quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Personal Clown

Quem olha pra mim à primeira vista não faz idéia do meu bom humor. Não sei por que, mas tenho a maior cara de invocado. Acho que foi herança do meu pai que, por sinal, herdou da minha avó este semblante sério, de poucos amigos. Lembro que uma vez, há muitos anos, ainda na faculdade, eu fazia umas aulas no turno da tarde e não conhecia quase ninguém, estava sentado no pátio esperando uma das aulas começarem, quando uma menina, loira, bonita, chegou perto de mim e me perguntou por que eu estava tão zangado. Eu olhei pra cara dela, abri um sorriso meio amarelo, tímido, típicos dos que são pegos de surpresa, e disse que não estava zangado com nada. Então ela virou e disse sem a maior cerimônia que eu deveria sorrir mais.
Desde então venho tentando esboçar uma feição mais simpática, com um sorrisinho de canto da boca aqui e outro ali, só que volta e meia me percebo de cara amarrada e me pergunto por que quero parecer tão gente boa? Eu sou gente boa, mas não pareço. E dane-se! Conheço tantos que parecem gente boa e não são. Vivem com aquela cara arregaçada aos quatro cantos, espalhando sorrisos contagiantes, apertando a mão de uns, dando tapinhas nos ombros de outros, típicos políticos em época de eleição. Não que todos que ajam assim não sejam gente boa. Conheço alguns que são pessoas relamente ótimas, esclarecidas e pra lá de evoluídas. Mas os verdadeiros, os originalmente assim, são raros. Pode acreditar.
Enquanto isso, eu, que sou gente boa, sigo com a minha cara de poucos amigos. Logo eu, que tenho amigo pra caramba e volta e meia animo o dia de uns deles. Hoje mesmo estava no MSN quando entrou uma amiga minha de Juiz de Fora, Roberta Abramo, atriz criada na base do doce de leite com queijinho de minas, dona de uma pele espetacular e um humor ácido, afiado, mas às vezes ingênuo ou provinciano. Digo que ela é garota nova. Ela não gosta muito. Mas volta e meia ela me aparece com uns questionamentos e umas crises tão contornáveis que nós, que já passamos dos 30 faz tempo, tiraríamos de letra. Daí que eu começo com meu jeito de quem não leva a vida muito a sério e o final do bate-papo é só risada.
Não é a primeira, a segunda ou a terceira vez que ela me aparece no MSN meio cabisbaixa, meio sorumbática. Eu entendo. Os artistas são assim mesmo. Sofrem por qualquer besteira. Por amor, então, nem me fale. Eu também sou assim. Acho que vem daí minha vocação pra artista. Mas eu ainda consigo enxegar que tudo pode ser mais simples. Que a vida é simples. Nós é que nos ocupamos de complicá-la. Então eu brinco. E rio. E faço rir muitas vezes, apesar de não parecer.

Um comentário:

  1. Sua vocação de artista vem da sua capacidade de fazer biscoitos fantásticos. Isso sim!!! rsrsrsrs
    Abraço e parabéns pelo blog!

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