sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Do pó que viestes

Às vezes é como enlouquecer.

Perder os sentidos.

Deixar-se escorrer entreatos, roubar as cenas reescritas, decorar diálogos truncados, ouvir interpretações distorcidas. 


O bicho homem é vaidoso que só. 


Egocêntrico, eu sei. 

Falocêntrico eu sou. 


E também fanfarrão, iludido, vendido, desavergonhado, descompromissado, único, ciente que de pulvere venisses in pulverem reverteris. 


Tudo aqui se desfaz em pó. 

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

Esses dias têm sido assim

Um choro de alívio incontido tem se abatido sobre mim esses dias.

É choro de alegria, que cai feito tempestade, dilúvio da minha alma, cântaros d'água lavando as dores que cismaram em derramar do meu peito aberto e veem chegar mais perto as faces de um outro eu. 

Já foi tudo mais confuso, lembra? 

O mundo sempre foi esse transe, agora eu sei e, não faz muito tempo, me ensinaram a dançar. 

Dois pra lá, dois pra cá, passos precisos, coreografados, milimetricamente ensaiados para essa estreia nossa de cada dia. 

Ouço música. O tempo inteiro ouço música. A vida de todo mundo tem uma trilha sonora, acredite, baby, eu sei que é assim. 

A minha tem mais de uma, confesso. 

Recebo, então, a notícia de que morreu Gal Costa e ali, mesmo que por um instante, muita coisa silenciou em mim. 

Porque o canto é o verbo em toada, nossa vida é breve, sua voz sagrada.

Choro. 

Alívio. 

Esses dias têm sido assim.