sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Úmida

Desliza tua língua (sobre mim)
e deixa um rastro de saliva úmida (eu quero).

Junta o gosto ácido da palavra,
conjuga o verbo intransitivo do amor,
a frente, o verso,
a frase, a rima,
vem você aqui em cima,
espalha em minha carne o teu suor.

Debruça lentamente sua cabeça (no meu peito)
e afaga o que de mim ainda é seu (para sempre).

Percebe no meu toque o gesto simples,
segura firme com as suas minhas mãos,
lê todas essas linhas, montes, vênus,
desvenda meus segredos,
aperta os laços, intensifica os abraços,
seus lábios assim tão perto dos meus.

Desliza tua língua
no rastro da saliva úmida.

(certas noites morro de calor)




domingo, 19 de janeiro de 2014

Eu sei

Eu,
que apenas observo o mundo,
sigo tantas vezes calado,
me finjo de mudo,
noutras sou surdo,
mas cego nunca fui.

Do pouco que eu vi de tudo,
esse tudo me parece tão pequeno,
um quase nada,
um breve instante,
um leve sopro,
a mão suave a desfazer o nó.

Eu,
que já não sigo assim tão só,
persigo o que não conheço,
persisto nos mesmos apreços,
resisto até não poder mais,
insisto que eu existo.

Sou eu mesmo, juro.

Meu discurso nunca foi outro.
Minha vontade também não.
Mentiras se dispersam,
só as verdades me interessam,
sou aquele que se vai,
estou naquele que já vem.

Eu apenas observo aqueles que me observam.
Não enxergo nada além.

Nem eles, eu sei.