terça-feira, 11 de julho de 2023

A estrada é de cada um

Já fiz coisas imperdoáveis desde que estou aqui. 
Amei quem não devia, mantive chamas acesas, brinquei noites e dias. 
Na cidade sem esquinas rascunhei versos impublicáveis, rompi com esquemas, 
me despi dos problemas, fui do céu ao inferno. 

Tudo do jeito que eu bem entendia. 

É que eu trouxe comigo a poesia. 
Espalhei aqui muitas das minhas estrofes, 
reescrevi meus parágrafos, me deixei levar por outros versos
sem nem sequer saber para onde eu ia. 

À minha frente há luz e sombra, eu sei. 
Acima, o Altíssimo camuflado desse azul tão claro, tão raro, que ora me cega. 
Abaixo, o fosso, a fenda no caminho, feito um hiato-tempo-espaço sob meus pés castigados pela seca. 

Ao redor é tudo barro, algumas frases mal escritas, tantas árvores retorcidas, passado, presente, vida, pó. 

Lá fora é muita gente. 
Dentro é sozinho. 

(A estrada é de cada um)