sexta-feira, 22 de maio de 2009

Certos dias são estranhos


Sabe aqueles dias em que o despertador toca, você acorda, desliga ele, vira pro lado, pisca o olho e quando vê já se passaram minutos preciosos que vão te fazer a maior falta durante o dia? Pois é. Hoje foi assim. Quando vi já eram sete e tal. Cheguei atrasado pra aula de bike indoor e resolvi encarar a esteira. Meu pé doeu, minha lombar reclamou, meu fôlego secou e minha barriga estava lá acompanhando tudo. Tenho andado cansado ultimamente e enfrentar a academia dia sim e outro também às sete da manhã tem sido uma batalha árdua entre o bicho preguiça que existe em mim e eu mesmo. Esta manhã foi assim. Depois de me arrastar pela esteira por quase meia hora encarei uma série de abdominais pra ver se me livro de uma vez por todas da camada de toucinho que me envolve. Mas nada. No máximo descobri que abdômen tem ligação direta com joelho, pois terminei a série com meu joelho gritando que precisava de mais carinho e atenção. E daí? Na ânsia de ficar fortinho aos 40 anos, lá fui eu puxar meu ferro. Dezoito quilos em cada braço pra começar. Aumenta pra vinte quilos e é hora de alternar. Primeiro um braço depois o outro. Tem uma veia da minha testa que chega a saltar. Meus olhos ficam avermelhados. O som diminui porque o ouvido parece entupir. Puxo o ar, prendo a respiração e ainda faltam quatro exercícios da série. Olho no relógio e são oito e meia da manhã. Tenho que sair de casa no máximo às dez. Antes eu quero ler jornal com calma, comer alguma coisa, tomar banho, quem sabe até fazer a barba? Rafael, o professor gente boa que curte jogar basquete e igreja evangélica, chega perto e me faz sua clássica pergunta: "E aí, alemão, firme na rocha?". Eu, que ando sempre com um texto decorado na ponta da língua, devolvo que "tá tudo tranquilo", olho pro espelho, me certifico de que não há mais jeito de disfarçar a careca, pego minha ficha, dou um até amanhã para a turma que fica e vou pra casa.
Fora da academia o dia estava iluminado por um céu azul que só mesmo nas manhãs de outono do Rio de Janeiro. Nem calor nem frio. O barulho das crianças correndo no pátio do colégio se misturava aos dos carros apressados e lá estavam as mesmas figuras na banca de jornal da esquina. Não parei na padaria. Vou tentar diminuir o pão. Ando tomando café demais também. Nunca fui disso. Parei de fumar em dezembro e minha tosse melhorou bastante. A rinite alérgica não. Na entrada do meu prédio os porteiros batem um papo animado e um deles canta alto a música-tema da personagem de Dira Paes na novela das Índias. Entro no elevador, paro no quinto andar, que é o meu, pego o jornal, abro a porta de casa, tiro a camisa suada e vou direto pra varanda ler as notícias. Dilma continua doente. Lula teima em dizer que Dilma está curada. Vem aí o terceiro mandato, mas antes a CPI da Petrobras. Aécio vai para o PR. Serra é o candidato do PSDB e Susana Vieira é mais indelicada que nunca. Nada de novo.
Vou pro banho. Rápido que é pra economizar a água do planeta. Claudia já está pronta para ir trabalhar. Ela me apressa e eu me arrumo rápido também. Desisti de fazer a barba e resolvi que hoje vou trabalhar de bermuda. Foda-se. Está um sol lindo, é sexta-feira e a vontade é de ir para a praia. Vou pro Leblon, que é onde fica a produtora. Do lado da praia, da brisa do mar e com o Dois Irmãos ao fundo. Privilégio de poucos. O trânsito estava complicado e eu dei duas voltas até conseguir uma vaga para o carro. Uma obra no andar térreo onde funciona a produtora atrapalha ainda mais as coisas. Barulho de furadeira. Poeira. E muita gente falando ao mesmo tempo. Subo os três andares a pé, pois o prédio é antigo e não tem elevador, abro a porta, dou de cara com a Meire e o Buffara desolados. Uma tragédia: estávamos sem Internet. Lá vou eu tentar ver se resolvo, olho pra toda aquela fiação e nada. Nunca fui bom nisso. Mal e porcamente troco lâmpadas. "Chama um técnico", eu disse. Já tinham chamado mas ele só pode depois das 18h. Ou seja, todos perdidos e sem ter muito o que fazer. Totalmente reféns de tanta tecnologia. Que coisa! Para completar Buffara sai do banheiro com a notícia de qua havia acabado a água. O porteiro confirma que o Leblon todo está sem água hoje. Parece que Campo Grande, Barra da Tijuca e São Conrado também. Temos uma reunião marcada para as 15h30 e ainda não são nem meio-dia. Meire resolve que vai almoçar mais cedo. Buffara aproveita para passar em casa, já que mora ali perto. Claudio já tinha saído antes mesmo da água acabar. Fiquei sozinho na produtora e resolvi escrever, já que isto é o que sei fazer. Mesmo nestes dias em que tudo parece tão estranho.

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