quinta-feira, 6 de maio de 2010

Há algo estranho no ar


A semana foi tensa. Não para mim, mas para o mercado econômico. A crise que abateu a Grécia tem deixado a todos os analistas mundiais preocupados e a queda das bolsas no mundo inteiro é reflexo desta insegurança que ronda alguns países da chamada zona do euro. Portugal é outro país que já começa a dar sinais de que pode quebrar, assim como a Espanha e a Irlanda. Pelo que eu tenho lido - e não é pouca coisa - somente a Alemanha e a França estão numa situação confortável. Ao menos por enquanto. Tanto que foram os principais credores do empréstimo de 110 bilhões de euros que os tais países da zona do euro, junto com o nosso conhecido FMI, fizeram na tentativa de tirar a Grécia da situação em que ela se encontra. Não sem antes impor condições austeras, claro, como corte de salários e aposentadorias do setor público.


Na Ásia, as bolsas de valores parecem sentir o reflexo desta situação na Europa e vivem dias de quedas bruscas em seus pregões. A situação da China, que ano após ano vem apresentando crescimento acima da média mundial, não é tão confortável assim. Por lá também ronda o perigo de uma tal bolha imobiliária, o que vem tirando o sono dos principais investidores. Por conta disso, caem as bolsas no Japão, na Malásia, em Cingapura, na Coreia do Sul e até na Austrália. Difícil de entender, né? Mas nada que uma leitura mais atenta e uma explicação aqui e outra ali para que o assunto comece a se tornar mais familiar.


Estou há quatro meses na redação de um jornal que é 90% de economia. Já perdi as contas de quantas matérias fiz sobre o mercado financeiro, sobre macroeconomia e sobre empresas. Esta semana mesmo algumas das principais empresas brasileiras começaram a divulgar seus resultados trimestrais. Umas parecem muito bem, outras nem tanto. Ontem mesmo dei uma nota dizendo que o número de pedido de falências de janeiro a março deste ano aumentou em relação ao mesmo período do ano passado. Sinal de que a nossa economia pode não estar tão bem quanto uns e outros gostam de dizer por aí.


Semana passada foi a vez da tal reunião do Copom, que é o Comitê de Pólítica Monetária do Banco Central. Foram dois dias em que os analistas do mercado especulavam a respeito do aumento da taxa Selic, que é a taxa básica utilizada como referência da política monetária. Eu havia apostado comigo mesmo que a taxa subiria um ponto percentual, já que este ano é ano de eleição e ninguém quer ficar mal na foto, com risco de aumentar a taxa numa nova reunião. O fato é que os analistas do Copom resolveram aumentar a taxa em 0,75 ponto percentual, o que nos levou a uma taxa de juros de 9,50% ao ano. Somos um dos países com a taxa de juros mais alta do mundo, mas pelo que eu entendi, esta é a maneira que os analistas têm para tentar conter a inflação, que parece querer voltar a nos assombrar. Eu, que sou de uma geração que convivia com reajustes de preços semanais e com a temida hiperinflação, confesso que prefiro juros mais altos a ter de volta o pesadelo de ir a um supermercado num dia, pagar X por determinado produto e na semana seguinte ver que aquele mesmo produto já está custando 2 vezes mais. Um absurdo, convenhamos.


O fato é que, mesmo que a imprensa anuncie aos quatro cantos que o pior da crise econômica mundial já passou, há um clima muito estranho e tenso no ar. É como se uma nova onda ruim estivesse em formação e ninguém sabe ao certo onde ela vai arrebentar primeiro. Como uma tsunami pairando num oceano de dúvidas. Pois não pense você que a crise se instalou no mundo todo somente a partir de setembro de 2008, com a quebra do banco americano Lehman Brothers. Não. A quebra da instituição financeira serviu apenas como um marco, destes que a gente está acostumado a estudar nos bancos escolares anos mais tarde. Já havia todo um cenário pronto bem antes. E o que se cochicha nos bastidores atualmente é onde e quando esta nova tsunami vai aparecer. Ninguém sabe. O que eu sei é que isso tudo me parece assustador, coisa de filme de terror.


