quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Pedra de rio

É como se algo tivesse se rompido em mim.
Um leve estampido, um tiro certeiro,
carcarás em céu azul sobrevoando o barro vermelho
e a bala atravessando meu peito ali exposto.
Nu.

Entre tantos outros, eu era só mais um corpo.
Uma mera estatística, um número a menos,
um leve rascunho em grafite barato,
uma página em branco,
e todo aquele silêncio que jamais entendi.

Porque só eu ouvia os gritos que vinham de dentro.
Ecos me sussurrando seus lamentos,
uma espécie de suplício, um gosto amargo doce em minha boca,
e o gesto brusco a me vendar os olhos.
Tirei, então, o véu.

Naquele instante, o que era novo se descortinou.
Feito água limpa que acabara de brotar da fonte,
molhando meus pés, lavando minha alma.
E eu ali, pedra de rio, parado,
deixando a correnteza levar tudo embora outra vez.








Nenhum comentário:

Postar um comentário