Solte o texto. Desamarre as palavras bonitas que você aprendeu desde a infância, quando sua mãe inventava histórias preciosas à beira da sua cama até que o sono chegasse e te levasse embora. Não se esqueça: escrever é como narrar um sonho, é ater-se a detalhes, criar novas realidades, romper barreiras e dar sentido aos vocábulos que muitas vezes correm soltos desnecessariamente. É quase como saber costurar, seguir o fio da meada, o corte certo, o risco iminente da emoção e da razão.
Não pense que é fácil, mas também não tenha medo. É só ter cuidado e saber tecer a trama, dar vida a personagens completamente diferentes daqueles que você se vê obrigado a representar, com discursos improváveis vindos da sua boca, mas tão presentes no seu imaginário desde todo o sempre. Como se estivessem guardados, só esperando a hora de serem postos à prova. O ridículo é apenas um adjetivo sem muita precisão.
Exponha-se. Não tenha vergonha de expressar o que sente e muito menos deixe que alguém o censure. Isso é um crime. Aceite as críticas, mas não leve a ferro e fogo tudo o que você porventura ouve por aí. Separe o joio do trigo e acredite na coerência do que acabou de ser escrito, na frase exata e derradeira que surge e preenche a angústia da página em branco. Confie, segure no leme da narrativa e deixe que sua tripulação faça o que eles devem fazer. Dê as ordens que eles vão obedecer.
Seja firme. Mate se for preciso, mude o percurso, inverta os valores, provoque. A arte é proporcionalmente inversa - e avessa - à zona de conforto. Fuja do comum, esqueça as rimas perfeitas, quebre regras, risque e rabisque. Subverta. Surpreenda. A vida só é interessante porque a gente sabe que depois deste dia vem sempre um outro dia e que a história nunca termina e não tem o tal do ponto final. Eterno rascunho.
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