sexta-feira, 14 de junho de 2013

Vergonha e covardia

Depois de uma noite no mínimo histórica, onde paulistas e cariocas apanharam brutalmente daqueles que são pagos para garantir a segurança de todos, me perdi entre debates e panfletagens virtuais que vararam a madrugada e me tiraram o sono. Na timeline do facebook, a verdadeira e legítima cobertura da manifestação que mobilizou milhares de pessoas em algumas cidades do Brasil, mas especialmente Rio de Janeiro e São Paulo. As imagens, os vídeos e os relatos eram impressionantes. E mais impressionantes ainda se comparados à cobertura da mídia tradicional, que ainda chamava os manifestantes de vândalos, como se o protesto fosse simples baderna.

Covardia.

Mas não só a covardia daqueles que humilham com o cassetete nas mãos, protegidos por patentes, escudos e capacetes e baixam a porrada em cima de jornalistas, estudantes, trabalhadores, homens, mulheres, enfim. Não. Covardia pelo que somos submetidos diariamente. Seja o cara que mora na baixada e precisa acordar às 4h para pegar o trem lotado, atrasado, mal conservado, sendo empurrado para dentro dos vagões com a delicadeza de um carcerário, ao empresário, dono do Market Place Center Fields, que mora numa cobertura na Delfim Moreira, ali no comecinho do Leblon, paga seus impostos e quer viver num país justo.

Por que não?.

Por várias vezes li textos e publicações, de gente próxima até, chamando os manifestantes de vândalos. Realmente, vandalismo é inadmissível, coisa de povo mal educado, porco, sujo. Pra quê pichar igrejas, monumentos, quebrar praças inteiras? Mas não foi só isso que eu vi. De certo houve vandalismo, o lado pequeno da história, e justamente o lado que tentaram vender nas manchetes dos jornais. Lembro de acordar na quarta-feira e ler na capa do impresso que amanhece em minha porta a seguinte chamada: A Marcha da Insensatez, referindo-se à manifestação que já havia deixado São Paulo e o país em alerta na terça-feira. Insensatez?

De quem?

Ninguém estava nas ruas para protestar apenas contra um aumento de míseros vinte centavos de real nas tarifas de ônibus. Muito embora míseros sejamos nós. O que se viu na noite desta quinta-feira nas ruas foram surtos de indignação, um movimento maciço de protesto contra o que oprime, contra o que é covarde, contra o que é verdadeiramente vandalismo. Porque somos, sim, nós, todos os brasileiros, vandalizados por esse poder que corrompe e assombra e maltrata.

Somos vandalizados no momento em que pagamos nossos impostos e não temos transporte público de qualidade, não temos um serviço de saúde que atenda a todos com um mínimo de dignidade, não temos segurança, esgoto, asfalto, luz, muitas vezes nada. Somos vandalizados quando tomamos porrada na cara e viramos alvo daqueles que deveriam garantir a nossa segurança. E não falo aqui somente da truculência da corporação militar. Falo daqueles que estão no Planalto Central ou dentro de seus palácios de governo interessados nos contratos que vão lhes garantir cada vez mais regalias e poder.

Vergonha.


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