sábado, 31 de janeiro de 2009

A propaganda é a alma do negócio


Esta você só encontra na Via Dutra e aqui no meu blog. Mais uma do meu amigo "granfino", aquele que é designer.

Falando sério

Tenho um amigo que volta e meia vem aqui no meu blog e lê o que eu ando escrevendo. Ele diz que o que eu escrevo é divertido, mas ontem veio com um papo de que eu deveria falar sério. Disse que sente falta de um texto mais porrada, mais deprimido e que eu ando escrevendo apenas amenidades, coisas sem interesse. Por incrível que pareça eu não fiquei puto com ele; eu não desejei que ele fosse para o inferno com aquela crítica; eu não perguntei pra ele se ele sabia escrever melhor. Não. Eu ouvi o que ele me disse com toda a atenção e acho que ele tem mesmo razão. Eu gosto de escrever bobagens assim como gosto de falar bobagens. Vai ver é porque eu sei que a vida muitas vezes é muito dura e que para muitos de nós a carga é pesada. Daí textos mais leves. Mas a partir de hoje, além das amenidades, receitas, lembranças e poesias, meu blog vai ter textos sérios.
E nada mais sério do que escrever sobre coisas que tiram você do sério, não é mesmo? O caos urbano em que vivemos hoje, por exemplo, é algo que me tira do sério. Não se respeita nada nem ninguém. Aqui no Rio de Janeiro, cidade em que moro, agora temos um prefeito que anuncia choques de ordem a cada manchete de jornal. São automóveis rebocados num final de semana, mendigos tirados das ruas num outro, prédios demolidos, vans fiscalizadas, mais policiamento nas ruas da zona sul da cidade do que nas ruas da zona norte e uma relação de amor entre o município e o estado como há muito não se via por estas bandas fluminenses. Temos realmente um prefeito muito simpático, com cara de bom moço, que faz pose de pai de família, amigo do governador, ex-desafeto do presidente Lula, morador da Barra da Tijuca e frequentador de botecos famosos. Nada ilegal, e daí?
Ilegal é a bandalha, a falta de respeito, as calçadas mal conservadas, as ruas esburacadas, as avenidas mal iluminadas, as balas perdidas, as crianças sem escola, os doentes sem médicos nos hospitais e os políticos mal intencionados. Para estes parece não haver remédio. Ilegal é a falta de educação do nosso povo, que joga latas, garrafas, papéis e restos de comida pelas janelas dos carros ou dos ônibus; é o povo que cospe no chão que é o mesmo que mija no muro e que dá as costas para as autoridades; é o que compra mercadoria pirateada; que compra jóia roubada e essa droga que já vem malhada antes mesmo de eu nascer.
Aí eu venho e digo que o Rio de Janeiro continua lindo, mas não sei se digo por conveniência ou por convicção. Um outro amigo meu, gaúcho, que mora por aqui há anos, diz amar São Paulo e que lá tudo é mais bonito. E com isso eu não posso concordar. Porque São Paulo é uma cidade rica, com calçada mais largas, avenidas mais bem cuidadas, postes iluminados, gente bem vestida, mulheres elegantemente perfumadas, é preciso dar o braço a torcer e torcer por São Paulo. Sempre. Mas dizer que São Paulo é uma cidade mais bonita do que o Rio de Janeiro, não. Nunca.
Aqui há os contornos das montanhas e o vento que sopra do mar. Aqui há a menina mais linda do trecho da praia, a água de coco e o que se vê das Paineiras. Aqui a floresta te acolhe, a cachoeira refresca, o samba te envolve e os bondes de Santa Teresa. Aqui tem o Maraca e o grito forte das torcidas; o Sambódromo e o passo firme das mulatas; os braços abertos em bênção do Corcovado no alto da cidade. O calor do povo. O sorriso no rosto. Um certo ar de malandragem.
Mas aqui há o caos. Há desordem. O tiroteio que mais parece a guerra que vemos na TV. A falta de respeito no trânsito. Os moleques nas ruas. A farra na câmara. O lixo na Assembleia. E o cidadão que prefere não saber, que finge não ver, que passa como se nada o atravessasse, o atingisse. Muitas vezes é assim que eu me encontro. Alheio a tudo e a todos. Mas basta um olhar mais atento para eu também perceber que é preciso falar sério.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Onde já se viu?


