segunda-feira, 6 de julho de 2009

Ninguém é o que é ou O fantasma de Eva Klabin


"Ninguém é o que é, todo mundo está só sendo alguma coisa" foi o que ouvi de um amigo meu ontem à tarde. Ele se referia às pessoas que conheceu durante os seis meses em que morou em Londres, onde a febre de ter de fazer dinheiro é a doença que afasta cada um de seu cada um. Ele me contou também que conheceu muita gente com talento para ser muita coisa, mas que para sobreviver faziam mesmo era qualquer coisa. Afinal, estavam em Londres e Londres não é qualquer lugar do mundo. É a terra das princesas e rainhas, do príncipe e sua amante, de Beatles e Rolling Stones, do Radiohead e mais o que nossa mente considerar alternativo ou de vanguarda. Eu tenho a maior vontade de conhecer Londres.


Este meu amigo me disse ainda que passar uma temporada em Londres é como passar pelo purgatório e que se você sobrevive àquela selva sua vida nunca mais será a mesma depois. É como um estágio, ele disse. Um estágio que eu nunca vou fazer, diga-se de passagem, pois se é pra passar por purgatório, que pelo menos eu esteja perto daqueles que amo, falando a língua que eu domino, pisando em terras que eu conheço. Cada vez mais eu tenho certeza de que não vim parar nesta vida pra resolver minhas questões longe de tudo aquilo que tenho como referência. E aqui não há um tom de crítica a quem escolhe ou se vê obrigado a escolher viver num outro país. Acho que se eu não tivesse me casado tão cedo também encararia uma aventura destas. Hoje, aos 40 anos e com 3 filhos, não mais. Quero, sim, conhecer Londres, visitar a Tate Modern, os pubs, passear em Candem Town e procurar saber se é verdade que o Reino é unido. E só. Até porque, em termos de vanguarda e produção artística, hoje em dia vejo mais Berlim como pólo cultural do que qualquer outra cidade da Europa. E este meu amigo também.

Por falar em vanguarda e produção artística, semana passada estive num evento no Cine Glória chamado Capacete, que a cada 15 dias reúne alguns artistas plásticos para conversarem a respeito de suas produções e de seus processos criativos. O convidado da noite era o artista plástico Ernesto Neto, de quem eu já conhecia alguma coisa, porém nunca tinha participado de um papo cara a cara com ele. Figuraça, completamente descabelado e amarrotado, Ernesto é daqueles que tem muito o que falar e a plateia fica completamente hipnotizada por ele. Quem estava presente pode ver slides com suas obras e ouvir como aquilo tudo ia surgindo, desde os materiais usados até ao que tinha dado errado. Além da generosidade, que em muito me fez lembrar do meu querido e saudoso amigo Sérgio Bernardes, o bom humor também é peça fundamental na vida do artista. Prova disso foi a história de sua instalação na Fundação Eva Klabin, há 5 ou 6 anos, quando cobriu de lençóis brancos todas as obras de arte existentes na casa por "achar aquilo tudo lá muito careta" e teve a certeza de que o fantasma de Eva Klabin existe e vive nos cômodos da Fundação. Isso porque os seguranças de lá falam dela como se ela estivesse viva, talvez com medo de que ela puxe os pés deles durante os cochilos noturnos.

E enquanto eles cochilam eu continuo querendo ser o que eu sou e não apenas qualquer coisa.
A foto que ilustra este post não é de nenhum fantasma, mas de Eva Klabin ainda jovem. A Fundação que leva seu nome foi criada em 1990, um ano antes do seu falecimento, fica no Rio de Janeiro, mais precisamente no bairro da Lagoa. Maiores informações no site www.evaklabin.org.br.

4 comentários:

  1. Esse papo seu tá qualquer coisa...vc já está pra lá de Marrakesh...

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  2. Talvez pudéssemos pensar que "todo mundo é o que é quando não está tentanto ser aquilo que não é".

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  3. penso o mesmo de Nova York. são cidades que exigem que vc seja o "melhor" e nessa busca por não ser um "loser", vc acaba sendo qualquer coisa.

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  4. Marcio, morei em Londres 7 anos e não foi um puragatório não. Nem inferno, nem paraíso, apenas um lugar que virou por um tempo uma segunda casa. Ralação e aprimoramento, foi bom ir, foi bom voltar. Passear por lá é ainda melhor! Quanto ao reino ser unido, não é. A coroa britãnica dá aquela massagrada básica na Escócia, na Irlanda e no pais de Gales, podiam ser independentes que seria melhor pra eles, não pros ingleses, claro!

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