quinta-feira, 17 de outubro de 2024

A vida é sagrada

Eu queria mesmo era escrever sobre um mundo em prosa, pintar nuvens cor de rosa nesse céu azul anil. Rimar meus versos tortos sobre as curvas das cadeias de montanhas, mergulhar com minhas frases neste imenso rio caudaloso que segue sereno seu curso em busca do mar. Cruzar palavras sonoras nas estrofes das minhas margens e me deixar plantar meus pés descalços feito sementes nessa terra quente, úmida, útero, mãe.

Porque a vida é sagrada.

Mas disso eles não sabem e nem querem saber. Senhores da Guerra. E nos separam, machucam, queimam, estraçalham, bombardeiam, nos tiram do mapa sem ter um porquê. Transmitem tudo online, on time, full time com cinismo e requintes de crueldade. São terríveis as cenas do fim do mundo nesse filme que eu sequer pedi para ver. Então, escrevo sobre balas traçantes, mísseis carregados de dor, sangue, cinza, chumbo, crianças com corpos mutilados, pais desesperados, pavor por todos os lados, um verdadeiro horror.

Mas a vida é sagrada, eu insisto. 

A vida é sagrada, eu repito. 

É sagrada, eu grito. 

(Ainda ontem ela chorou na mesa do bar e seus olhos inundaram os meus).