Semana que vem vou fazer exame de sangue. Já era pra ter feito faz tempo, mas estou protelando ao máximo. Só que minha mulher já sabe e disse que vai comigo que é pra eu não escapar. Já estou tenso desde então. Torçam por mim...

Eu por dentro

Eu nunca gostei de ir ao médico. Lembro que quando criança meus pais sempre me levavam a um tal de Dr. Manoel Bermazoni e eu não ia nada com a cara dele. Ficava apavorado quando tinha consulta porque sabia que dali não vinha boa coisa. Era um remedinho aqui outro ali, isso quando não cismava de receitar umas injeções, o que para mim era desesperador. Não sei como meus pais me aturavam, pois um simples colubiazol (spray para dores de garganta que acho que nem existe mais) me tirava do sério. Daí minha fama de difícil.
Tenho um tio português, o Afonso, que naquela época me parecia enorme, forte pacas e grosso feito um português, claro, que era o único que conseguia me segurar quando eu precisava tomar alguma injeção. Teve uma vez que consegui escapar das garras deste meu tio e corri feito um desembestado pela rua, como se estivesse fugindo da pior das desgraças e quase fui atropelado. Um drama. Minha avó gritava de um lado, minha mãe sem saber o que falar do outro, meu pai pálido e meu tio português doido pra me dar uma surra. Acabei tomando a tal injeção, não teve jeito.
Outra vez foi num quartel em que meu pai era comandante. Estava acontecendo uma campanha de vacinação e lá fui eu. Na certa me enganaram, caso contrário teria feito um escarcéu antes mesmo de entrar no carro. Até hoje está viva na minha memória a vergonha que fiz meu pai passar, pois chegando no quartel entramos logo numa fila repleta de crianças acompanhadas de seus pais. Eu deveria ter uns 6 anos, de bobo não tinha nada, e não demorou muito para eu começar a correr e dar olé em quem vinha atrás de mim. Foi um corre-corre danado e meu pai, comandante, com cara de tacho, sem saber o que fazer ou o que falar do filho apavorado por conta de uma agulhinha à toa. Não lembro quem conseguiu me segurar, só sei que tomei a tal injeção e voltei para casa como se nada tivesse acontecido e como se fazer escândalo fosse a coisa mais normal do mundo. Devo ter ouvido muito, levado muita bronca, aliás, porque não tenho mais lembranças de ter feito algo parecido. Se bem que até hoje não gosto de tomar injeção e quando sei que tenho um exame de sangue para fazer fico sem dormir. Dizem que é trauma. Mas de quê?
Ontem, para meu desespero, tive de fazer uma endoscopia digestiva. É que tenho andado com umas azias estranhas, uma sensação de vazio no estômago e uma tosse que, dizem, deve ser por conta de refluxo. Confesso que protelei o quanto pude, mas não escapei de fazer a tal endoscopia. Na semana passada fui ao médico e ele me exigiu o tal exame. Fui com meu pai, pois eles pedem que se vá acompanhado, pois nos colocam goela abaixo um calmante tipo mata leão, que é pra deixar a gente mansinho e sem coordenação motora quase nenhuma. E assim foi.
Cheguei na clínica antes das 10h, horário marcado para o exame. Eu estava calmo, em jejum e consciente que não poderia fazer nenhum escândalo. Afinal, já sou bem grandinho, pai de família, careca, barrigudo, peludo e coisa e tal. Tomei o tal mata leão e fui ficando grogue aos poucos, me escorando na parede do consultório e na barriga do meu pai até que me levaram para a antesala do exame. Lá estavam mais dois pacientes prostrados numas macas. Fiquei ao lado deles, esparramado e já sem entender muito bem o que estava acontecendo até que lá de dentro da sala onde os exames aconteciam comecei a ouvir uns grunhidos, uns engasgos. Era algo como ânsia de vômito misturado a tosse. Quem disse que eu consegui relaxar depois disso? Travei legal e fiquei mais atento que nunca.
Veio a enfermeira e levou o rapaz ao meu lado, o mais novinho. Não sei se este entrou e saiu na boa ou se eu eu apaguei por alguns instantes, mas o certo é que não ouvi ele dar um pio. Depois foi a vez do mais gordinho. Êita cara escandaloso! Tossiu, reclamou, disse que queria ir embora dali. Quase chorou. E eu ouvindo tudo, me borrando de medo de quando a minha hora chegasse. E chegou. A tal enfermeira me pegou pelo braço e me colocou numa outra maca, desta vez na sala do exame. A médica, uma mulher grande, com cara de enfermeira alemã nos filmes de guerra, me virou de lado, abriu minha boca e tascou um jato de spray que me anestesiou da garganta pra baixo. Eu estava tão atordoado que sequer disse um ai. Rápida no gatinho a doutora veio com uma espécie de funil e encaixou dentro da minha boca para que ela pudesse entrar com o tubo. Só lembro que eu babava feito cachorro enquanto o tubo entrava. Não tenho como lembrar quanto tempo fiquei naquela situação, mas quando já estava quase sufocando o suplício terminou. Saí da maca ainda babando com a enfermeira me segurando pelo braço. Meu pai me esperava lá fora. Pedi para ir ao banheiro dar um jeito na baba e nem sei se meu pai foi comigo, só lembro da gente indo embora pelo elevador, coisa que meu pai detesta.
Cheguei em casa ainda sob o efeito da anestesia e dormi a tarde toda. Acordei morto de fome, com minha mãe, meu pai e meus filhos mais novos em casa. Comi um purê de batatas muito do sem graça que minha mãe fez e umas frutas. Meu estômago doía mais do que nunca. À noite, depois da novela, meus filhos quiseram ver um dvd com meu nome que estava em cima do móvel. Era o dvd do exame, pois hoje em dia eles gravam tudo, até endoscopia. Pior que a garotada gostou de ver, principalmente a hora em que o tubo "morde" um pedaço do meu estômago. Viram mais de uma vez. Mas eu confesso que não gostei nadinha de me ver por dentro. Sou adepto da beleza exterior, saca? Prefiro um espelho...