Por enquanto podemos assistir cenas de uma verdadeira tragédia grega, com Atenas pegando fogo enquanto os deuses do Olimpo parecem estar dormindo e nem aí para o que se passa com o povo de lá. Três pessoas já morreram nos conflitos que diariamente estampam as manchetes dos jornais. Aqui no Brasil o que se ouve é que está tudo bem, que fomos um dos últimos a entrar na crise e um dos primeiros a conseguir sair dela. Pelo menos na teoria o texto é este. Na prática eu vejo a balança comercial brasileira amargar um déficit atrás do outro e as bolsas, que são um verdadeiro termômetro da nossa economia, despencarem. Na verdade, desde que o Copom anunciou a alta da taxa Selic, a Bovespa não conseguiu bons resultados. Com os juros altos, os investidores preferem outro tipo de aplicação, fogem das bolsas e partem para fundos de renda fixa. Além disso, com a crise na Europa, por exemplo, os investidores internacionais ficam mais cautelosos e cada vez mais conservadores. Para se ter uma ideia, se até uns 15 dias atrás a Bovespa ultrapassava a barreira dos 70 mil pontos, hoje ela não consegue passar dos 65 mil. E olhe lá. Se bem que eu ouvi estes dias lá no jornal que a fuga de investidores pode fazer com que a bolsa opere num patamar entre 40 e 45 mil pontos, o que não seria desesperador para o mercado brasileiro. A conferir. Por sua vez, o dólar também voltou a subir, já que esta bagunça no mercado tem deixado de lado os fundamentos da economia brasileira e os investidores, apavorados, correm para comprar a moeda norte-americana. Mas eu duvido muito que o dólar seja negociado a mais de R$ 1,90 até o final do ano. Podem escrever.


No mais, virei seguidor do Serra, da Dilma e da Marina no Twitter. Não gosto do Serra. Nunca gostei e já disse isso aqui antes, mas confesso que ele é quem mais me surpreende no microblog. Suas colocações nunca me pareceram impertinentes e ele vem demonstrando um bom humor que até então eu desconhecia. Será efeito de algum marqueteiro? É bem provável. A Dilma, coitada, depois que começou a dar alguns passos sem o seu mentor ao lado, anda se enrolando e parece que não junta lé com cré. Esta semana ao fazer comentários a respeito do romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, disse que os nordestinos migravam "do nordeste para o Brasil". Bola fora. Mais uma, aliás. Isso sem falar que ela é bem sem graça quando resolve tuitar. Já Marina Silva seria minha opção de voto. Mas ela é evangélica, não aceita o aborto e muito menos pesquisas com células-tronco, o que me parece um retrocesso. Ou seja, como tuitou uma amiga minha dia desses, "é dura a vida do eleitor brasileiro".

3 comentários:

  1. Meu amigo!!! Vc está muito bom em análise do mercado financeiro! Parabéns!

    Bjks

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  2. Baby, vou ser rápido para uma correção e uma observação :
    1 - Os três mortos na Grecia não eram manifestantes e sim funcionários do banco incendiado.
    2- O deficit aumenta pq a população pode comprar mais lá fora e tb viajar mais. E uma conta que se fecha a médio e longo prazo. Esperemos...

    Beijo,
    R.

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  3. Fico impressionado é que de uma hora prá outra alguns países que, segundo a imprensa, tava bombando (Irlanda e Espanha, por exemplo) aparecem à beira da falência. Ou os critérios para análise econômica mudam ou neguinho papa muita mosca!!

    Nas eleições tem o Plínio de Arruda Sampaio.
    Não vai ganhar, mas eu também votei no Lula durante anos sabendo que não ia... até que ganhou e eu desisti dele. Dilma, nem pensar. Serra e Marina idem. Evangélicos no poder? Nunca!
    Você, que anda acompanhando as eleições, o que acha do Plínio?
    Abração!

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