sexta-feira, 7 de junho de 2013

Capitão Américo

Capitão Américo é daqueles militares que não deixam a patente cair nem quando estão em casa, no lazer com a família. Do tipo durão, acostumado a comandar batalhão de soldados, não é de dar explicações a ninguém. A não ser quando comandado, claro. Casado com Elenice, mulher batalhadora - apesar de ser loira, como ela mesmo faz questão de afirmar -, Capitão Américo traz o casamento no cabresto: gosta de chegar em casa e ver o jantar pronto, os filhos de banho tomado, o Jornal Nacional, a novela, o 'até amanhã, meus filhos', o 'chega pra cá, patroa', o 'foi bom pra você, amor?' e o "boa noite".

Ciumento num nível patológico, vive controlando as ligações que Elenice faz no celular e volta e meia quer saber quais sites ela acessa no laptop que ele deu de presente no último aniversário de casamento. Desde então, cada um tem o seu, que é para evitar briga e preservar a relação. Numa dessas noites, enquanto Elenice tomava banho e as crianças já dormiam, corroído por uma curiosidade absurda, fora dos padrões da normalidade, Capitão Américo resolve instalar um programa espião no laptop da mulher, para rastrear toda e qualquer conversa que ela viesse a ter nos chats das redes sociais. O processo não demorou muito e em poucos minutos o rastreador de conversas alheias estava infiltrado no laptop de Elenice. Capitão Américo só esqueceu de um detalhe: desaparecer com o papel das instruções de instalação. Esqueceu a prova do crime do ali mesmo, junto a umas correspondências e contas a pagar.

Dia seguinte Elenice acorda louca para acessar o seu facebook e dá de cara com o tal papel. Ela, que apesar de loira, de burra não tem nada, na hora se deu conta do que o marido fizera. Como vingança é mesmo um prato que se deve comer frio, deixou passar alguns dias - poucos, é verdade - e, num momento de distração do capitão Américo, foi lá e fez o mesmo no laptop dele. Só que, claro, jogou fora o papel com as instruções.

Num piscar de olhos começaram a surgir conversas comprometedoras do Capitão Américo com dezenas de mulheres nos mais variados chats. Uma delas, inclusive, a melhor amiga de Elenice. Caso clássico de adultério. Ficou puta. Fumou um maço de cigarros de uma vez. Gravou tudo num pendrive. Mas manteve a linha quando o marido voltou da caserna, agindo naturalmente, como se nada tivesse acontecido. Loira, inteligente e ardilosa, eu diria. Naquela mesma noite transformou aqueles arquivos num pdf, determinada a montar uma apresentação. O power point da traição virtual. Foi dormir cheia de si.

No café da manhã, após os filhos saírem para a escola e entre xícaras de café amargo e cestas de pão francês, Elenice diz que precisa mostrar uma coisa para Capitão Américo em seu laptop. Capitão Américo diz que não pode, que está atrasado, que hoje é dia de ordem unida, que ainda precisa engraxar o coturno, entre outras desculpas.

- Não aceito desculpas, Américo - disse ela, com a autoridade de um coronel.

O Capitão arregala os olhos e quase presta continência. Afinal, Elenice nunca havia falado assim com ele antes e antes mesmo que ele se recusasse mais uma vez, ela foi iniciando os slides. Um a um. Bem devagar, que era pra dar tempo dele (re)ler tudo o que havia escrito naquelas últimas semanas nos chats com as amigas.

Após o último slide, um silêncio que jamais houve naquela casa e uma única certeza: Capitão Américo perdera a batalha.

- Isso é só para te avisar que eu sou loira, mas não sou burra, e que a comandante dessa casa agora sou eu.

Isso sim é golpe de estado!

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