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Poesia pouca é bobagem

O Sopro

Quartos e crianças espalhados pela casa
Um vento corre forte a sorte a sopros
Há velhos escondidos no saguão.
Como se não bastasse o riso
Um friso, um rio, um rastro,
Um chão.

Tudo ali ao lado é quase perto
O teto e as paredes pintam flores corrimão
Tapetes, portas soltas e janelas
Pinturas retratadas sobre as telas
Um rosto, um lábio, um cheiro,
O sim e o não.

O Rodrigo, meu amigo designer, é um cara "granfino" pacas.


Este é um desenho inacabado do Obama, figurinha da vez, feito pelo meu amigo Rodrigo Queiroz, designer mais mercenário e fdp que eu conheço. O cara tem talento. Tanto o criador quanto a criatura, espero...

Os dez menos

Dez coisas que eu menos gosto de fazer:
1 - Exame de sangue.
2 - Ter de sair de casa em dias de chuva.
3 - Usar calça comprida em dias de calor.
4 - Dirigir de sapatos.
5 - Correr em esteiras.
6 - Subir em balanças.
7 - Ir a bar com música ao vivo.
8 - Arrumar meu armário.
9 - Cortas as unhas do dedão do pé.
10 - Limpar a bunda do meu filho do meio.

Os dez mais

Dez coisas que eu mais gosto de fazer:
1 - Estar com meus filhos. Os 3.
2 - Estar com minha mulher. A única.
3 - Ir ao cinema. Sozinho.
4 - Jantar fora. Bem acompanhado.
5 - Viajar. Em todos os sentidos.
6 - Virar a noite.
7 - Aproveitar o dia.
8 - Gargalhar até faltar o ar.
9 - Ver o sol raiar.
10 - Dormir sem ter hora para acordar.

O Gostinho da Infância

Quando eu era pequeno eu era mau. Lembro que na casa do meu avô materno tinha um quintal enorme e ele criava umas galinhas, uns patos e, se não me engano, rolaram uns gansos por lá também. Eu e outros primos volta e meia estávamos neste quintal comendo jaca, cajá-manga, carambolas, tamarindos, entre uma brincadeira e outra. Mas eu gostava de fazer arte. Eu era arteiro, como se dizia. Nunca mais esqueci da vez que eu dei sabão ao invés de milho para as tais galinhas do meu avô Hugo comerem. A cara daquelas galinhas esganiçando o pescoço cada vez que davam uma bicada na barra de sabão nunca me saiu da memória. Nem a bronca que levei do meu avô, que me deixou de castigo sem poder ir ao quintal.
Eu também gostava de matar peixinhos. É, peixinhos de aquário mesmo. Meu avô Hugo também tinha um aquário. E eu matei alguns peixinhos dele. Eu fazia assim: pegava uma colher de sobremesa, uma de cabo dourado de um faqueiro antigo da minha avó Aina, e ficava bem de frente pro aquário, tentando disfarçar. Quando não tinha ninguém perto, eu pegava a colher e encurralava um peixinho nela, tirando-o da água até que ele parasse de se debater. Era com a mesma colher que eu cavava a terra e enterrava todos eles no quintal. Lembro que gostava de dar esta mesma colher para minha prima Miriam na hora da sobremesa. Ela, claro, não sabia da matança dos peixinhos. Mas adorava o doce de abóbora que minha avó fazia.
Minha prima Mônica era cúmplice em algumas destas artes, só que ela sempre teve fama de menina comportada. A culpa era sempre minha. E na verdade, o mentor de quase tudo era eu mesmo, confesso. Uma vez eu inventei de fazer um biscoito fantástico, delicioso, que só eu tinha a receita e disse pra ela que ela ia experimentar o biscoito mais gostoso do mundo. Ela acreditou, claro, e lá fui eu pra cozinha mastigar dezenas de biscoitos maisena, regurgitar, fazer bolinhas com a massa mastigada, colocar no tabuleiro, polvilhar açúcar, levar ao forno e pronto! Literalmente saía do forno mais uma maldade minha. Só que esta era uma maldade deliciosa, que todo mundo gostava, não só a Mônica. Meu irmão salivava quando eu falava que tinha o tal biscoito; os olhos da minha mãe brivalham; eu também adorava aquele biscoito.
Hummm... acho que vou fazer este biscoito de novo qualquer dia só pra sentir de novo um pouco do gostinho da minha infância!

