Faz tempo que eu venho procurando em mim determinadas respostas para sabe-se lá quantas perguntas. De uma hora para outra minha mente se tornou um campo fértil para inúmeros questionamentos que brotam incessantemente. Se antes eu dormia pouco, agora durmo menos ainda. A insônia chega junto comigo do jornal quase que todas as noites. É a companheira, cúmplice e testemunha mor das minhas eventuais angústias. E angústia, você bem sabe, é um desassossego só. Traz o cansaço, o desânimo, a inquietação. Um passo e você entra em depressão. Loucura.
Há mais ou menos seis meses que faço análise. Tem sido um processo prazeroso e ao mesmo tempo doloroso, sofrido, tenso até. Se por um lado eu consigo ter clareza naquilo que eu sou e naquilo que eu um dia fui, é barra pesadíssima reconhecer que este eu - que agora já se entende como vários - não tem certeza do que virá a ser. Muito provavelmente este eu já não é o mesmo de alguns minutos atrás porque a cada segundo este eu me descobre em nuances diferentes. Outro dia mesmo me vi diante de um espelho e o meu analista ali do meu lado, pedindo que eu me aproximasse cada vez mais daquele que eu via no reflexo. De longe eu era bem diferente daquele de quem eu chegava perto. E ao pedir que eu me afastasse do espelho, aquele que estava perto ficou com muito do que estava longe. E vice-versa.
Nada fácil de entender.
Eu não tenho entendido mesmo muitas coisas ultimamente. Tenho pensado muito e tenho sonhado muito também. Tenho sentido saudades de coisas que jamais imaginei. Tenho percebido mais nitidamente as marcas que o tempo tem deixado em meu rosto. Meus cabelos cada vez mais ralos - e raros -, minha barba cada vez mais branca, o vinco na minha testa, os pelos nas minhas orelhas. Saber que muito provavelmente já vivi mais da metade do que me foi designado a viver me assusta. E meus planos de ser eternamente jovem, onde ficam? E meu corpo que talvez já não acompanhe a velocidade da minha mente? Eu tenho pensado muito nisso tudo. Tenho olhado fundo nos meus olhos. Tenho ficado muito tempo sozinho. Tenho chorado como nunca chorei. Mas tenho rido também. Carrego comigo desde sempre um certo deboche e um certo desdém pelas armadilhas da vida. Não que eu ignore os tropeços, muito pelo contrário. Tenho ficado mais atento, só isso, para na hora exata do tombo não me machucar por demais. Porque tombos são inevitáveis, agora eu sei.
Há que se levantar e se reencantar pela vida, eu costumo dizer a mim mesmo. Há que se deixar banhar no mar gelado num meio de semana de um céu azul sem nuvens e nada mais com o que se preocupar. Há que se permitir uma tarde sob o sol do Aterro a cruzar os olhos às margens da baía até onde os olhos puderem enxergar. Há que subir as Paineiras e lembrar que foi feliz ali outro dia. E então registrar na memória só o que restar de bom. Feito turista de si mesmo fotografando a cidade mais bonita, em busca do melhor ângulo. Aqui e ali, pouco importando se a luz está perfeita ou se o cenário e o figurino são adequados. Porque no fundo ele sabe que nada é perfeito ou adequado. Por que eu deveria ser? Aliás, o que eu deveria ser?
Eu tenho mesmo muitos questionamentos e tão poucas respostas.
Há mais ou menos seis meses que faço análise. Tem sido um processo prazeroso e ao mesmo tempo doloroso, sofrido, tenso até. Se por um lado eu consigo ter clareza naquilo que eu sou e naquilo que eu um dia fui, é barra pesadíssima reconhecer que este eu - que agora já se entende como vários - não tem certeza do que virá a ser. Muito provavelmente este eu já não é o mesmo de alguns minutos atrás porque a cada segundo este eu me descobre em nuances diferentes. Outro dia mesmo me vi diante de um espelho e o meu analista ali do meu lado, pedindo que eu me aproximasse cada vez mais daquele que eu via no reflexo. De longe eu era bem diferente daquele de quem eu chegava perto. E ao pedir que eu me afastasse do espelho, aquele que estava perto ficou com muito do que estava longe. E vice-versa.
Nada fácil de entender.
Eu não tenho entendido mesmo muitas coisas ultimamente. Tenho pensado muito e tenho sonhado muito também. Tenho sentido saudades de coisas que jamais imaginei. Tenho percebido mais nitidamente as marcas que o tempo tem deixado em meu rosto. Meus cabelos cada vez mais ralos - e raros -, minha barba cada vez mais branca, o vinco na minha testa, os pelos nas minhas orelhas. Saber que muito provavelmente já vivi mais da metade do que me foi designado a viver me assusta. E meus planos de ser eternamente jovem, onde ficam? E meu corpo que talvez já não acompanhe a velocidade da minha mente? Eu tenho pensado muito nisso tudo. Tenho olhado fundo nos meus olhos. Tenho ficado muito tempo sozinho. Tenho chorado como nunca chorei. Mas tenho rido também. Carrego comigo desde sempre um certo deboche e um certo desdém pelas armadilhas da vida. Não que eu ignore os tropeços, muito pelo contrário. Tenho ficado mais atento, só isso, para na hora exata do tombo não me machucar por demais. Porque tombos são inevitáveis, agora eu sei.
Há que se levantar e se reencantar pela vida, eu costumo dizer a mim mesmo. Há que se deixar banhar no mar gelado num meio de semana de um céu azul sem nuvens e nada mais com o que se preocupar. Há que se permitir uma tarde sob o sol do Aterro a cruzar os olhos às margens da baía até onde os olhos puderem enxergar. Há que subir as Paineiras e lembrar que foi feliz ali outro dia. E então registrar na memória só o que restar de bom. Feito turista de si mesmo fotografando a cidade mais bonita, em busca do melhor ângulo. Aqui e ali, pouco importando se a luz está perfeita ou se o cenário e o figurino são adequados. Porque no fundo ele sabe que nada é perfeito ou adequado. Por que eu deveria ser? Aliás, o que eu deveria ser?
Eu tenho mesmo muitos questionamentos e tão poucas respostas.
Coisas de quem nasce em fevereiro? Faço estes questionamentos há anos, e olha que tenho alguns a mais que você... Ultimamente ando evitando ver jornal, saber de coisas que me deprimem, questionando meu papel no mundo. Vocês dizem que sou exemplo, que o mundo precisa de pessoas como eu e eu me pergunto: o que faço? Tem gente fazendo muito mais que eu! Me sinto inútil, querendo mudar o mundo, como se eu pudesse...
ResponderExcluirpenso que a vida é uma espécie de enigma sempre... talvez por isso se questione.. o nosso "eu" não é um constante...
ResponderExcluirAchei incríveis todas as palavras e toda a filosofia. Mas mais incrível achei porque consegui me identificar bastante com estes pensamentos... Afinal estou vivendo períodos de inquietação e dolorosos questionamentos que comprometem minha própria vida. Como se eu tivesse me deparado com um sentido maior para tudo isso, e me sentisse na obrigação de dar algum valor para ele... Ou de considerá-lo, sei lá. Afinal algumas percepções são muito significativas para deixar passar, assim, batido.
ResponderExcluirE é como se eu simplesmente não conseguisse voltar a ser quem eu era antes.
Me encontro em um estado de alma tão inconsistente, vulnerável e delicado, e não sei como proceder desta forma. E aí a minha vida toda parece uma bobagem diante de tudo, e de repente eu me vejo distante.
Hahaha exatamente, que loucura... Mas adorei seu texto!