Quando tudo começou, juntei todos os eus ali naquele apartamento-corpo morada de mim.
Cada um num canto.
Enquanto eu lia trechos de um conto nervoso, lá fora a noite se derramava em temporal.
Um outro eu ouvia os versos que eu mesmo escrevia cá dentro, rimas, ritmos, músicas.
Eu me pus a dançar.
Eu e eu noite e dia.
Pensei tantas coisas, revirei por inteiro, baguncei minhas gavetas, me desfiz de tudo aquilo que por muito tempo escondi.
Despido de mim.
Sobraram a fantasia do eu-menino, os delírios do eu-homem, e aquela minha liberdade imoral que contaminava feito o vírus perigoso no ar.
Foi então que me calei e me tranquei sozinho.
E em meio a tanto silêncio, os olhos dos outros eus confiantes de que tudo aquilo também ia passar.