domingo, 17 de dezembro de 2023

Benditos sejamos

Abençoados pela chuva e pelo vento 

Pelo espaço e pelo tempo 

Por inteiro, não pela metade.


Agora é sarar tudo que arde

Estancar tudo que sangra: 

a pele, o peito, a alma.


(Tempo acalma essa vontade)


Benditos já fomos nós, lembra? 

Que outrora passeávamos nus por aqui.

 

Corpos molhados lado a lado,

Troncos e membros espalhados, 

Raízes profundas nesse chão.


(Tempo perdido volta mais não)


Glorificados sejam todos os que amam

Com bravura e com coragem,

Com firmeza e com verdade

Com encanto e liberdade.


Porque vida é tempestade, 

é esse aguaceiro, é vendaval.


(Amor é benção).

quinta-feira, 23 de novembro de 2023

Interpretação de texto

Escrevo como quem canta para ouvir a si mesmo, quebrando o pacto dos versos que trago em silêncio desde o dia em que aprendi que há tantos eus ecoando lá fora (à procura de outras rimas). 

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Virada de tempo

Bastava meia palavra para que tudo mudasse e outros ventos soprassem rajadas de versos nos nossos destinos. 

sexta-feira, 15 de setembro de 2023

Poesia oculta

Trago aqui dentro uma poesia silenciosa, um bailado perene de rimas passeando sorrateiramente na minha imaginação. 

Guardo frases nunca escritas, crio discursos jamais lidos, tenho diálogos ocultos em versos, não em prosa. 

Viver é verbo. 

O resto é ficção. 

terça-feira, 11 de julho de 2023

A estrada é de cada um

Já fiz coisas imperdoáveis desde que estou aqui. 
Amei quem não devia, mantive chamas acesas, brinquei noites e dias. 
Na cidade sem esquinas rascunhei versos impublicáveis, rompi com esquemas, 
me despi dos problemas, fui do céu ao inferno. 

Tudo do jeito que eu bem entendia. 

É que eu trouxe comigo a poesia. 
Espalhei aqui muitas das minhas estrofes, 
reescrevi meus parágrafos, me deixei levar por outros versos
sem nem sequer saber para onde eu ia. 

À minha frente há luz e sombra, eu sei. 
Acima, o Altíssimo camuflado desse azul tão claro, tão raro, que ora me cega. 
Abaixo, o fosso, a fenda no caminho, feito um hiato-tempo-espaço sob meus pés castigados pela seca. 

Ao redor é tudo barro, algumas frases mal escritas, tantas árvores retorcidas, passado, presente, vida, pó. 

Lá fora é muita gente. 
Dentro é sozinho. 

(A estrada é de cada um)


sexta-feira, 16 de junho de 2023

Beira d’água

Molha meus pés no ventre brilho beira d’água, correnteza deste breve oceano que ora jaz dentro de mim. Mergulha em meus segredos, suaves brisas, teu desejo, desapego entre meras nuvens adornadas de cetim. Frente fria anunciando, esse vento me cortando e eu ali calado, lado a lado, mão que afaga, afoga, afunda o ferro em minha alma e sangra a carne cor carmim. 


(poesia que transborda)

sábado, 3 de junho de 2023

Encruzilhada

Hoje sou minha própria estrada. 

Vê, tenho cá meus pés sujos do barro desse chão batido, trago o que há de mais bonito aqui por dentro, chega mais perto, sente esse vento soprando manso na alvorada do meu corpo e o vendaval nas curvas do meu caminho. 

Faz silêncio, senta aqui e escuta: acho que nunca te contei das vezes em que fui ilha e também encruzilhada. 

De quando desbravei mata virgem ou do tempo que conheci terra arrasada, bicho homem, bicho menino, meio sem rumo, meio sem nada. 

Porque minha vida nunca teve atalho. Eterna batalha interna entre a luz e a sombra, mão direita carregando a cruz, no meu peito eu enterrando a espada.