quarta-feira, 6 de maio de 2009

O processo criativo


Esta semana um amigo me perguntou por que eu nunca postei nenhum texto aqui sobre o meu processo de criação. Na hora eu respondi que nunca tinha pensado nisso e que talvez fosse muito pretensioso da minha parte expor tais peculiaridades, até porque eu teimo em não me considerar tão criativo ou mesmo talentoso. Isso faz parte da minha falsa modéstia, é óbvio. Na verdade eu sou muito crítico com tudo aquilo que faço ou produzo. Lembro que minha primeira poesia eu escrevi aos 9 anos de idade, mas só aos 16 ou 17 foi que mostrei meus escritos a alguém e sempre com a incerteza se os elogios eram apenas por educação ou pelo fato daquela pessoa pra quem eu mostrava o que escrevia elogiava só pra me deixar contente.
O certo é que desde os 9 anos escrevo poesias e elas, na maioria das vezes, já nascem prontas e são sussurradas no meu ouvido. Quantas eu já deixei passar por conta de não ter onde anotar na hora em que elas "baixam" e quantas outras foram modificadas porque somente um verso ou outro ficou na lembrança. Mas eu gosto de escrever poesias. Me parece fácil e rápido. Gosto do ritmo em que elas se impõem; gosto da sonoridade que costumam ter; gosto de ler e reler depois uma centena de vezes até não aguentar mais; gosto quando gostam e pedem mais. Aí eu vou e digo que preciso esperar a inspiração chegar.
Depois de crescido resolvi que ia escrever roteiros, só que por muitas vezes eu escrevi roteiros em que me baseava num ritmo poético, pois eu queria emocionar e creio que conseguia. Tem um roteiro meu, de um documentário que fiz para o SESC Rio há uns 6 anos sobre um tema triste pacas, a fome, que não há quem não se emocione. E olha que o documentário não tem nada de piegas ou sensacionalista. É que ali eu consegui encontrar uma personagem com uma história tão rica, que na hora da edição foi fácil dar o tom da emoção sem precisar apelar ou usar este ou aquele artifício que muitas vezes deixa tudo muito chato, inclusive. Nunca mais vou me esquecer da cara do então gerente responsável pelo projeto quando assistiu ao primeiro corte do documentário nem da minha cara de pau de ligar pra ele num final de semana e aprovar o texto que seria lido em off pela atriz Miriam Freeland, dona de uma das vozes mais suaves que já ouvi. Foi naquele momento que eu percebi que eu também tinha o maior jeito pra vender meu peixe. E deu supercerto.
Outro momento de criação bacana também foi junto com minha amiga Benita Prieto, quando ela me convidou para fazer o roteiro do documentário "Histórias" sobre a tradição da oralidade e a arte de contar histórias. Bastou um papo animado para logo surgir a pergunta "como seria um mundo sem histórias?" e daí, então, surgiu o roteiro. Fácil, dinâmico, rico, profundo e cheio de boas histórias, "Histórias" foi um trabalho que me deu enorme prazer em fazer e me rendeu milhares de elogios, além de uma viagem a Cuba para participar de um festival onde o documentário foi exibido. A direção é do Paulo Siqueira e tenho certeza de que este filme também o deixa cheio de orgulho.
Mas não sei responder se criar é algo fácil ou difícil. Muitas vezes a tela do meu computador em branco me angustia, mas de outras vezes a mesma tela em branco me inspira e é o meio pelo qual eu melhor consigo me expressar. Não sou muito bom quando me pedem para falar. Em público, então, tremo na base literalmente. A voz desaparece, o coração sai pela boca, fico vermelho, tenso. Um vexame. Prefiro escrever. Mas não tenho uma regra. O que tenho é inspiração. Ainda bem.

