Certas horas a poesia silencia
e parece querer se esconder,
fugir de mim,
largar de mão,
desaparecer.
Justo nesses dias,
ela,
a poesia,
sumia.
Que tempos difíceis são esses?
Nas ruas, o bloco negro confundindo as massas,
levantando a voz, queimando a praça,
vidraças quebradas da hipocrisia.
Nas tevês, eles também confundem,
invertem o sentido, usam de artifícios,
roteiros pré-estabelecidos em horário nobre.
A manchete é o vandalismo.
A suíte é o lado sujo.
O mundo,
a cada virada de página,
fica ainda mais difícil.
Brigam os tradicionais e os alternativos
via redes sociais.
Surgem novas ferramentas,
instalam-se outros aplicativos,
um imenso flash mob do dever cívico.
E os ideais? Quais?
O Estado revida,
bate,
maltrata,
fere com balas de borracha
e sufoca o grito daquele que corre atrás.
Nos palácios estão todos surdos,
fazendo-se de cegos,
contaminados pelo poder.
Não percebem que estão cercados.
Não sabem, não querem, não prestam.
Eles nada vão fazer.
Já não podem ouvir os gritos.
Há muito que eu também não ouvia.
Onde antes era só silêncio
há hoje o risco dos verbos calados à força
e das minhas estrofes continuarem vazias.
Logo as minhas,
que por acaso nasci poeta,
berrando os versos da poesia.
Que tempos difíceis são esses?
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