sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Os monstros que vivem dentro de nós


Final de tarde. Nuvens carregadas no céu anunciam que vem chuva das boas. Dentro de casa o corre-corre é grande. Vamos deixar as crianças com a sogra e partir para a sessão de cinema em Botafogo. Não podemos atrasar um minuto caso contrário perdemos o início do filme. Eu detesto perder o início de qualquer filme. Não fiz a barba. Vou deixar para amanhã. Ligo pra sogra e a Fátima vai descer e buscar as crianças na portaria. Desta vez eles não reclamaram, mas foi preciso negociar com antecedência. Com eles agora é assim. Acham que mandam nas nossas vidas e eu desconfio de que mandam mesmo. Isso porque a gente permite. Quero ver mais tarde, quando já estiverem grandes, com suas namoradas, se vão querer saber de ficar por perto. Duvido.
O trânsito está bom. Em menos de 15 minutos cruzo a Radial Oeste e entro no elevado que vai me levar ao Rebouças e dali ao cinema são mais uns 10 minutinhos. Dentro do túnel eu e Claudia damos um grau e o som que rola é "Never gonna girl like you before". Vontade de dançar. A música ainda rola mais uma vez. Há uma fila grande em frente ao cinema. Dois filmes bem cotados estreando hoje, mas eu saí de casa com a intenção de ver "Onde vivem os monstros", de Spike Jonze, o mesmo diretor de "Quero ser John Malcovitch". O relógio da esquina da Voluntários da Pátria marca 19h13. O filme começa às 19h15. Ainda não estacionei o carro. Dou uma volta no quarteirão e por sorte um carro está saindo da vaga. Pego dois reais para o guardador e praticamente arrasto a Claudia pra fila dos ingressos. Ela não gosta. Reclama que sou estressado. Às vezes sou mesmo. Ainda mais quando quero ver um filme e estou atrasado. Enquanto ela fica na fila vou ao banheiro. Ela resolve ir ao banheiro quando já está com os ingressos na mão e o filme começando. Entro sozinho na sala. Perdi o comecinho do filme mas não o fio da meada. Ela demora um pouco mais a entrar na sala. Ficou chateada porque eu não esperei por ela. Diz que foi falta de consideração minha. Eu acho que a falta de consideração foi dela e não respondo mais nada. Quero prestar atenção no filme. A trilha sonora é espetacular e a história é uma fábula delirante baseada num clássico da literatura infantil norte-americana. Não sei se é um filme para crianças, mas de certo que é um filme para a criança que ainda existe em cada um de nós.
O filme conta a história de Max, um menino bastante levado e dono de uma imaginação pra lá de fértil. Uma noite, ao desobedecer sua mãe, leva uma enorme e merecida bronca. De castigo e fantasiado de lobo, sua imaginação o leva a um lugar fantástico, povoado por criaturas gigantes. A partir daí o filme se transforma numa enorme aventura, repleto de referências lúdicas, além de questões relacionadas aos sentimentos mais primitivos da infância, como o medo, a raiva, a solidão e o lado selvagem que todos nós temos. Seriam estes sentimentos os verdadeiros monstros que carregamos dentro de nós? O filme nos dá esta resposta de uma maneira sensível, divertida e, por que não?, deslumbrante.
Saí do cinema pensando no quanto eu fui solitário quando criança e no quanto a minha imaginação me levou a lugares tão fantásticos quanto a história que eu acabara de assistir. Lembrei do medo que eu sentia ao ficar sozinho em casa, mesmo estando junto de meu irmão mais novo. Da raiva que eu sentia quando contrariado. Dos monstros que habitavam minha imaginação. Das histórias que minha mãe contava para que eu dormisse. Das artes que eu aprontava. Dos meus tempos de menino. Tempo este que eu ainda guardo dentro de mim, mesmo que os monstros ao redor teimem em me dizer que ele não volta mais.

7 comentários:

  1. o autor, que tinha começado o seu posto com uma introdução apenas necessária, se perdeu nas picuinhas pequeno-burguesas de estresse com a linda mulher e atrasos por conta do transito quase-caótico (que de vez em quando fica normal, tanto que ele gastou poucos minutos para chegar ao endereço) do Rio de Janeiro. Do filme mesmo tivemos apenas umas duas ou tres linhas de comentário, quando queríamos, enquanto leitores, apenas um exemplo do que ele chamou de "deslumbrante". Achei o post meio "engodante", no sentido de que prometeu, e não cumpriu, ao nos dar apenas um verniz pessoal do que teria sido conviver com os tais monstros em nossas infâncias e outras idades de nossas vidas.

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  2. Concordo com Aldenir. Não contou mais sobre o filme pq não prestou atenção. Ficou contrariado ao levar uma curta mas merecida bronca de sua mulher. A partir daí a enorme aventura ficou em segundo plano. O autor (do blog), dado "o grau" em que se encontrava, ficou a remoer acontecimentos recentes. Ou seja, ficou putinho.

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  3. Não sei se vcs repararam, mas o filme foi apenas um pretexto para o que eu queria escrever, que é sobre a criança que ainda temos dentro de nós. Talvez vcs dois já tenham crescido e esquecido que um dia foram crianças... Daí que eu não posso fazer nada, né? No mais, se quiserem mesmo saber se o filme é bom, comprem ingresso e assistam! Garanto que não vão se arrepender.
    Bjdas!

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  4. Com uma filha de 5 anos, todos os dias lembro da criança que existe dentro de mim. Nao vi o filme, mas com certeza devo vê-lo, até para avaliar se Ana Beatriz terá condições de percebê-lo melhor neste momento. Coraline, por exemplo, foi um desenho que esperei algum tempo para mostrar para ela (tive que faze-lo via DVD, pois na época de seu lançamento ela ainda era muito pequena), e ela simplesmente adorou, porque provavelmente estabeleceu algum tipo de identificação com a garotinha solitária de duas mães, uma "boa" e outra "má". Mas esta, como diz o Charles Gavin no seu "Som do Vinil", já é uma outra história...No dia em que tiver um blog tão refinado e atuante como este do meu caro amigo jornalista-roteirista-escritor, faço os devidos comentários...

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  5. Fui uma criança muito solitária tbm,nunca morei numa rua onde muitas outras crianças morassem tbm e a gente passasse a tarde brincando. No máximo uma vizinha da mesma idade. Não sei se minha imaginação foi tão fantástica assim, tinha bastante noção de realidade. Mas posso garantir que essa criança nunca morrera em mim. Vive até hoje, e por incrível que pareça,é ela quem segura as pontas quando acho que vai dar tudo errado. Não diria minha imaginação, mas meus pensamentos que me sustentam hj em dia.

    Ah! Muito bom o blog =]

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  6. deixa a mulher na fila pra comprar ingresso enquanto vai ao banheiro e depois a coitada não pode ir também? o monstro é você.

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  7. Hehe, o blog é do cara e ele escreve o que bem entender! Ou não?

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