segunda-feira, 1 de março de 2010

Ler é o melhor remédio


Dias chuvosos são sempre estressantes para mim. Não gosto. Nunca gostei. E nem adianta aquela lenga-lenga de que o barulhinho de chuva caindo lá fora é uma delícia, um convite ao romance e à preguiça. Concordo apenas com a preguiça e muito por conta do transtorno que é sair de casa em meio àquela chuvinha incessante. Porque quando eu tenho a opção de ficar em casa em dias de chuva, eu fico. Sem traumas. Mas não esperem me encontrar debaixo de um edredom assistindo Sessão da Tarde. Isso nunca. Faz pelo menos uns 25 anos que não assisto Sessão da Tarde e, se não me engano, da última vez era um filme do Jerry Lewis. Eu achava muita graça nos filmes do Jerry Lewis. Hoje, não mais. Continuo gostando de filmes, claro. Mas prefiro ir ao cinema do que ver pela TV. Em casa eu prefiro um bom livro. Isso quando me sobra tempo, lógico. Afinal, vocês sabem que meus três filhos quase não me permitem um tempo livre para ler o que quer que seja. Jornal? Só bem cedo, antes mesmo dos mais novos acordarem.
Sempre gostei de livros. Desde muito pequeno, quando as gravuras e as encardenações eram o que mais me atraíam. Lembro que quando fiz oito anos minha tia Marília me deu um livro de presente. Era um livro grosso, de capa dura, com alguns desenhos e repleto de fábulas do Esopo, que só muito tempo mais tarde vim saber que se tratava de um escravo contador de histórias e que as tais fábulas nada mais são do que contos com moralidade popular. Mas isso é papo para outro post. O certo é que aquele livro que minha tia me deu ficou pra sempre registrado na minha lembrança como sendo o primeiro livro que eu tive curiosidade de ler. Depois vieram outros. Muitos outros. Desde então o hábito de ler nunca me abandonou.
Talvez o gosto pela leitura tenha sido o meu diferencial diante do mundo, já que nunca fui um aluno brilhante, daqueles que sempre se destacavam. A não ser pelas minhas redações, que sempre foram motivo de orgulho e de elogios, posso me considerar ter sido um aluno medíocre. Não gostava mesmo de estudar, tinha verdadeiro pavor de matemática e não entendia como alguns amigos e primos conseguiam ficar horas debruçados sobre um livro de física, por exemplo, tentando decorar todas aquelas fórmulas. Eu preferia me envolver pelos crimes que saíam da imaginação de Agatha Christie, pelos contos de Machado de Assis, pelas histórias fantásticas das Brumas de Avalon, pelos dramas de Shakespeare e mais tarde, bem mais tarde, pelas Ilusões Perdidas de Balzac e pela filosofia de Nietzsche.
Nunca na minha vida vou esquecer da emoção de ler pela primeira vez um livro do Carlos Heitor Cony chamado Pilatos, que ele escreveu no ano em que eu nasci, 1969. O livro conta a terrível história de um homem que teve seu pênis decepado e passa o tempo todo com ele, seu pênis, dentro de um pote de maionese. Pode soar estranho, mas foi o livro mais engraçado que eu já li durante estes meus 41 anos. Cony, o autor, tem uma relação polêmica quando o assunto é ditadura e os militares, mas Pilatos trata justamente da castração em que se encontrava a sociedade naqueles anos de chumbo.
Confesso que eu estava meio sem inspiração para vir aqui neste meu blog e escrever sobre o que quer que fosse, mas ontem, quando soube da morte de José Mindlin, alguma coisa despertou em mim. A história daquele senhor de 95 anos que dedicou sua vida aos livros e ao Brasil me comoveu. Desde criança ele se dedicava a montar uma das maiores bibliotecas do país, com mais de 45 mil livros, entre eles exemplares pra lá de raros, como o original do Grande Sertão Veredas, um dos livros que mais me impressionaram, seja pelo seu conteúdo ou seja pela forma como foi brilhantemente escrito. Hoje eu li no blog da Míriam Leitão que o sonho de Mindlim era que o Brasil lesse mais. Eu também sonho este mesmo sonho. Porque sou exemplo vivo de como a leitura pode ser benéfica na vida de alguém. Afinal, se eu sou o que sou hoje, muito se deve ao meu prazer pela leitura. Não que eu seja alguma coisa ou que tenha cargos importantes. Nada disso. Quando digo "o que eu sou hoje" é simplesmente em relação ao que se transforma em mim a cada frase que leio ou a cada verso que escrevo. Só isso. E isso, no Brasil de hoje, já é muito.
Que venham as novas gerações e com elas o gosto pela leitura. E que o sonho de José Mindlim e de outros brasileiros como eu se concretize.

P.S.: Nas imagens do velório de José Mindlim eu vi vários políticos: FHC, Serra e até Marta Suplicy. E o Lula? Ah... este não gosta de ler, não é mesmo? Uma pena.

5 comentários:

  1. Fico aq me perguntando, vc ama ler... e eu tb.. e pq nosso filho jamais leu um livro por vontade própria. Onde foi que erramos???
    Kaê sai do msn...sai do orkut e vai LER....
    fica aq o apelo....

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  2. Vai ver por isso ele escreve tão bem...

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  3. fica tranquilo em relação ao filhão pq eu só comecei a ler de verdade aos 18 anos. E de lá para cá, já li mais que a maioria das pessoas. Talvez esteja na hora de dar um livro q ele realmente se interesse. Para vc foram os contos do Esopo. Para mim foi "Filhos da Droga" de Cristiane F. (sua postagem me fez lembrar isso). Li aos 14, achei mto interessante. Li mais algumas besteiras (namorar era mais interessante nessa época) e aos 18, engrenei.

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  4. É verdade. O corre corre do dia a dia não tem me deixado ler... nem me lembro qual foi o último. Sei que está na gaveta do criado-mudo (ô velha) sem terminá-lo. Amo ler. Na minha época de central do brasil, lia um bom livro em duas idas e vindas rs... e fora a mania de ler dois ou tres livros ao mesmo tempo! Amo rsrsrs Mas, já dei vários livros pro meu filho, mas ainda não deu o click. Bem, como o Márcio disse, eu também me interessei tarde. E me lembro da minha mãe falando: vai ler menina, ler é viajar na estória... acho que tinha que ler João e o pé de feijão pra escola ahahaha
    Tempo bão...
    Beijo

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  5. Ah, esqueci, falando em José Mindlin... o que foi uma grande perda. Sua biblioteca está sendo digitalizada para domínio público.
    Vi em jornal dia desses que foi encontrado em Nova York, jogado no meio de livros descartados, sem valor, no lixo, o primeiro livro de Alice no País das Maravilhas... Hoje está num cofre!!!
    O problema é mundial...

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