sexta-feira, 2 de abril de 2021

Metaforicamente

Ah, quantas vezes já quis parar o mundo nem que fosse por um segundo e me perder nesse poço sem fundo dentro de mim? Aqui fora, meu corpo é verso rabiscado na parede branca e aquilo que cai deitado ali, meio inclinado, é minha sombra, meu reverso, o avesso, a não poesia. 

Percebe como minha voz às vezes é mansa?

Lembra canto de ave rara, canto breve em sol menor, feito a brisa suave que sopra rima em seus ouvidos. Ouve só. Voz de menino passarinho avoando bem baixinho como fazem as gaivotas quando encostam suas asas delicadamente na superfície do mar. Chego a ficar sem ar. 

Ondas rebentando na areia e eu ali, exposto. Não me importo. 

Naquele momento é como seu eu conseguisse de fato parar o mundo. Respiro fundo. Inspiro. Estamos por aqui sozinhos mesmo, eu sei. Isso também já não me importa. Expiro. A verdade é que não falta muito tempo, já é outono novamente, o céu borrado de azul deixa meus dias mais bonitos e, juro, tenho ouvido Nick Cave. 

Não sei se te falei, mas ontem mesmo me disseram que a vida é uma grande metáfora. Acreditei. 

E metaforicamente mergulhei em mim. 

(você estava lá?)