- Alô?
- Fala aí! Te acordei?
- Não, mas já estava indo deitar. Tá tudo bem?
- Tá.
- Duvido. Pra você me ligar a essa hora é porque deu alguma merda. Fala logo.
- Lembra daquela mulher que eu saí lá em São Paulo?
- Aquela dos quinze segundos?
- A própria.
- Puta que pariu! Tá grávida?
- Claro que não!
- Menos mal, convenhamos. Imagina você trepar sem camisinha, o que é uma irresponsabilidade, gozar em quinze segundos, o que é uma vergonha, e ainda por cima engravidar a mulher que você acabou de conhecer e não sabe quando e nem se vai encontrar novamente? Só você, numa boa...
- Só eu.
- Mas diga lá. Qual é a dela?
- É louca.
- Isso você também é.
- Sou. Mas já basta a minha loucura, né?
- Isso é verdade. Como você dá conta eu não sei. Mas e ela? Conta aí.
- A mulher me liga todo dia. Gamou. Se quinze segundos fizeram isso com ela, imagina mais uns minutinhos? Diz que me ama, que vai casar comigo, quer me levar para a Itália, que eu sou o homem da vida dela, que vai me fazer feliz. Tem um papo meio de bruxa, sabe?
- Sei. Tá cheio dessas doidas por aí. Desde que me divorciei já conheci algumas. Esses aplicativos ajudam bastante. Mas só encontro gente rasa, carente, maluca. Outro dia conheci uma que cismou que ia cuidar de mim que nem minha mãe cuidava. Achei fofo, mas perdi o tesão. Imagina comer minha mãe?
- Porra, Édipo nível hard. Graças a Deus ela não quer ser minha mãe. Era só o que me faltava.
- Mas qual o problema, então?
- Quer me comer.
- Oi?
- Cismou que vai me comer, é mole?
- Ela quis dizer que vocês vão transar, que vocês vão gozar muito e que vai ser bom pra caralho, foi só isso, não foi?
- Não. Não foi isso. Ela quer comer meu cu. Disse com todas as letras. Está ameaçando sair de São Paulo e vir pra cá nesse final de semana. Diz que tem uma cinta com um pau preto pendurado. Que nem de filme, já viu?
- Já.
- E agora?
- KY, ora bolas.
- Sem sacanagem, vai. O que eu faço?
- Corre dessa demônia, né, porra? A não ser que...
- A não ser o quê?
- Ih... está em dúvida, já vi tudo.
- Dúvida o escambau!
- Então por que me ligou nervoso, aflito, angustiado? Ou dá ou desce!
- Ela é gente boa.
- Então, dá.
- Nem.
- Então, desce.
- Vou pensar.
- Humm... vai dar!
- Sifudê, cara!
- Ela não é gente boa?
- Muito. Gostosinha, pele macia, cheirosa, style, cheia de tatoo, bem estilo daquelas paulistanas da Rua Augusta.
- Tua cara.
- Pois é.
- Então, dá.
- Tô falando sério.
- Então, desce.
- Porra, me ouve. Eu gosto dela. Quero encontrar com ela de novo e tentar apagar aquela má impressão, pelo menos para mim, dos quinze segundos. Meu pavor é a gente lá na maior pegação e a danada começar com esse papo de inverter os papéis. Brochada na certa.
- Tô imaginando aqui.
- A brochada?
- Não. Ela te pegando de jeito!
- Pode parar!
- Parei. Vou ter pesadelo.
- Pesadelo é o que eu tô vivendo.
- Sem drama. Bebe que passa.
- Só bebendo mesmo, vou te contar. É cada uma...
- Bebe, mas não bebe muito. Cu de bêbado não tem dono!
- Ah, vai...
- Vou... vou tentar dormir depois dessa, isso sim. E você, cuidado com a maluca.
- Mas e eu? O que eu faço?
- Já disse: ou dá ou desce!
- Teu cu!