sexta-feira, 18 de novembro de 2016

As mais finas flores

Faz pelo menos dez dias que não se ouve um barulho sequer lá fora. Nem o sopro do vento, nem o balanço do mar, nem o tic tac das horas. Nada. Silêncio, silêncio e mais silêncio. Justo ali, onde poderíamos gritar aos quatro cantos  o que se passava dentro de nós. Mas sequer queríamos. Debruçadas na varanda, as luzes distantes de uma cidade inteira não paravam de brilhar. Ninguém nas ruas. Acima, o céu era dos pássaros que davam seus rasantes como fossem entrar pelas janelas da casa, no verde alto daquele morro. Abaixo, nossos pés pisavam em ladrilhos cor de nuvem cinza, chumbo, chão. O sol nas nossas mãos queimava os cigarros apertados com fumo das mais finas flores. No ar, um cheiro de mansidão.

E nós dois ali, germinados, a plantar sementes, calados, mudos, terra fértil, útero, seio, alimento, vida, sim e não.