sexta-feira, 9 de julho de 2010

O cansaço, os mortos e a política


Minha semana teve doze dias. O plantão de sábado e domingo no jornal fez com que eu fosse apresentado a uma sensação de cansaço até então inimaginável. Quem acorda de manhã cedo, depois de uma boa noite de sono, talvez não tenha noção do trabalho que dá para produzir as notícias que batem à nossa porta. A redação do jornal nunca para. Por volta das onze da noite, quando a maioria dos trabalhadores brasileiros já está na cama, ainda pode-se estar discutindo qual será a manchete do dia seguinte. Isso se não mudar tudo com uma notícia urgente, daquelas de última hora.


Esta semana, por exemplo, andei torcendo para que o José Alencar, nosso vice-presidente, não morresse. Ou ao menos que não morresse no meu plantão ou na hora do meu fechamento. Por sorte o que ele teve foi uma crise de hipertensão. Coitado. Simpatizo com ele e admiro a luta que ele trava contra o câncer. Desde que ele surgiu no cenário da política nacional que é sabido de todos a sua doença. E nas inúmeras vezes em que ele sai de um hospital após alguma internação, nunca vi aquele homem com ar de derrota. Nunca. Sempre confiante. O último boletim da equipe médica esta noite dizia que seu estado era estável. Foi a nota que eu publiquei pouco antes de sair do jornal, na torcida para que ele melhorasse mais uma vez.

Quem morreu de verdade foi o Ezequiel Neves. Produtor musical, jornalista, ator e a todo vapor. Não o conheci. Não pessoalmente, mas para quem é da geração do Barão Vermelho e do Cazuza, como eu, nunca foi um nome que soasse estranho. Zeca, como era chamado pelos mais chegados, descobriu o som do Barão e apadrinhou muita gente na seara do rock brasileiro dos anos 80. A relação dele com Cazuza rendeu coisas boas, como 'Codinome beija-flor', que não parava de tocar nas rádios justamente numa época em que eu estava me separando da mãe do meu filho mais velho. Melhor trilha sonora, impossível. Zeca morreu aos 72 anos, sem deixar de lado suas doses mortais de vodca, exatos 20 anos depois de Cazuza.


- Deve estar acontecendo a maior festa de arromba no céu, gritaram na redação.


- Deus é mesmo um mestre na arte de criar roteiros, eu pensei baixinho.


Quem não morreu, mas já tem seu obituário pronto é Marcello Alencar, ex-prefeito e ex-governador do Rio de Janeiro. Qual não foi meu susto ao me deparar com um texto esquecido numa das gavetas da casa de um amigo, também jornalista, anunciando a sua morte? Não que eu seja fã dele ou algo parecido, mas é que quando eu li aquela notícia fiquei realmente na dúvida se ele havia morrido ou não. A matéria tinha sido escrita há mais de dois meses e eu não lembrava de ter ouvido falar ou lido qualquer coisa a respeito.
- Esta matéria eu fiz há uns dois meses. Se o cara morresse ela já estaria pronta, faltando só uns ajustes, ele me disse.
Lembro que trabalhei na Prefeitura na época em que ele era o prefeito. Tinha um ar bonachão, uma fala mansa e a fama de que gostava de um goró. Na verdade, whisky. Um dia ele passou mal e foi internado às pressas. Ia ter de fazer uma cirurgia e se não me engano, foi alguma coisa nos rins. Cálculo, talvez. Mas o boato que corria na rádio corredor era de que o prefeito havia engolido a tampinha de uma das tantas garrafas que entornara. Pura maldade.

Para terminar, a gente não pode é se fazer de morto. As eleições estão aí, a campanha já começou, os candidatos estão nas ruas e a gente sabe que o que mais tem é político vivo aos quatro cantos. Entenda este vivo como algo não muito positivo. Pelo menos não para nós, eleitores. Este ano teremos uma eleição diferente e que já começou diferente por vários aspectos. Como se não bastasse, é a primeira, em anos, sem a opção de voto no Lula. Temos duas mulheres concorrendo ao mais alto cargo da nossa política. Temos também a Lei da Ficha Limpa. E temos a internet e com ela todo o seu poder de mobilização. Pelo menos é isso que será posto à prova neste pleito. Qual candidato vai realmente saber usar o poder da rede mundial de computadores e transformá-lo em voto? Qual marqueteiro brasileiro vai se sobressair e virar o novo Papa das campanhas eleitorais? Quem vai ocupar a vaga deixada por Nizan Guanaes e Duda Mendonça? Ou vai me dizer que ninguém lembrou de escrever seus obituários por aí?

4 comentários:

  1. Estamos vivendo uma grande pobreza política. Me dá um sono...

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  2. Prefiro realmente falar de música do que política.Aliás vc podia tbm comentar no jornal que muitos jovens (assim como o Luís Guilherme) não tiraram o título de eleitor por pura preguiça e ouvirem muito que não vale a pena votar em ninguém. "Alienação total e irrestrita" pode ser o título.

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  3. Pois é, meu filho completou 18 anos e não se preocupou em tirar o título aos 16 e nem agora. Prefere não votar. Falta de opção? Falta de interesse? Não importa, apenas mais um jovem, uma triste estatística. Eu votarei na Marina. Acho que ela merece, mas sei que será desperdício de voto, porém minha consciência ficará tranquila. Infelizmente teremos que engolir o que a maioria decidir...

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