sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Vertigem




Definitivamente agosto é um mês estranho. Desde sempre eu ouço falar que é o mês do desgosto, mas nunca havia sentido o peso de um agosto feito este que passou. Confuso, com escândalos na política, com quedas de ministros, com tragédia num bonde de Santa Teresa, com gente partindo, outras morrendo, outras tantas para nunca mais. O mês parecia mesmo se arrastar. A morte de dois jornalistas muito queridos por todos na redação onde eu trabalho fez de agosto não só o mês do desgoto, mas um mês de tristeza e saudade.

Eu sou destes que morre de saudades.

Agosto foi tão estranho que uma tia minha, irmã mais velha da minha mãe, faleceu, aos 72 anos de idade, depois de ter sido desenganada pelos médicos aos cinco anos. Eu, que achava que ela nunca ia morrer, fui pego de surpresa em plena sexta-feira, 19 de agosto, com a noticia de que ela havia morrido. Morreu dormindo, não sentiu nada, não sofreu. Já tinha sofrido demais antes. Uma história tão triste que não me cabe aqui contar. Até porque, esta minha tia tinha como uma de suas principais características - a principal era a gulodice - o jeito alegre de encarar a vida. Como se debochasse das porradas que a vida lhe dera. E garanto que não foram poucas. Se eu parar para pensar, a vida desta minha tia foi uma sucessão de agostos.

Pensei nisso e em tantas outras histórias desta minha tia na noite daquela sexta-feira, enquanto voltava de carro para a redação, depois de ter providenciado seu atestado de óbito.

Era agosto, fazia frio e aquele atestado de óbito ao meu lado me dizendo que eu nunca mais ia ver minha tia.

--------------


Hoje vi umas fotos de Paris feitas do alto da torre Eiffel. Já tinha visto centenas de fotos feitas do alto da torre Eiffel, claro. Mas nunca fotos feito aquelas. O talento que o fotógrafo se permitiu revelar naquelas imagens me chamou a atenção. Não que eu seja um expert em fotografia, crítico, ou algo do gênero. Longe de mim tamanha erudição. Vai ver as fotos nem são isso tudo. Embora desconfie que sejam muito mais, até. Mas é que ainda guardo uma certa sensibilidade que me permite perceber que o que teria tudo para ser lugar comum se sobressai, se destaca, provoca os sentidos. É quando a vida se eterniza em forma de arte. É quando somos capturados e nos deixamos levar.



Eu, que me deixei levar vendo aquelas fotos, tive a nítida sensação de sobrevoar Paris. Talvez influenciado por uma vontade incontrolável de conhecer aquela cidade ou talvez pelo efeito do cigarro que eu havia fumado, não sei. Só sei que cheguei a ficar tonto ao sobrevoar Paris. Uma espécie de vertigem. Uma vertigem boa. Feito um sonho que eu tive quando criança, onde eu voava pela casa.

Era setembro e os sonhos em setembro são sempre mais bonitos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário