quarta-feira, 3 de junho de 2009

Céu de brigadeiro


Acordei segunda-feira como se nada tivesse acontecido. Eram 6h30 e lá fui eu para a minha malhação diária na academia. Voltei, tirei a camisa suada, me esparramei na rede da varanda, li o jornal de cabo a rabo e, coisa rara, resolvi ligar a TV. Ana Maria Braga tomava um café da manhã ao lado de Nívea Maria e Osmar Prado, mas um olhar mais atento e pude perceber que o assunto era mais sério do que eu poderia imaginar. Uma tragédia nos céus com um airbus da Air France mobilizava toda a imprensa. Nacional e internacional. Mais de 200 mortos e boa parte deles, brasileiros. A causa era desconhecida e o paradeiro do avião também. Até aquele momento só havia a notícia de que o avião fizera um último contato por volta das dez da noite, ao passar próximo ao arquipélago de Fernando de Noronha. Mais do que isso era suposição.
Tomei meu café da manhã enquanto a TV continuava ligada nos comentários e nas edições extraordinárias dos telejornais. Ao vivo, do Aeroporto Inernacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro, uma repórter tenta em vão uma declaração de um irmão de um dos passageiros do vôo 447 da Air France. O rapaz falava ao telefone com alguém da família quando se viu cercado de jornalistas e microfones que invadiam o que havia de mais privado naquele momento difícil. Achei um horror. Se fosse comigo de certo que os jornalistas ouviriam poucas e boas. Mas o rapaz era educado demais para isso e não perdeu a linha, mesmo quase sufocando com tanta gente curiosa ao seu redor. Resolvi desligar a TV e fui tomar meu banho. Claudia não estava com pressa e eu tinha uma reunião marcada para as duas da tarde. Já tinha chovido um pouco e o céu continuava negro. Da janela do meu quarto eu via uma enorme parede de nuvens carregadas, principalmente em direção à zona sul. E era justamente pro Leblon que eu ia.
O trânsito estava ótimo. Na Avenida Presidente Vargas fui presenteado com uma onda verde que me fez pegar todos os sinais abertos, desde o prédio da Prefeitura até à Candelária. Fiz em menos de cinco minutos. Da Rua do Acre ao Leblon foram mais uns 20 minutos, o que é pra lá de bom. Cheguei, me reuni com quem tinha de me reunir, mas passei a tarde toda me dividindo entre o que diziam meus sócios e as notícias do airbus. Nada muito esclarecedor. Chegaram a dizer que o avião havia se desintegrado por conta de uma descarga de raios, outro site dizia que entrou numa zona de turbulência excessiva, minha reunião não terminava, o frio aumentava e eu só pensava em ir embora. Meu Deus!
Mas enfim a reunião acabou. Quase nada foi resolvido. Mas mesmo assim tenho a impressão de que as coisas estão sendo colocadas em ordem. Projetos, projetos e mais projetos. Minha cabeça anda cheia de projetos e eu quero mais é ver algum deles se concretizar. Com quatro sócios e mais dois agregados nada é muito simples. É muita opinião para ser ouvida e quase sempre para ser rebatida. Por sorte a volta pra casa foi tranquila. Peguei Claudia no trabalho as sete da noite e antes das sete e meia estávamos em casa. A gente nunca sabe o por quê, mas tem dias que o trânsito flui da melhor maneira e fica tudo livre pela frente. Feito céu de brigadeiro. Cheguei em casa e as crianças quiseram ir pro play, pois eu havia combinado que eles iam fazer umas caminhadas para se exercitar. Dez voltas completas ao redor do play depois eu estava de volta e só então pude tomar meu banho, comer alguma coisa e ouvir o noticiário. Só se falava no airbus que continuava desaparecido.
Dormi logo depois da novela. Na verdade desmaiei. Tenho andado bastante cansado. Coisas da idade, acho. No dia seguinte soube que foram encontrados alguns destroços do avião perto do arquipélago de São Pedro e São Paulo, ainda em mares brasileiros. Fiquei decepcionado. Na minha cabeça eu já criava um final diferente para esta tragédia. Coisa de quem tem uma imaginação pra lá de fértil. Se eu fosse o autor desta "história" o avião nunca seria encontrado, corpo de ninguém apareceria, destroços, nada, nada, nada. Só suposições. Só mistério. Só lenda. Tal e qual o Triângulo das Bermudas que me fez ficar noites sem dormir quando eu era moleque imaginando o que aquilo poderia ser. Mas na vida real é tudo diferente. Quase sempre nunca é do jeito que a gente imagina. E ponto final.

2 comentários:

  1. Muito bom o blog e muito ruim o acidente... :(
    E que engraçado! Eu lembro que quando eu era moleque também ficava encafifado com o Triângulo das Bermudas... Hoje eu tenho pena dos meus professores de Ciências e Geografia!!! rsrsrs

    Abraços!!!

    ResponderExcluir
  2. No Brasil colocou-se a esperança, aquela que é a última a falecer.
    Na França, prontamente, foi declarado por Sarkozy que não havia esperança.

    Dois mundos. Duas realidades.

    Isso foi sem dúvida o que mais me fez refletir.

    ResponderExcluir