quarta-feira, 1 de outubro de 2014

As horas passam rápido demais

Mesmo se ela chegasse ao som de música e me abreviasse a dor,
talvez eu não percebesse.
Eu ando mesmo muito desatento ultimamente com a poesia.
Há o descompasso, o ritmo acelerado e todo o barulho que faz do lado de fora,
o caos que teimam em chamar de vida em alguns livros e filmes por aí.

Então eu penso que já pode ter chegado a hora
e recolho tudo o que eu ainda não disse.
Eu guardo todas as palavras no meu velho baú,
junto as cartas nunca escritas e outras tantas que eu também não li,
é só silêncio no meu interior.

Eu já não ouço mais os versos que ali havia e que me sopravam todas aquelas rimas.
Eu ando mesmo saudosista esses dias.

Se minha avó ainda estivesse viva, ela ia cantar uma canção para eu dormir agora,
feito aquelas que ensaiava quando eu deitava em sua cama
nas noites em que eu não tinha sono.

Naquela época eu inventava histórias e prestava atenção em tudo o que eu via:
as crianças na praça, as mulheres na esquina, o cigarro aceso nas mãos do meu pai.

Eu sempre tive os olhos pequenos, porém ligeiros e sorridentes.
Os gestos lentos, estes se aproximaram com o passar dos anos
e foram se instalando por aqui.

Eu era o fruto bom amadurecendo devagar até me desprender do caule ao chão.
De uma só vez, eu semeei a terra úmida e quente que me amorteceu a queda
e me recebeu inteiro.
Porque jamais me desfiz em pedaços.
Jamais.

A morte pode ser lenta, eu sei, mas as horas pelas manhãs passam rápido demais.