Há poucos dias prometi a mim mesmo que eu ia parar de reclamar. Nem eu nem ninguém estava me aguentando mais. Não tem sido um exercício fácil. Ainda mais nos dias de hoje, onde o mundo parece desmoronar, os valores estão todos distorcidos - se é que eles, os valores, existem -, o amor não acompanhou a velocidade da globalização, descobriu-se líquido e escorreu pelo ralo. Está todo mundo se matando, homens e mulheres bombas explodindo, genocídio, intolerância, um fuzuê danado.
Nas redes sociais, uma guerra. Um fala X, outro diz que é Y e todo mundo fica discorrendo teses sobre o abecedário inteiro ao mesmo tempo. Maior sanatório aquilo lá. Tem maluco que defende índio, que defende gay, que defende negro, que defende aborto, que defende a maconha. Tem também o bando que defende a liberação do porte de arma, que defende os valores da família tradicional, que defende quem bate em mulher, que defende o Bolsonaro, que é uma figura indefensável. Inacreditável.
Tem uma turma de doido que quando acontece uma atrocidade, manda logo um comentário pedindo para que um tal meteoro venha e acabe com tudo por aqui de uma vez por todas. Acho engraçada a piada, mas não sei se sou a favor de tamanha catástrofe. Penso em mim, nos meus filhos, neto e todos os que eu amo sendo esmagados por um bloco gigantesco de pedra em brasa e não curto. Não deve ser uma sensação nada agradável. Prefiro acreditar que vai ter um jeito. Só não sei qual ainda.
Mas sem querer reclamar e já reclamando, ando, sim, decepcionado. Acho que todo brasileiro está se sentindo desse jeito não é de hoje. Só que minha decepção não se resume ao PT, esse partido que ajudei a eleger mais de uma vez. De início votei convicto. O Brasil precisava mudar. Era muita roubalheira, havia anões do orçamento, compra de votos, estatais vendidas a preço de banana. Uma farra. O Brasil necessitava urgentemente de ética, de um partido com políticos de moral ilibada, honrados e comprometidos com o povo. E o Partido dos Trabalhadores, queira você ou não, representava tudo isso.
Quando inventaram o Lulinha paz e Amor, falando manso, com a barba aparada, ternos bem cortados e um Nizan Guanaes por trás, eu pensei: pronto, os caras vão comer na mão dele agora e vamos consertar esse país. Você certamente vai lembrar que quando o Lula falava, todo mundo baixava o tom de voz para ouvir o que aquele reles metalúrgico tinha para dizer. Mais uma vez, queria você ou não, era impressionante o carisma daquele barbudo semi-analfabeto, nordestino, filho da seca e da fome.
Então, finalmente, ele foi eleito. Eu fui para as ruas, usei botom com a estrela vermelha, camiseta, me emocionei, vibrei e acreditei. Como você, provavelmente.
Pouco tempo depois do operário chegar ao poder, estoura o escândalo do Mensalão, o famoso esquema de compra de votos de parlamentares que fez ruir com os ideais de ética e moral do povo tupiniquim, ingênuo, manso, massa de manobra, e trouxe à tona uma crise sem precedentes. Desestabilizou tudo. Desandou o bolo. Solou.
Lembro de petistas célebres me confessarem que tudo não se passava de um plano de poder, que era condição necessária para se governar e todo esse blá blá blá que a gente sabe que é verdade, mas que o PT, justo o PT, jamais deveria se sujar daquela maneira. Tanto se sujou que atualmente não temos mais o mensalão, mas temos uma Lava-Jato nas manchetes para ajudar na receita dos jornais.
Hoje, a gente vê um senador da República ser preso e um presidente da Câmara com tamanho cinismo ainda solto e pensa em até que ponto esses homens conseguem chegar. Eu sinceramente não sei.
Minha decepção é com isso tudo que eu tenho visto por aí. Não só no Brasil, que fique claro, mas no resto do planeta. Que raça mais desumana é essa? Na minha infância eu lembro de ter pesadelos com Hitler, a quem até hoje eu considero uma verdadeira aberração, a personificação da besta, e os vagões de trens que serviam de câmaras de gás para acabar com os judeus. Filme de terror. Mal sabia eu que ainda haveria coisa pior nesse mundo de meu Deus.
Dia desses deram fim a um rio por aqui. Senti como se fosse uma artéria minha carregada de veneno a me intoxicar lentamente. Assustador esse percurso da morte, eu tenho pensado. Centenas morreram em Paris numa sexta-feira 13 que jamais será esquecida. Imigrantes tentando cruzar fronteiras na tentativa desesperada de fugir dos horrores da barbárie. Irmão matando irmão. O mundo cada vez mais quente, cada vez mais sujo, cada vez mais pobre, tudo secando ao nosso redor e os homens disputando a tapas o troféu da ganância. É muito absurdo.
Que sinais são esses?
Nenhum comentário:
Postar um comentário