sexta-feira, 24 de abril de 2009

Aquilo que o povo quer


Há cerca de um mês eu tenho saído às ruas em busca de depoimentos de populares a respeito de determinados temas como política, reeleição, crise econômica, segurança, desemprego e mais o que o povo estiver a fim de falar. Eu faço questão de deixar meus entrevistados bem à vontade e afirmo que minha equipe está ali para servi-los e que é uma ótima oportunidade para eles falarem o que quiserem e mandarem seus recados para quem bem entenderem. Já estive no Largo do Machado, no Largo da Carioca e na Central do Brasil e o povo literalmente solta o verbo sem a menor cerimônia. Desde o trabalhador mais humilde ao engravatado e à madame, a voz do povo forma um coro em uníssono, pois no geral as preocupações, as decepções e as angústias são as mesmas.
A segurança, ou melhor, a falta dela aqui no Rio de Janeiro, é um ponto comum a todos os entrevistados. Seja para aquele que mora na baixada ou nas comunidades até ao mauricinho bem nascido da zona sul carioca, a violência afeta diretamente a vida de todos. Bastam poucos segundos em frente à câmera para o tema vir à tona, assim como a descrença nas ações do governo para solucionar tamanho problema. Assaltos, homicídios, brigas, tráfico de drogas. Cada um destes temas faz parte da realidade e da vida de cada cidadão que mora no Rio de Janeiro. Não importa onde. Do Leblon a Bangu. De Madureira a Copacabana. Do Méier ao Rio Comprido. De Campo Grande à Tijuca. Não há um bairro nesta cidade que ainda considero maravilhosa que não tenha uma história triste de violência para contar. E os depoimentos que colhi não me deixam mentir.
Assim também como não me deixam mentir os depoimentos sobre o descrédito com os políticos e com aqueles que fazem da vida pública nada mais que um instrumento para alavancar seus interesses pessoais. E confesso que isto muito me entristece, ainda mais depois de uma longa e esclarecedora conversa com Givaldo Siqueira no final da tarde de hoje e que terminou numa carona dentro de um táxi, da Praia do Flamengo até o Castelo. Givaldo é da executiva nacional do PPS, o Partido Popular Socialista, antigo PCB, o Partido Comunista Brasileiro, mais conhecido como Partidão.
Figura ilustre, atuante e grande conhecedor da política brasileira, Givaldo carrega no seu DNA a crença na luta contra as desigualdades e a paixão pela política. Viveu anos na clandestinidade, desde as primeiras horas do fatídico dia 1 de Abril de 1964 até meados de 1980, quando retornou do exílio no exterior. Conhece a fundo as questões do nosso Brasil e é amante da liberdade em todas as suas manifestações. E justamente por ser um defensor da democracia, Givaldo também se preocupa, e muito, quando percebe o descrédito cada vez mais crescente com aqueles que deveriam representar o povo e a política nacional. "É um vírus muito perigoso e que está solto por aí", diz ele. Eu concordo. E me angustio ao ver que o povo, a massa, parece não perceber a orquestração por trás disso tudo, como se o único objetivo fosse nivelar a todos por baixo, para cada vez mais parecer que a classe política é, como se diz no popular, "tudo farinha do mesmo saco". Esta semana mesmo fomos "surpreendidos" com mais um escândalo envolvendo nossos parlamentares. Desta vez foi a farra das passagens e das viagens aos exterior dos deputados e suas famílias. Tudo pago com dinheiro do contribuinte. Aquele mesmo contribuinte que há cerca de um mês eu tenho entrevistado nas ruas desta minha cidade. Aquele mesmo contribuinte que quer ter direito à educação, à segurança, à saúde, ao emprego. E pelo que eu pude ver e ouvir nestas minhas entrevistas, o povo só quer o básico. Só isso.

2 comentários:

  1. Marcio,
    realmente é de chorar a situação de nós cidadãos, mas não sei por que ás vezes me passa a idéia de que nós brasileiros apesar de muitos reclamarem, a maioria não faz nada de efetivo para protestar contra esses escandalos, regalias e falta de vergonha de muitos políticos e da própria justiça.

    Por muito menos na frança, por causa de uma lei que ia prejudicar os estudantes quebraram a cidade inteira durante 15 dias até revogarem a tal lei. Entenda bem não acho que seja essa a solução, mas outras nações como a inglaterra tb tem um engajamento muito grande por parte do povo nessas questões.

    Será que é a nossa cultura? nosso passado de colonia? ou será por que o governo federal em brasília se torna inalcansável para esses tipos de protestos? ou ainda a falta de informação/educação basica que ainda pega nas camadas mais populares?

    do jeito que está não dá pra continuar.

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  2. As reclamações são sempre as mesmas, com toda a razão. No entanto, se a população se manifestasse ou se mobilizasse mais, com certeza a situação do Brasil estaria muito melhor.

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