sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Delicadeza


Muitas vezes penso que minha vida é como um filme. E eu, no meu papel de protagonista a buscar meu próprio personagem. Estranho. Não que eu prepare um texto ou tente dirigir o que quer que seja. Longe disso. Até porque, acho que sou bom no improviso mesmo.

Confesso que foi com o tempo que aprendi a ter foco.

Sempre gostei de planos mais fechados, daqueles bem de perto, e minha vida sempre teve uma trilha sonora. Mas é verdade que vivo em busca de um bom roteiro. Exatamente como dizem por aí muitos atores com registro no sindicato.

Mas o meu registro é o que fica na memória, principalmente na memória afetiva.

Acho que já disse aqui, mas tenho mania de guardar só as boas lembranças. Sou do tipo, também, que não gosta de filmes tristes. Dificilmente eu pago para chorar. O último filme que vi e que me fez chorar foi A Partida. Japonês. Sensível até minha última vértebra. Chorei com vontade e feliz de estar chorando por um filme tão bonito. Como se eu, no meu papel de protagonista, percebesse ali, naquela sala de cinema, toda a minha capacidade de me emocionar. Talvez vocês não entendam. Só mesmo vendo o filme.

Outro dia comentei com um cara que conheci lá no jornal que eu tinha vontade de fazer um filme sobre a delicadeza. Talvez ele tenha achado meio estranho ouvir isso de um peludo com voz grossa feito eu. Mas é a mais pura verdade. Eu tenho mesmo muita vontade de fazer um filme onde eu vá de encontro à delicadeza das pessoas. Um filme para mostrar o lado mocinho de cada um de nós, seres humanos, já que há muitos vilões por aí.

Seria um road movie em busca da delicadeza perdida. Por que não? Imagine o Brasil como cenário e o povo todo como protagonista. Não há coadjuvantes nestas histórias que eles mesmos vão nos contar. Seremos meros observadores. Atentos. Surpresos com nossa capacidade de pensar e querer e realizar coisas boas.

Este mesmo cara que conheci lá no jornal me disse, não sei se no mesmo dia, que todos os gênios são mal humorados. Tive de discordar dele. Disse-lhe que ele afirmara aquilo por nunca ter conhecido o Sérgio Bernardes, meu querido camarada. Sérgio, sim, era um verdadeiro gênio. Grande em tudo o que fazia. Cineasta de raiz, eu diria. Com um quê razoável de loucura e de uma doçura inimaginável para um homem daquele tamanho. Sinto falta dele.

Com ele eu aprendi a ter um olhar mais suave na hora de fotografar a minha história e a desconfiar de quem afirme que todo gênio é mal humorado.

6 comentários:

  1. Me convoco a ser uma das protagonistas. E olha que, apesar de ter uma veia cômica, faço muita gente chorar com pedaços da minha realidade.
    Quanto ao mal humor lembro muito da nossa época de produção onde trabalhávamos com o carrancudo do Eduardo Ramos e o grosso do Rômulo. Tudo fachada! Puro marketing! Estratégia para parecerem gênios ou melhores que nós. Ser sem educação é fácil. A educação, gentileza e suavidade fazem parte da genialidade. Bjs e te amo. Fê.

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  2. Compartilhamos dos mesmos sentimos. Não e à toa que somos amigos desde que nos vimos, como vc me disse outro dia. Delicadeza é essencial e faz diferença na vida. Um beijo no coração.Kel

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  3. a partida é belíssimo, trata de um assunto tabu que é a morte com uma delicadez rara, vale muito ver.

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  4. Márcio, que lindo! Ainda bem que descobri este amigo poeta da Fernanda e posso me deliciar com sua sensibilidade. Vc é indiretamente, causador dessa vontade de me descobrir tb. Bjs,

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  5. delícia de texto, coisa que só um aquariano poderia ter a sensibilidade de escrever. Cuidado para o Fábio não achar que vc está pronto para escrever um livro de auto ajuda. Te amo muito!!!

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