticos ainda não voltaram do final de semana prolongado e as notícias só falam sobre o número de mortos nas rodovias federais. Depressão é pouco.
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A natureza, vendo aquele cenário triste de jornalistas em busca de um fato realmente relevante para publicar, resolveu que estava na hora de providenciar uma chuvinha. E já que o sol reinou toda a Semana Santa, mandou logo um temporal que é para não deixar dúvidas da sua força. Em poucos minutos, a área da Tijuca, Maracanã e Praça da Bandeira virou uma enorme banheira e o trânsito, um verdadeiro caos. Em questão de segundos o clima na redação era outro. Olhos arregalados. Uma certa tensão no ar. Alguém lembrou que foi justamente na segunda-feira após a Páscoa do ano passado que outro temporal havia arrasado com a cidade.
- Coincidência - eu disse.
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Estava preocupado em adiantar meu trabalho e torcendo para que a chuva desse uma trégua para eu poder voltar para casa. Mas nada aconteceu como eu gostaria naquela noite e só saí da redação às duas da manhã, quando os motoristas que conseguiam voltar para o jornal disseram que tinha um caminho em que os carros poderiam passar. Era só seguir pelo viaduto São Sebastião até o Santo Cristo, contornar o largo à esquerda, entrar na primeira à direita, ir em frente, passar nos fundos da rodoviária, virar de novo à esquerda e subir o viaduto da Francisco Bicalho. De lá, decidir se vai pela Quinta da Boa Vista ou pela Linha Vermelha e depois, Linha Amarela.
Foi o que eu fiz.
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Fora dois bolsões dágua nos fundos da rodoviária, fui bem até chegar ao viaduto da Francisco Bicalho, onde encontrei o trânsito completamente parado. A pista da esquerda, a que eu estava, tomada por ônibus e caminhões enormes. Lá embaixo, uma infinidade de faróis prestes a boiar nas águas podres do Canal do Mangue me fez pensar no apocalipse. Ao meu lado vejo passar uns fotógrafos, todos atrás das melhores imagens. A chuva aperta. Não perdoa. Percebo o tempo passar quando o cd do Marcelo Jeneci chega ao fim. Assim como na canção, eu também estava longe. De repente, a pista da direita começa a andar. Sem pensar duas vezes, embiquei o carro, consegui uma brecha e segui o fluxo para ver onde ia dar. A pista para quem ia pegar a Linha Vermelha ficou livre e eu fui com a cara, a coragem e a certeza de viver numa cidade despreparada.
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Páscoa, do hebraico Pessach, quer dizer passagem, travessia. Eu, que até então não tinha me dado conta de que a Páscoa se fora, lembrei disso assim que pisei em casa, depois de ter cruzado a cidade de madrugada e debaixo daquele temporal.
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Eu já contei aqui que plantão é uma coisa pra lá de horrorosa que acontece na vida de todo jornalista uma vez por mês, não é? Plantão em pleno feriado consegue ser pior ainda, acredite. Por sorte, este meu plantão na Semana Santa foi tranquilo. Sem terremotos e tsunamis no Japão, sem guerra do tráfico, sem visita de presidente norteamericano, sem enchentes ou deslizamentos. Tudo correu na santa paz. A notícia que mais me mobilizou foi a de que Rosinha Garotinho, prefeita de Campos, cidade de meus avós maternos, teria sido expulsa do PMDB. Mas o que me chamou a atenção não foi o fato de ela ter sido expulsa do partido, mas sim porque a expulsão havia ocorrido há três dias e ninguém, até então, noticiara. Teria Rosinha Garotinho perdido a importância para a política nacional?
Fica aqui a pergunta.
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Segunda-feira pós-feriado. O céu está nublado, as horas se arrastam no jornal, nada acontece em Brasília, não sabemos nem se teremos manchete e eu crente que vou sair no meu horário habitual. Afinal, é segunda-feira, a capital federal está um marasmo que só, nossos políticos ainda não voltaram do final de semana prolongado e as notícias só falam sobre o número de mortos nas rodovias federais. Depressão é pouco.
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A natureza, vendo aquele cenário triste de jornalistas em busca de um fato realmente relevante para publicar, resolveu que estava na hora de providenciar uma chuvinha. E já que o sol reinou toda a Semana Santa, mandou logo um temporal que é para não deixar dúvidas da sua força. Em poucos minutos, a área da Tijuca, Maracanã e Praça da Bandeira virou uma enorme banheira e o trânsito, um verdadeiro caos. Em questão de segundos o clima na redação era outro. Olhos arregalados. Uma certa tensão no ar. Alguém lembrou que foi justamente na segunda-feira após a Páscoa do ano passado que outro temporal havia arrasado com a cidade.
- Coincidência - eu disse.
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Estava preocupado em adiantar meu trabalho e torcendo para que a chuva desse uma trégua para eu poder voltar para casa. Mas nada aconteceu como eu gostaria naquela noite e só saí da redação às duas da manhã, quando os motoristas que conseguiam voltar para o jornal disseram que tinha um caminho em que os carros poderiam passar. Era só seguir pelo viaduto São Sebastião até o Santo Cristo, contornar o largo à esquerda, entrar na primeira à direita, ir em frente, passar nos fundos da rodoviária, virar de novo à esquerda e subir o viaduto da Francisco Bicalho. De lá, decidir se vai pela Quinta da Boa Vista ou pela Linha Vermelha e depois, Linha Amarela.
Foi o que eu fiz.
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Fora dois bolsões dágua nos fundos da rodoviária, fui bem até chegar ao viaduto da Francisco Bicalho, onde encontrei o trânsito completamente parado. A pista da esquerda, a que eu estava, tomada por ônibus e caminhões enormes. Lá embaixo, uma infinidade de faróis prestes a boiar nas águas podres do Canal do Mangue me fez pensar no apocalipse. Ao meu lado vejo passar uns fotógrafos, todos atrás das melhores imagens. A chuva aperta. Não perdoa. Percebo o tempo passar quando o cd do Marcelo Jeneci chega ao fim. Assim como na canção, eu também estava longe. De repente, a pista da direita começa a andar. Sem pensar duas vezes, embiquei o carro, consegui uma brecha e segui o fluxo para ver onde ia dar. A pista para quem ia pegar a Linha Vermelha ficou livre e eu fui com a cara, a coragem e a certeza de viver numa cidade despreparada.
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Páscoa, do hebraico Pessach, quer dizer passagem, travessia. Eu, que até então não tinha me dado conta de que a Páscoa se fora, lembrei disso assim que pisei em casa, depois de ter cruzado a cidade de madrugada e debaixo daquele temporal.
Que venha, agora, a renovação.