segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

É verdade, eu sei cozinhar. Desde pequeno me interessava pelo que vinha da cozinha. Fosse o cheiro do ovo frito que minha avó fazia para comermos com o pão fresquinho no lanche da tarde ou os bolos da minha mãe, nada passava desapercebido por meu olfato e, claro, meu paladar. Daí minha barriga, que não me abandona e sequer me deixa mentir. Mas não é para trocar receitas que eu estou aqui. E nem você, espero. Eventualmente até podemos, mas por enquanto prefiro trocar idéias. Porque além de saber cozinhar, eu também tenho idéias. Muitas. Penso tanto que muitaz veses penso até que não existo. Porque penso muito. Agora, me diz: por que penso tanto? E por que sofro com isso? É verdade. Sofro porque penso que penso muito e acho que pouco faço. Não sei se o caso é de pouco caso comigo mesmo ou de mero acaso. Confuso. Difuso. Parafuso. Às vezes minha cabeça dá mesmo um nó.
Mas não é estranho pensar tanto assim? Juro que preferiria não pensar em nada. Melhor: preferiria não saber de nada. Não ler jornais, não assistir televisão, sair nas ruas às cegas, enxergando só aquilo que eu achasse legal enxegar. Só que não dá. Não rola. Não consigo mesmo. E me apavora e entristece ver um ano novo começar sob a névoa de bombardeios na Faixa de Gaza e as previsões de uma crise anunciada, por exemplo. Que mundo é este em que eu vim parar e, de quebra, ainda coloquei uma legião de filhos? Que mundo é este de mudanças climáticas, onde o meu Rio de Janeiro veste as cores do inverno em plena estação do sol? Que mundo é este onde não se sabe mais o nome do vizinho, onde são cada vez mais raros cumprimentos de "bom dia" e onde os sorrisos se escondem atrás de máscaras e capas e escudos que nos escondem de nós mesmos? Ah... acho tudo isso muito complicado. E difícil. E estranho. É errado.
Tenho certeza de que está tudo errado ou então que os planos não deram muito certo. Somos seres complexos: carne, ossos, músculos, nervos, neurônios, sorrisos, abraços, saudade, paixão, excessos, amor... vaidade, luxúria, tesão, mentiras, pelos, cheiros, secreções... narinas, orelhas, meninos, meninas, vestidos, desnudos, primavera, verão e tantas outras canções... poesia. Às vezes eu queria que minha vida fosse feita só de poesia.
Mas aí eu paro e penso se quem nos criou tinha idéia do que estava fazendo.

3 comentários:

  1. Você já é artista, meu nego.
    D.

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  2. Quanto mais eu paro e penso mais penso que quem nos criou não tinha ideia do que estava fazendo...

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  3. Se eu muito paro e penso penso que quem nos criou não tinha ideia do que estava fazendo...
    Muito pensar é nó e parafuso, é vital.

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