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

A primeira receita a gente nunca esquece

Estava há pouco conversando com um amigo meu, separado, pai de uma filhinha de 3 anos de idade, que me dizia que tinha vontade de saber cozinhar pelo menos o básico, pois volta e meia ele está em sua casa com a filhinha e mal e porcamente sabe fritar um ovo. Acaba comprando comida pronta ou comendo em restaurantes. Convenhamos que comer fora é muito bom e coisa e tal, mas que sempre não é legal, ainda mais para crianças na idade da filha dele. E para o nosso bolso também!
Falava com ele a respeito deste meu blog, pois quero captar leitores para as bobagens que ando escrevendo atualmente. E ele, ao ler o título do blog certamente considerou se tratar de um blog de receitas. Não, meu camarada, eu não virei um José Hugo Celidônio e o propósito deste blog é outro que não ingredientes para um bom rango. Mas em se tratando de um amigo, resolvi colaborar e publico aqui a primeira receita deste blog - juro que pensei que fosse resistir mais tempo. É uma receita bem simples, de um macarrão com molho de tomate, pra você ver que não há mistério nenhum em cozinhar. Alguns mais chiques, para impressionar, gostam de chamar de massa, mas aqui em casa as crianças chamam de "macarrão do papai" mesmo. Então, aí vai a receita do "Macarrão do Papai" aqui!
Ingredientes (para 3 ou 4 pessoas):
1 pacote de meio quilo de macarrão tipo talharim
1 lata de molho de tomate da sua preferência
A mesma medida de água
1 tablete de caldo de legumes (opcional)
3 dentes de alho picados ou socados
1 cebola média cortada em cubinhos
3 colheres de sopa de azeite de boa qualidade
sal e pimenta do reino a gosto
1 xícara de folhas de manjericão fresco
Queijo ralado de boa procedência
Modo de fazer:
Coloque o macarrão para cozinhar numa panela grande com água fervendo, um punhado de sal e um fio de óleo. A massa deve ficar boa em no máximo 10 minutos de cozimento. Enquanto isso, vá preparar o molho. Numa outra panela coloque o azeite para esquentar e jogue o alho e a cebola para dourar. Só de pensar no cheirinho do alho e da cebola fritando já me dá água na boca! Quando o alho e a cebola estiverem dourados, é hora de colocar o molho de tomates. Mexa bem para dar uma boa refogada e junte a mesma medida de água. Deixe borbulhar e então, se gostar, jogue o tablete de caldo de legumes que deve estar amassado para facilitar na hora de dissolver. Prove o sal, pois estes tabletes costumam ser bem salgados. Caso necessário, ponha mais sal e não esqueça da pimenta. Aqui em casa as crianças estão acostumadas com pimenta. Na sua, eu não sei. Portanto, cuidado e não exagere. Deixe o molho encorpar em fogo brando. É o tempo de escorrer o macarrão, que a esta altura já deve estar pronto, al dente. Escorra, mas não jogue água sobre ele de jeito nenhum e ponha num recipiente parta servir. Corra no fogão, desligue o fogo e jogue as folhas de manjericão fresco no molho de tomates e sinta o aroma... é sensacional! Com uma concha, coloque o molho sobre o macarrão e sirva. Um queijo ralado de boa procedência também cai muito bem. Assim como um vinhozinho tinto. As crianças realmente adoram esta receita... e as mães delas também.
