quinta-feira, 5 de maio de 2011

A beira do cais





Ainda ontem mesmo mergulhei no mar
Sem sequer me importar com a maré das incertezas.
Nadei sem perceber onde ia dar a correnteza
E deixei-me levar pelas ondas que inundavam minha vida.

Foi ali que eu vi que eu já não era mais aquele que um dia eu conheci.

Ainda ontem mesmo fiz de mim um oceano
E entendi que a água só passa pela areia porque a areia deixa a água passar.
Então o que era grão em mim se desfez
E o que era sujo eu deixei lavar.

Foi ali que eu vi que eu já não era mais aquele em quem um dia eu me reconheci.

Porque ainda ontem eu era o náufrago de mim mesmo.
Feito um barco sem âncora que ruma ao sabor do vento
Eu também deixei o vento me soprar ao encontro da arrebentação.


Ainda ontem eu era só mais um corpo à deriva.

Ainda ontem.

Hoje não mais.

Agora vejo o menino no horizonte e da minha proa já consigo encostar a beira do cais.

----------

Para o meu neto Kadu, que acabou de nascer.

2 comentários:

  1. Ontem éramos botes à deriva e hoje somos navios ancorados.
    Pra mim você é um transatlântico com direito à show do Roberto Carlos. Me faz viajar pelo mundo imaginário do tempo. Bjs.

    ResponderExcluir
  2. Que lindo, Marcio!
    ei, Fê, navio ancorado o caramba, somos velas sem rumo, mas o Marcio é o único que já é avô...

    ResponderExcluir