sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Meninos




Esta semana foi aniversário dos meus filhos mais novos. Um fez nove e o outro, sete. O mais velho completou 20 anos em abril. Quando ele nasceu eu ainda era um menino, assim que nem ele é hoje. Aqui em casa são três meninos. Cada um com uma personalidade diferente, mas todos se parecem. Eu, que também sou diferente deles, me reconheço em gestos distintos de cada um daqueles três meninos. O modo de falar de um, o gosto apurado de outro, o humor, o porte, o olhar, os gestos. Cada um daqueles três meninos carrega muito de mim.

- É este o verdadeiro sentido da palavra reprodução - digo para mim mesmo.

Eu sou do tipo que acredita em vida após a morte, mas mesmo que eu não acreditasse, eu teria a certeza de que muito de mim vai seguir com meus meninos depois que eu terminar o que tiver de fazer por aqui. Com eles eu perpetuei a minha espécie, são continuações de mim. E olha que faz anos eu li um livro que falava sobre a filosofia perene, aquela que segue, que continua, que não tem fim. Eu lembro de ler tal livro dentro do metrô, voltando do trabalho. Eu era recém-formado. Um menino. Eu lia e pensava na vida e em como todos os fatores externos mudam a cada momento e em como estes fatores nos afetam. Aquele livro me ensinou que alguma coisa em meio a tantas mudanças permanecia.

- Eu só não entendia bem o que era - confesso.

'Sei que vou morrer mais tarde' é a frase com que começo um poema que escrevi ainda antes de entrar para a faculdade. O que talvez possa soar mórbido, trata-se de uma das maiores declarações de amor à vida que eu já fui capaz de expressar. Mesmo que naqueles versos eu deixassse claro que a história teria fim. Até porque, parte dela termina mesmo. A parte que envelhece, que se curva, que enrijece, que se cansa e que um dia para. Feito máquina. Nestas horas olho para os meus três meninos e vejo pulsando em cada um deles um pouco de mim.

- É como a centelha que nunca se apaga - eu penso.

4 comentários:

  1. Boa essa reflexao sobre vida, morte, e continuidade da vida de outras formas. Eu pessoalmente nao acredito que nossa consciência, tal como a temos, continue depois desta existência, talvez venhamos a contribuir para um ser coletivo, sei lá. Enfim, bom lê-lo de novo, achei que o trabalho já estava te sugando o suficiente para voce nao ter tempo de produzir estes textos com o tal "gosto apurado.." (sic).

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  2. Que bonito. Também tenho esse sentimento quando olho para a Laura. Adorei o seu comentário no meu blog. Valorizo muito a sua opinião, já que foi quem me incentivou a começar. Bjks

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  3. Lembro de um aniversário em família que meu pai sentado na mesma mesinha que eu, cruzou os braços, depois de se fartar de salgadinhos e refrigerantes, olhou em volta e me disse: -Tudo isso está acontecendo graças à mim!
    Ele tinha razão, sua espécie se perpetuava e hj, já não mais conosco cabe à nossos filhos continuar sua história levando à frente seu dna.

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  4. filhos...costumo dizer que conseguem despertar em nós os melhores e piores sentimentos. Filha mulher é diferente, ainda mais se for como Luísa, mas os filhos homens, e também tenho três, tem o dom de me enlouquecer. Mas nesta sexta-feira, Luís Guilherme, com 18 (!)anos, sozinho, gripado e carente em São João del Rei, onde mora, me liga implorando que eu vá para lá cuidar dele. Sai de São Vicente às 17:30 para ficar com ele. Fomos ao cinema, assistir NOSSO LAR, depois comer uma pizza e eu fiquei esclarecendo suas dúvidas sobre o fime. Dormi em sua casa, fiz faxina, saímos e ainda encontrei Aécio Neves que me deu um beijinho (ai,ai). Quer fim de semana melhor??? Só uma mãe pode achar isso bom.

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