Tenho andado muito tempo sozinho. Por mais que eu encontre pessoas no decorrer do meu dia - não são poucas - tenho me sentido sozinho. Desde que mudei de jornal tenho vivido um certo clima de 'Feitiço de Áquila', aquele filme em que os personagens principais só se viam por instantes. Chego em casa, mulher e filhos dormindo. Assim que eu pulo da cama, eles estão de saída. Dá tempo para um beijo, um olhar carinhoso, um abraço de bom dia.
Fecho a porta.
Fico eu e o cachorro, que não fala, mas me pede para sair. Coleira na mão, hora do meu exercício diário de esquizofrenia. Subo pela rua meio que tentando travar um diálogo com o cão. Ele caga e anda, literalmente. Eu vou e limpo.
Volto para casa. Quase meio-dia. Bate a preguiça junto com a culpa e vou malhar. Mais devagar que nunca. Academia praticamente vazia. É hora de almoço, outro clima. Ali não sinto vontade de conversar. Só vou mesmo para suar, liberar umas toxinas e não deixar a máquina enferrujar. Isso tudo em uma hora, no máximo.
Em quinze minutos eu ando da academia até minha casa. Sozinho. Abro a porta e o vira-latas lá, abanando o rabo. Eu olho para ele e me dá uma agonia danada daquela vida de cão. Volta e meia dá uns latidos. A vizinha do andar de cima dia desses subiu comigo no elevador e disse que calopsita dela tinha aprendido a latir com o meu cachorro. Perguntou se eu já tinha ouvido a calopsita dela latindo.
- Não, nunca. Leva ela no 'Se vira nos trinta' - eu respondi.
Quase nunca falo com vizinhos.
Saio de casa já no meio da tarde. Tenho tentado ler um livro no trajeto casa-jornal, mas ainda não passei da página 22. Num instante estou na redação, onde fala-se muito sobre muitas coisas. A baixa umidade do ar e os incêndios por todo o Brasil têm me chamado a atenção em meio a tantos resultados de pesquisas eleitorais.
A impressão que se tem é a de que o jogo está ganho e eu cada vez mais tenho certeza de que esta é uma eleição atípica. Campanha que começou antecipadamente. Tudo muito bem planejado, bem arquitetado. Como só os mais inteligentes são capazes. Tenho cá minhas teorias a respeito da história recente da nossa política. Se há oito anos o Brasil estava ávido por mudanças, hoje a realidade é outra. Presenciamos o surgimento de uma era de continuidade e de uma classe média e uma oposição perdidas.
- Preciso conversar com uns amigos sobre isso, eu penso.
Penso também na Claudia e nos meus filhos. Preciso de mais tempo.
Eu tenho andado mesmo muito sozinho.
Fecho a porta.
Fico eu e o cachorro, que não fala, mas me pede para sair. Coleira na mão, hora do meu exercício diário de esquizofrenia. Subo pela rua meio que tentando travar um diálogo com o cão. Ele caga e anda, literalmente. Eu vou e limpo.
Volto para casa. Quase meio-dia. Bate a preguiça junto com a culpa e vou malhar. Mais devagar que nunca. Academia praticamente vazia. É hora de almoço, outro clima. Ali não sinto vontade de conversar. Só vou mesmo para suar, liberar umas toxinas e não deixar a máquina enferrujar. Isso tudo em uma hora, no máximo.
Em quinze minutos eu ando da academia até minha casa. Sozinho. Abro a porta e o vira-latas lá, abanando o rabo. Eu olho para ele e me dá uma agonia danada daquela vida de cão. Volta e meia dá uns latidos. A vizinha do andar de cima dia desses subiu comigo no elevador e disse que calopsita dela tinha aprendido a latir com o meu cachorro. Perguntou se eu já tinha ouvido a calopsita dela latindo.
- Não, nunca. Leva ela no 'Se vira nos trinta' - eu respondi.
Quase nunca falo com vizinhos.
Saio de casa já no meio da tarde. Tenho tentado ler um livro no trajeto casa-jornal, mas ainda não passei da página 22. Num instante estou na redação, onde fala-se muito sobre muitas coisas. A baixa umidade do ar e os incêndios por todo o Brasil têm me chamado a atenção em meio a tantos resultados de pesquisas eleitorais.
A impressão que se tem é a de que o jogo está ganho e eu cada vez mais tenho certeza de que esta é uma eleição atípica. Campanha que começou antecipadamente. Tudo muito bem planejado, bem arquitetado. Como só os mais inteligentes são capazes. Tenho cá minhas teorias a respeito da história recente da nossa política. Se há oito anos o Brasil estava ávido por mudanças, hoje a realidade é outra. Presenciamos o surgimento de uma era de continuidade e de uma classe média e uma oposição perdidas.
- Preciso conversar com uns amigos sobre isso, eu penso.
Penso também na Claudia e nos meus filhos. Preciso de mais tempo.
Eu tenho andado mesmo muito sozinho.