Bom apetite!

Personal Clown

Quem olha pra mim à primeira vista não faz idéia do meu bom humor. Não sei por que, mas tenho a maior cara de invocado. Acho que foi herança do meu pai que, por sinal, herdou da minha avó este semblante sério, de poucos amigos. Lembro que uma vez, há muitos anos, ainda na faculdade, eu fazia umas aulas no turno da tarde e não conhecia quase ninguém, estava sentado no pátio esperando uma das aulas começarem, quando uma menina, loira, bonita, chegou perto de mim e me perguntou por que eu estava tão zangado. Eu olhei pra cara dela, abri um sorriso meio amarelo, tímido, típicos dos que são pegos de surpresa, e disse que não estava zangado com nada. Então ela virou e disse sem a maior cerimônia que eu deveria sorrir mais.
Desde então venho tentando esboçar uma feição mais simpática, com um sorrisinho de canto da boca aqui e outro ali, só que volta e meia me percebo de cara amarrada e me pergunto por que quero parecer tão gente boa? Eu sou gente boa, mas não pareço. E dane-se! Conheço tantos que parecem gente boa e não são. Vivem com aquela cara arregaçada aos quatro cantos, espalhando sorrisos contagiantes, apertando a mão de uns, dando tapinhas nos ombros de outros, típicos políticos em época de eleição. Não que todos que ajam assim não sejam gente boa. Conheço alguns que são pessoas relamente ótimas, esclarecidas e pra lá de evoluídas. Mas os verdadeiros, os originalmente assim, são raros. Pode acreditar.
Enquanto isso, eu, que sou gente boa, sigo com a minha cara de poucos amigos. Logo eu, que tenho amigo pra caramba e volta e meia animo o dia de uns deles. Hoje mesmo estava no MSN quando entrou uma amiga minha de Juiz de Fora, Roberta Abramo, atriz criada na base do doce de leite com queijinho de minas, dona de uma pele espetacular e um humor ácido, afiado, mas às vezes ingênuo ou provinciano. Digo que ela é garota nova. Ela não gosta muito. Mas volta e meia ela me aparece com uns questionamentos e umas crises tão contornáveis que nós, que já passamos dos 30 faz tempo, tiraríamos de letra. Daí que eu começo com meu jeito de quem não leva a vida muito a sério e o final do bate-papo é só risada.
Não é a primeira, a segunda ou a terceira vez que ela me aparece no MSN meio cabisbaixa, meio sorumbática. Eu entendo. Os artistas são assim mesmo. Sofrem por qualquer besteira. Por amor, então, nem me fale. Eu também sou assim. Acho que vem daí minha vocação pra artista. Mas eu ainda consigo enxegar que tudo pode ser mais simples. Que a vida é simples. Nós é que nos ocupamos de complicá-la. Então eu brinco. E rio. E faço rir muitas vezes, apesar de não parecer.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

