quinta-feira, 14 de maio de 2009

Memória afetiva


Tenho uma amiga, a Érica, que assim, de cara, a gente não se gostava. Ela era amiga de uns outros amigos meus e volta e meia nos encontrávamos na casa de um ou de outro. No máximo nos cumprimentávamos com um "oi, tudo bem?" sem ao menos um beijo no rosto ou sequer um aperto de mão. Era uma frieza só. Isso pra não dizer indiferença. Um belo dia eu soube que ela tinha ido morar em Nova Iorque e por lá acabou ficando uns bons dois anos, não sei. Só sei que não senti a menor falta dela e de certo que ela também nunca deve ter lembrado de mim lá pela Big Apple.

Os tais dois anos se passaram e numa noite de segunda-feira, das sem-lei, em pleno Baixo Gávea, dei de cara com a Érica e, incrível, nos abraçamos feito amigos do peito que não se encontravam há decadas. Foi tipo cena de cinema, daqueles filmes água com açúcar da sessão da tarde, com direito a corridinha em slow motion e trilha sonora ao fundo. Uma coisa. Beirava o ridículo... Lembro que quando nos demos conta, olhamos para a cara um do outro e caímos numa gargalhada sem fim. Pausa para outro abraço. Corta.

Só sei que daquela noite em diante viramos bons amigos. Ela foi trabalhar na mesma produtora que eu semanas depois e passamos a fazer parte do dia a dia um do outro e com direito a muita cumplicidade. Ela é dona de um mau humor que já virou lenda e só quem conhece a figura sabe que aquilo tudo faz parte de uma espécie de escudo que criamos para nos defender. Na verdade acho que só os mais frágeis precisam de escudos. Alguns outros precisam de máscaras. Talvez o certo fosse aprender a usar os dois sem esquecer da hora em que devemos nos despir por inteiro e deixar escapar o que somos de verdade. Mas isso é tema para outro post. O que vale é que eu consegui conhecer o lado doce desta minha amiga Érica, da qual eu gosto muito e guardo as melhores lembranças.

Hoje em dia não nos vemos com tanta frequência mas sempre que nos encontramos temos sorrisos para distribuir. Uma vez ela me disse que isso é a tal da memória afetiva e eu acredito. Afinal, os anos teimam em passar depressa. Cada vez mais rápido, aliás, e gente teima em guardar no cofre das boas lembranças os tesouros que encontramos nesta vida. A amizade é um desses tesouros. Um dos maiores, posso afirmar. E eu tenho a sorte de ter muitos amigos.

2 comentários:

  1. Érica é mau humorada pra caralho, sua sombrancelha sempre ficava curvada para baixo!! A única pessoa de quem eu vi ela ter uma simpatia foi o Fred...mas o Fred sempre foi o queridinho da galera, isso não é novidade. NY deve realmente ser muito bom, já imagino que qdo descer do avião, a Jennifer Aniston venha de biquini me recepcionar...a Érica mudou mesmo??? Fantástico esse lugar!!!

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  2. Oi Marcio,
    Fiquei até emocionada em ver que ainda podemos ouvir algo assim neste mundo em que vivemos. Parabéns pela família, que Deus continue abençoando sua vida, profissão, família...
    Gostei do novo visual, dá até para fotografar na praia exibindo o físico!! rsrs
    Me convida para almoçar com a família, eu levo um brigadeirão de sobremesa.
    Saudades...
    Das muitas lembranças maneiras que compartilhamos no colégio.
    Sua amiga Claudia Abreu

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