7 comentários:

  1. O interessante Márcio é que quem cria provavelmente vai ver no seu texto coisas que todos temos em comun, assim como o que é peculiar de cada processo criativo individualmente. Outra coisa interessante é que no mesmo criador esse processo pode ser múltiplo. No meu caso, já me peguei fazendo coisas legais em momentos de inspiração, mas algumas das coisas que fiz e que mais gosto, foram escritas sob a pressão do tempo do trabalho de encomenda. O desespero prazo às vezes funciona: a gente vai lá no fundo da gaveta da memória buscar informações que são verdadeiros salva-vidas. Parabéns pelo texto. Grande abraço,
    Silvino

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  2. Pois é, sempre como publicitário formado sempre ouvi muito que o processo criativo envolve 90% de "ralação" e 10% de "inspiração" ..... sempre achei estranha essa colocação,uma vez que só podemos "ralar" os ditos 90% depois que os 10% da inspiração trabalharem, pois de nada adianta trabalhar em cima de nada. Então como poderia essa afirmação ser tão verdadeira a ponto de professores proferirem tal afirmação em plena aula de criação publicitária ? e mais, o que poderíamos fazer para que não caíssemos assim noutro velho ditado que diz: "no mundo nada se cria tudo se copia".... mas ralação sem inspiração sempre me soava cópia.... então, chego agora a conclusão, com certa ajuda do texto em questão que o processo criativo em sí é 100% inspiração.... o que vem depois trata-se da ralação para pura formatação da idéia em um texto e/ou imagem com os símbolos necessários para a compreensão do mesmo pelas demais pessoas.

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  3. Exercício meu querido. É daí que sai. Como vc mesmo disse, pode ser de uma frase, mas precisa ter gás (exercício) pra seguir. Valeu! Jundas!

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  4. Este é um grande dilema... Acho que nunca haverá uma resposta que agrade a todos. Fogo é quando a gente tem que entregar o projeto no prazo x... e aí? Relamente é um dilema.

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  5. Prazos.... datas.... acho que esses sempre são motivadores.... sem prazos o processo criativo pode se perder em uma idéia de que sempre se pode melhorar..... e isso sempre é verdade.....

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  6. Camarada Marcio ...
    Aqui estou ... em terras boreais e contando os segundos pra voltar pro Rio e continuar minha historia musical ...
    Curto demais a pureza de teus poemas ... me emociono pacas e sou de admitir ... meus olhos garoam e deixo rolar ... afinal sao essas emoçoes que alimentam minha alma de forasteiro ... sao essas palavras que nos mostram como a vida é rica e como tem gente boa fazendo coisas lindas no mundo !
    Estou num ritmo alucinado... tentando fazer tudo que posso dentro do espaço e do tempo que o Universo me permite ... comendo e respirando arte ... compartilhando minha estrada com aqueles que acreditam em sonhos pois como digo sempre ... " tudo começa de um sonhos " e sabe tenho tantos ... e vou adicionando cada segundo que respiro essa alegria de sorrir pro mundo ...
    Assim vou aprendendo... ensinando ao mesmo tempo o que me é soprado pelo vento ... batendo minhas asas e cantando meus sonhos ...
    acredito que o processo de criaçao de todo mundo deve ser parecido ... somos acariciados por luzes divinas e as vezes nao percebemos que tudo é tao simples como respirar ... basta se deixar levar ... assim como as folhas do outono que bailam no ar !
    e o mundo vai girando ... e vou com ele... cantando ... "soft as a Butterfly" ... and " I don't mind " pois " tudo começa de um sonho "

    Zaca Zuli

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  7. Quando disse que queria ler algo sobre o seu processo criativo, imaginava te compreender justamente no campo da imaginação. As vezes relatamos uma sucessão de eventos no dia a dia que não revela absolutamente nada sobre nós mesmos. Por isso iniciei meu blog.
    Você fez um comentário sobre "eu substituir o Rodrigo Fonseca", crítico do Globo, e confesso que refleti sobre aquilo. Estava me achando muito? Quem sou eu para julgar um filme ou classificá-lo como obra prima? A conclusão que cheguei foi que a exposição de ideias no meu blog eram mais para MIM do que para os OUTROS. Obviamente queremos que leiam o que escrevemos. Mas, quase sendo uma prerrogativa, só poderão gostar do que criamos se nós antes de todos também gostarmos. Só temos a coragem de expor nossa arte quando conseguirmos não pensar no que os outros vão achar. Nós temos que achar, depois os outros.

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