Sexta-feira santa. Dia de comer bacalhau. Dia de ir à igreja. Dia de rezar. Dia de procissão e de lembrar da paixão de Cristo. Mas meus filhos quiseram ir ao zoológico pela enésima vez e como era feriado, estávamos todos em casa, lá fomos nós ver a bicharada. Lembro que quando era pequeno eu tive trauma de zoológico porque meu irmão, aquele da baba azul, sempre que meus pais perguntavam onde ele queria passear, ele mandava na lata: "quero ver bicho". Devo ter ido umas 819 vezes ao zoológico na minha infância. Atualmente não tem sido diferente, pois meu filho do meio é tão fissurado em animais que não se cansa de repetir que na próxima vida quer nascer elefante. Não me pergunte o por quê. E o passeio que ele mais gosta de fazer, claro, é ir ao zoológico.
Desta vez, estrategicamente, já chegamos lá por volta das 15h. Os portões fecham as 17h. Ou seja, apenas duas horinhas e olhe lá. Está de bom tamanho. O trajeto é praticamente o mesmo: primeiro as araras e os pavões (que agora ficam soltos); depois a gente vai ver os macacos e, agora que o filho do meio sabe ler, as placas explicativas são lidas de cabo a rabo e haja paciência pra saber do que eles se alimentam e de onde eles vêm. Devo confessar que a bunda de um mandril, que é uma espécie de macaco, me chamou a atenção. Estava vermelha e inchada, parecendo carne viva, mas acho que era uma fêmea e ela estava no cio. Até porque, o outro macaco, na mesma jaula, não parava de olhar para aquele bundão. Acho que depois que os portões do zôo fechassem o bicho ia pegar. Literalmente.
Fizemos a curva à esquerda e por pouco não tomamos um banho de "caca" de chimpanzé, pois o tal estava atacado e uma multidão se aglomerava na frente da sua jaula incitando-o a fazer gracinha. Numa das centenas de vezes que estive no zoológico com meus filhos menores, o do meio, o que quer nascer elefante da próxima vez, foi premiado com "caca" de chimpanzé no pé. Se eu já acho ruim limpar bunda de criança, imagina a minha cara na hora de limpar pé com cocô de macaco? Mas desta vez escapamos ilesos.
Dos macacos fomos direto ver os felinos. Linces, onças pintadas, onças pardas, jaguatiricas, tigres e um leão nervoso pacas, que rugia fazendo tudo em volta tremer. Tinha criança chorando de medo até. Não sei se você já teve a oportunidade de ver um leão rugir de perto. É impressionante. Acho que é por isso que ele é o rei, na boa. Ganha no grito, sabe?
Logo mais à frente foi a vez do elefante. Sempre tive pena do elefante do zoológico do Rio, pois ele vive sozinho, sem uma companheira. Não deve ser nada legal viver ali sozinho, mesmo que seus "aposentos" sejam confortáveis. O cara tem até direito à piscina, é mole? Mas parece não ligar muito pra isso não, pois de todas as vezes em que eu estive no zôo, só vi o elefante na piscina uma vez. Das outras vezes ele está sempre lá, paradão, balançando a tromba pra cá e pra lá. Vidinha mais sem graça.
Bem pertinho do elefante moram as girafas. Eu tenho a maior simpatia por girafas e sempre que encontro com elas faço questão de pegar umas folhas, esticar o braço e ver aquele pescoção chegar perto e comer as folhas na minha mão. Meus filhos adoram e me acham o máximo por causa disso. Ou me acahavam, sei lá... porque desta vez eu quis fazer diferente e peguei um galho de uma planta de um canteiro e lá fui eu belo e faceiro com meu galho na mão oferecer à girafa. Ela, claro, não pensou duas vezes e abocanhou a galhada de uma só vez. Foi aí que começou o estresse. Não sei se a folhagem não tinha um gosto agradável ou se os galhos não eram tão macios e suculentos, mas a coitada da girafa começou a engasgar e a botar uma língua quilométrica pra fora, como se estivesse sufocando. Meus filhos me olharam como quem diz "ela vai morrer, papai?". Fiquei nervoso. Sem graça. Com um bando de gente me olhando como se me dissessem "seu mané, não sabe que é proibido alimentar os animais?".
Logo veio um guardinha e perguntou o que havia acontecido. Uma das crianças que estava por perto e viu tudo foi logo apontando pra mim, dizendo pra autoridade que eu tinha dado um galho pra girafa comer. Se eu pudesse, teria virado avestruz na hora, porque minha vontade foi a de enfiar o pescoço debaixo da terra e me esconder. Mas eu fiz aquela cara assim de quem fez merda e disse: "é... um galhinho de nada... e ela engasgou". Nunca mais vou me esquecer do olhar fuzilante que o guardinha me lançou nem da minha sensação de alívio quando a girafa finalmente conseguiu engolir o tal galho. Imagina se ela morre? Eu nunca mais ia poder entrar num zoológico, né?