quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Poesia é bom e eu gosto

Tem dias que acordo com umas palavras soando em minha mente. Aí eu sento e deixo as palavras soarem com mais clareza pra eu poder ouvi-las e escrevê-las. Quando mais novo usava meu caderno, hoje tenho este blog. O caderno ficava guardado até que um dia eu resolvesse mostrar a alguém o que havia nele. O blog, não. Aqui só não lê o que eu escrevo quem não quer.


Enquanto isso

Corre-me o tempo com a mesma doçura de quando eu era apenas uma criança.
Lava-me a chuva breve tal qual a tarde quente entre tantos outros campos.
Conta-me uma história, daquelas que nos fazem dormir em sonhos de menino.
Livra-me das amarras que me prendem aos encantos de nem saber por que partir.
Deixa-me ficar. Deixa... deixa...

Sinto-me dissolver em brumas leves até que ondas de otimismo invadem minha noite.
Fixo-me nos olhos da penumbra que aquece meu quarto enquanto a infância dorme ao lado.
Largo-me entre as palavras que me soam como o canto que assobia e eu via e ria. Eu cria.
Encanto-me ao ver que o passado já não mais habita em minha mente e eu sigo.

Enfrento-me. Despeço-me. Impeço-me. Desbravo-me.

Enquanto isso me encontro.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

O episódio da porta do banco


O que vou relatar agora é a mais pura verdade. Quando conto, alguns amigos pensam se tratar de piada, mas apesar da história ser protagonizada por uma portuguesa, juro de pé junto que aconteceu pra valer. Aliás, corro o sério risco de ser banido da família por conta de postar tal acontecimento no meu blog, mas já passei tempo demais contando esta história para apenas uns poucos e bons. Já chega. Tomei a firme decisão de escrevê-la e eternizá-la para que ela ganhe a dimensão devida. Afinal, é uma história e tanto.
Bom... já faz alguns anos e minha sogra chegou em casa depois de um exaustivo dia de trabalho. Encontrei com ela na cozinha e, com o bom humor que lhe é característico, começou a me contar a vergonha que havia passado naquela tarde chuvosa e friorenta de um atípico inverno carioca fora de hora. Como não resisto a um bom papo resolvi sentar, me servir de um suco e prestar mais atenção ao que ela começava a relatar.
Com o sotaque carregado de quem havia acabado de chegar da terrinha ela disparou a falar: "Hoje à tarde fui ao banco". Até aí nada demais, né?, eu pensei. Volta e meia também preciso ir ao banco e, confesso, detesto. Mas aquela ida ao banco da minha sogra tinha um quê especial pelo simples motivo dela nunca ter precisado resolver nada no banco pessoalmente. Ou ela resolve via telefone, via Internet ou alguém resolve por ela. O fato dela ter de ir ao banco era mesmo uma novidade. Ela continou dizendo que estava em frente ao banco por volta das 15h30, quinze minutos antes do combinado com o gerente. Ao entrar travou na porta giratória. É aí que a piada, digo, que a graça da história começa.
_ A senhora pode voltar e se posicionar atrás da linha amarela, por favor, disse o segurança.
_ Pois não, disse minha sogra, voltando-se para atrás da linha amarela.
_ Agora pode vir, disse o segurança. Obediente como ela só, minha sogra foi e travou mais uma vez. Sem que o segurança pedisse ela voltou para atrás da linha amarela e esperou que ele fizesse sinal para que ela andasse para frente. Feito isso, ela travou de novo, já bastante sem graça, meio tonta até e sem entender o por quê de não conseguir ultrapassar os limites da porta giratória.
_ A senhora tem chaves?, perguntou educadamente o segurança.
_ Não, não tenho chaves, respondeu minha sogra, muito séria, de cenho franzido.
_ Então, por favor, volte mais uma vez para atrás da linha amarela, repetiu o segurança. Minha sogra fez o que ele pedia, enquanto uma fila de clientes do banco começava a se formar atrás dela. Ao tentar entrar pela quarta vez a porta giratória travou de novo e mais uma vez o segurança:
_ Tem certeza que a senhora não tem chaves?, indagou ele, desta vez demonstrando certa impaciência. Só que a impaciência que o segurança demonstrou foi o bastante para despertar a ira lusitana da minha sogra que, de pronto, respondeu:
_ Não, não tenho chaves, meu nome é fulana de tal, da empresa tal, tenho uma reunião marcada com o gerente deste banco daqui a 15 minutos e nunca me disseram que eu precisava ter chaves para entrar no banco!
Um silêncio constrangedor tomou conta da entrada do agência do Banco do Brasil naquele momento e por alguns instantes todos se entreolharam até que o segurança resolveu liberar a entrada da minha sogra. Ela entrou, agradeceu e seguiu para a tal reunião sem olhar pra trás. O encontro com o gerente não durou mais que meia hora. Resolveu o que tinha para resolver e voltou ao escritório. Do banco ao escritório são no máximo uns 10 minutos a pé, tempo mais que suficiente para minha sogra ensaiar uma tremenda bronca no office-boy. Até porque, a culpa dela não saber que para entrar naquele banco precisava de chaves era dele, ora pois!
Ao chegar no escritório minha sogra não pestanejou e foi direto falar com o Rafael, o boy:
_ Como é que tu não me avisas que é preciso chaves para entrar no banco?
O pobre do Rafael arregalou os olhos sem entender nada e, na verdade, sequer teve tempo de entender, já que minha sogra disparou a narrar o acontecido. Foi o bastante para que todos no escritório caíssem na gargalhada e o caso da porta do banco virar piada de português. Ou de portuguesa, como queiram!

De lá pra cá não me canso de contar esta história. Ou piada... ai, Jisuis!!