É verdade, eu sei cozinhar. Desde pequeno me interessava pelo que vinha da cozinha. Fosse o cheiro do ovo frito que minha avó fazia para comermos com o pão fresquinho no lanche da tarde ou os bolos da minha mãe, nada passava desapercebido por meu olfato e, claro, meu paladar. Daí minha barriga, que não me abandona e sequer me deixa mentir. Mas não é para trocar receitas que eu estou aqui. E nem você, espero. Eventualmente até podemos, mas por enquanto prefiro trocar idéias. Porque além de saber cozinhar, eu também tenho idéias. Muitas. Penso tanto que muitaz veses penso até que não existo. Porque penso muito. Agora, me diz: por que penso tanto? E por que sofro com isso? É verdade. Sofro porque penso que penso muito e acho que pouco faço. Não sei se o caso é de pouco caso comigo mesmo ou de mero acaso. Confuso. Difuso. Parafuso. Às vezes minha cabeça dá mesmo um nó.
Mas não é estranho pensar tanto assim? Juro que preferiria não pensar em nada. Melhor: preferiria não saber de nada. Não ler jornais, não assistir televisão, sair nas ruas às cegas, enxergando só aquilo que eu achasse legal enxegar. Só que não dá. Não rola. Não consigo mesmo. E me apavora e entristece ver um ano novo começar sob a névoa de bombardeios na Faixa de Gaza e as previsões de uma crise anunciada, por exemplo. Que mundo é este em que eu vim parar e, de quebra, ainda coloquei uma legião de filhos? Que mundo é este de mudanças climáticas, onde o meu Rio de Janeiro veste as cores do inverno em plena estação do sol? Que mundo é este onde não se sabe mais o nome do vizinho, onde são cada vez mais raros cumprimentos de "bom dia" e onde os sorrisos se escondem atrás de máscaras e capas e escudos que nos escondem de nós mesmos? Ah... acho tudo isso muito complicado. E difícil. E estranho. É errado.
Tenho certeza de que está tudo errado ou então que os planos não deram muito certo. Somos seres complexos: carne, ossos, músculos, nervos, neurônios, sorrisos, abraços, saudade, paixão, excessos, amor... vaidade, luxúria, tesão, mentiras, pelos, cheiros, secreções... narinas, orelhas, meninos, meninas, vestidos, desnudos, primavera, verão e tantas outras canções... poesia. Às vezes eu queria que minha vida fosse feita só de poesia.
Mas aí eu paro e penso se quem nos criou tinha idéia do que estava fazendo.